Dakar2025: 13 equipas portuguesas e Maria Gameiro marca regresso das mulheres
São 13 as equipas portuguesas que se apresentam para a 47.ª edição do Rali Dakar de todo-o-terreno, que decorrerá entre sexta-feira e 17 de janeiro, na Arábia Saudita, mas com ambições de bons resultados em quatro categorias diferentes.
Ao todo, Portugal apresenta uma equipa nos automóveis, três nas motas, sete nos Challenge e duas nos SSV. A estas equipas em competição juntam-se mais dois navegadores e um regresso, o de Paulo Marques, mas na vertente M1000, uma categoria extra-competição para veículos com energias alternativas.
Nos automóveis, apenas João Ferreira, navegado por Filipe Palmeiro, num Mini da X- Raid, participam na categoria principal (Ultimate) e com o desejo de terminar no top-10.
O piloto de 25 anos integra um projeto pioneiro da Repsol, de utilizar um combustível 100% renovável, o mesmo que já lhe possibilitou a conquista dos títulos nacional e europeu de todo-o-terreno e a Taça do Mundo FIA de Bajas.
Nas duas rodas, Rui Gonçalves (Sherco), António Maio (Yamaha) e Bruno Santos (Husqvarna) são pilotos com experiência suficiente para poderem almejar resultados consistentes.
Depois de um ano marcado por uma lesão num ombro sofrida precisamente no Dakar, que obrigou a duas intervenções cirúrgicas e a três meses de pausa, Rui Gonçalves vai para a quinta participação na prova.
"Agora estou totalmente recuperado", sublinha o piloto transmontano, vice-campeão mundial de motocrosse na categoria MX2, em 2009.
Já Bruno Santos enfrenta o Dakar pela segunda vez, depois de uma prestação consistente em 2024. O campeão nacional de todo-o-terreno da classe TT3 em 2023, de 37 anos, natural de Torres Vedras, foi o segundo melhor estreante na edição passada.
Mais experiente é António Maio (Yamaha), que inicia a sua sexta participação, apontando a um lugar nos 15 primeiros classificados.
A estes junta-se, ainda, o luso-germânico Sebastian Buhler (Hero), da estrutura gerida por Joaquim Rodrigues Jr.. Bühler nasceu na Alemanha, mas mudou-se para Portugal ainda em bebé e com quatro anos recebeu a primeira mota, sendo que foi por terras lusas que desenvolveu o gosto pela modalidade, vencendo a Baja de Portalegre de 2018 a 2020.
Também a equipa oficial da Honda é gerida por um português, no caso o algarvio Ruben Faria.
Nos veículos ligeiros competem mais nove equipas portuguesas, sete em Challenge e duas em SSV.
A estes junta-se o navegador português Fausto Mota (corre com licença espanhola), ao lado do italiano Enrico Gaspari (Polaris) e o também navegador Jorge Brandão, que acompanha o espanhol Carlos Vento.
O também navegador Paulo Fiúza vai para a 16.ª participação, mas agora em camiões, com o lituano Vaidotas Zala e Max Van Grol (Iveco) na equipa De Rooy.
Outro regresso é o do veterano Paulo Marques, o primeiro português a ganhar uma etapa nas motas, em 1997. A última aparição do famalicense aconteceu em 2007, no Lisboa-Dakar.
Agora, 18 anos volvidos, regressa na vertente M1000, como navegador do japonês Yoshio Ikemachi num SSV movido a hidrogénio, numa categoria em que os participantes cumprem o mesmo percurso que os restantes, mas em veículos movidos a energia sustentável. São cinco as equipas neste regime.
A participação de Maria Luís Gameiro (X-Raid Fenic) na 47.ª edição do Rali Dakar marca o regresso das mulheres portuguesas à mais mediática prova de todo-o-terreno do mundo 15 anos após Elisabete Jacinto ter competido pela última vez.
João Ferreira aponta a um lugar nos 10 primeiros nos automóveis
O piloto português João Ferreira (Mini) ambiciona terminar a 47.ª edição do Rali Dakar de todo-o-terreno entre os 10 primeiros classificados da categoria de automóveis, na qual se vai estrear este ano.
Campeão nacional e europeu de todo-o-terreno, venceu também a Taça do Mundo FIA (Federação Internacional do Automóvel) de Bajas e, em 2025, vai participar pela terceira vez no Rali Dakar, a primeira na categoria principal dos automóveis, a Ultimate, depois de dois anos com veículos ligeiros.
"O objetivo é acabarmos etapas todos os dias. Cumprirmos com a estratégia, que é chegar ao fim com o mínimo de erros possível e depois ver o lugar em que ficámos. Mas gostaria de um top-10", sublinhou o piloto natural de Leiria, de 25 anos, em declarações à agência Lusa.
Nos dois primeiros anos em que participou na mais mediática prova de todo-o-terreno do mundo, João Ferreira alinhou aos comandos de um veículo ligeiro (SSV).
"Depois de dois Dakar em SSV, que é uma categoria mais acessível, o que facilitou aprendizagem, achámos que seria altura de dar mais um passo. Surgiu a possibilidade de ser piloto oficial da equipa X-Raid, uma proposta que recebemos de braços abertos", explicou o piloto, que assinou um contrato com a estrutura da X-Raid válido até, pelo menos, 2026.
Ao lado de João Ferreira segue o navegador Filipe Palmeiro, que já conta 18 participações no seu currículo, desde que se estreou como navegador, em 2005. O seu melhor resultado foi um oitavo lugar em 2019, com o chileno Boris Garafulic.
Mas a experiência ajuda à ambição de João Ferreira, que diz estar "na melhor forma de sempre".
