De agente de jogadores a empresário de sucesso em África
José Veiga tem negócios em oito países africanos e emprega mais de seis mil pessoas, entre elas 1500 portugueses. Agora quer comprar o Banco Internacional de Cabo Verde
O que é feito de José Veiga? A pergunta tem-se repetido desde 2007, ano em que o empresário de jogadores português deixou o Benfica. O nome do antigo agente de Ronaldo, Quaresma e Figo, entre outros, voltou ontem a ser notícia, por liderar um grupo luso-africano que apresentou uma proposta para a compra do Banco Internacional de Cabo Verde (BICV), um ativo não--estratégico do Novo Banco, avaliado em 14 milhões de euros.
O processo de venda do BICV está a ser conduzido por Stock da Cunha (Novo Banco), que pediu ao Banco de Portugal para se pronunciar sobre a proposta apresentada pelo consórcio de José Veiga, que terá ganho o concurso, e que inclui investidores de países africanos onde o empresário trabalha como consultor, gestor e empresário. A decisão do supervisor é esperada para breve. Até lá o empresário português vai manter o silêncio.
O DN sabe que José Veiga há muito que opera como empresário e consultor em vários países africanos, em particular na chamada África francófona, mas também na América do Sul como consultor. Há já quase uma década que lidera projetos ligados à energia e exploração de recursos naturais, entre outras áreas de negócio, em oito países africanos, mas com especial incidência no Congo.
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Veiga vive desde 2009 na República do Congo, país onde tem residência fiscal desde 2011 e onde passa mais de seis meses por ano. Tem negócios em Cabo Verde, Guiné Equatorial, Benim, Nigéria, Costa do Marfim, Togo e Guiné-Conacri, além do Congo. Emprega cerca de seis mil pessoas, entre as quais cerca de 1500 portugueses (entre contratos diretos e indiretos), em áreas de negócio tão vastas que vão desde a banca (já tem uma participação num outro banco) à saúde ou exploração de recursos naturais, mas também a indústria, energia, distribuição de água e imobiliário.
Atualmente lidera um projeto de construção de 12 hospitais centrais, um por região, e um outro de implementação de seis mil furos de água, ambos no Congo, e com recurso a mão de obra portuguesa. Estes dois projetos são prioritários para o governo congolês, que tenta contrariar os altos índices de mortalidade no país.
O futebol permitiu-lhe fazer muitos contactos a nível internacional desde que saiu do Benfica em 2007, José Veiga passou a ser consultor de clubes europeus, sul-americanos e sul-africanos. Daí aos negócios extrafutebol foi um passo, já que os investidores tinham interesses em áreas empresariais muito para além da compra e venda de passes de jogadores de futebol.
E foi assim que em 2009 voltou a emigrar (tem 53 anos, 35 como emigrante) e chegou à República do Congo, onde começou a construir uma rede de negócios no continente africano, que se tem ramificado e crescido de dia para dia.
De Trás-os-Montes ao Congo
José Veiga nasceu em 1963 em Seixo de Ansiães (Trás-os-Montes), mas a família resolveu emigrar para o Luxemburgo quando ele tinha apenas 6 anos. Foi lá que cresceu, estudou (até ao 12.º ano) e trabalhou como pintor de automóveis até aos 29 anos, ano em que regressou a Portugal. Investiu na aprendizagem de vários idiomas - fala inglês, francês, espanhol, italiano e alemão - que lhe viriam a ser muito úteis quando começou a entrar no futebol.
Foi agente FIFA e dominou o mercado de transferência de jogadores, estando envolvido em alguns dos maiores negócios. Criou a Superfute, com Alexandre Pinto da Costa, filho de Pinto da Costa, e os primeiros grandes negócios foram as transferências de Fernando Couto do FC Porto para o Parma e de Paulo Sousa do Sporting para a Juventus, na década de 1990. Mas nada comparado com a de Luís Figo para o Barcelona e depois para o Real Madrid. Também esteve envolvido na mudança de Zidane (atual técnico do Real Madrid) da Juventus para o clube merengue.
Veiga foi o primeiro agente de Ronaldo e Quaresma, que o viriam a trocar por Jorge Mendes e precipitaram o fim da carreira de agente FIFA. Deixou o negócio dos jogadores em 2004, quando foi convidado para diretor-geral da SAD do Benfica, sendo campeão logo no primeiro ano. Saiu da Luz em 2007, "para não prejudicar o Benfica", depois de alguns problemas com o fisco e de ter sido alvo de arresto de alguns bens, após processo judicial do banco Dexia do Luxemburgo.
Saiu assim do futebol há quase dez anos. E sabe o DN, nem quer ouvir falar do mundo da bola, embora já tenha sido sondado para investir no futebol português, por mais de uma vez.