"A preparação começou mal acabou o rali de 2024. Estou extremamente bem fisicamente, melhor do que nunca. E a equipa já ganhou. O diretor, Sven Qandt, também já ganhou o Dakar, Filipe Palmeiro tem quase 20 participações e o nosso chefe de equipa [Filipe Ferrão] já ganhou três, com o Stephane Peterhansel [duas vezes] e com o Nasser Al-Attiyah [uma]", precisou João Ferreira.
Apesar da mudança de veículo para um com maior desempenho, o piloto leiriense acredita que a participação deste ano será "mais difícil".
"Teremos mais conforto nas ligações. Passamos muitíssimo frio e chuva e um carro fechado será mais confortável. Mas em pista é mais difícil de conduzir, é mais físico e mais difícil nas dunas. Já nas pedras aguenta mais do que o SSV", explicitou João Ferreira.
Apesar do potencial apontado ao piloto leiriense, Ferreira admite que "vencer a categoria ainda é um sonho".
Certo é que, no palmarés, João Ferreira conta já com a vitória em quatro etapas na geral e cinco entre os pilotos que pontuavam para o Campeonato do Mundo.
"No ano passado, estivemos a sete minutos da liderança da prova [na categoria SSV], mas tivemos um problema elétrico que nos fez perder toda a esperança. Por isso, o pensamento este ano é mais conservador", confessa à Lusa.
Apesar de em 2024 ter feito "mais de 20 corridas" ao longo do ano, nos diversos campeonatos, João Ferreira admite que "ainda é difícil viver das corridas a tempo inteiro".
"Só a correr em Portugal é difícil ter apoio para fazer disso vida a tempo inteiro. O meu objetivo é conseguir fazer carreira internacional no Campeonato do Mundo", sublinha, consciente de que uma boa participação no Dakar é meio caminho andado para que isso aconteça.
Maria Luís Gameiro para suceder a Elisabete Jacinto 15 anos depois
A participação de Maria Luís Gameiro (X-Raid Fenic) na 47.ª edição do Rali Dakar marca o regresso das mulheres portuguesas à mais mediática prova de todo-o-terreno do mundo 15 anos após Elisabete Jacinto ter competido pela última vez.
Maria Luís Gameiro, nascida há 46 anos em Vila de Rei (Castelo Branco), compete desde 2022 no Campeonato de Portugal de todo-o-terreno, alinhando, também, no campeonato espanhol desde 2023, com triunfos na Taça das Senhoras nos dois lados da fronteira. Década e meia depois, Maria Luís Albuquerque diz ser "um grande desafio e uma grande responsabilidade" suceder à professora de Geografia.
Para além dessa curiosidade, Maria Luís Gameiro, gestora profissional de empresas no dia-a-dia, decidiu dar um cariz solidário a esta primeira participação no Rali Dakar, oferecendo-se para doar um euro por quilómetro percorrido em especiais da edição deste ano à luta contra o cancro.
"Por isso, o meu objetivo é chegar ao final. E quem quiser pode doar, também, através do site www.mlgameiro.pt. Outro dos meus objetivos é ter um desempenho bom o suficiente para poder regressar no próximo ano na categoria T1+ [a categoria principal, denominada Ultimate, reservada aos automóveis]. Se conseguir, irei doar um euro por cada quilómetro percorrido, seja em especial ou em ligação", frisou à agência Lusa.
A ligação de Maria Luís Albuquerque aos automóveis partiu de uma paixão revelada desde cedo: "O mau pai detestava conduzir e, quando tirei a carta de condução, aos 18 anos, entregou-me logo a tarefa de conduzir o carro da família".
Mas a competição só a descobriu em 2009, por intermédio do marido, José Gameiro, piloto de todo-o-terreno. Ainda experimentou ser navegadora mas o facto de enjoar como passageira tornou a aventura muito curta.
Daí a sentar-se no lugar de condutor foi um passinho, dado na Baja de Portalegre em 2009, porém a crise financeira levou-a a dedicar-se apenas ao mundo empresarial, nas oito empresas de que é gestora.
Apenas em 2022 regressou à competição, vencendo a Taça das Senhoras em Portugal e Espanha em 2023 e 2024, ano em que terminou mesmo o campeonato espanhol na terceira posição da geral.
"Perdi o segundo posto porque não disputei a última prova. Preferi ir ao Rali de Marrocos para ter um primeiro contacto com as dunas, já a pensar no Dakar", frisou.
O sonho do Dakar começou com a disputa do campeonato espanhol.
"Havia muitas pilotos que me diziam para participar no Dakar. Em Portugal, não temos apoios para este tipo de corridas, mas puseram-me o bichinho. Uma equipa internacional fez-me um convite já em janeiro de 2024, mas apenas para um carro com duas rodas motrizes. Sempre corri com quatro rodas motrizes e para uma primeira vez seria complicado. Só que fiquei com o bichinho. A equipa começou a mexer-se junto de alguns patrocinadores e nós prescindimos de algumas corridas para conseguir amealhar para este projeto", explicou.
O facto de ser uma mulher "também despertou algum interesse nos patrocinadores", apesar de não ter conseguido juntar toda a verba necessária.
O orçamento, de cerca de 300 mil euros, teve de ser completado com verbas próprias, daí que a opção passe por um veículo ligeiro (SSV), um X-Raid Fenic, com motor Yamaha, também ele em estreia na prova que se disputa na Arábia Saudita.
Licenciada em Economia, é gestora de empresas, administradora da Motivo, ligada às máquinas pesadas do setor da construção , e, além disso, criou o primeiro centro hiperbárico privado em Portugal.
"Existem as câmaras das Forças Armadas. Eu criei o primeiro centro com câmaras monolugares, que dá para mergulhos, doenças súbitas, cicatrização, recuperação muscular. Esse é o meu bebé, o Centro Hiperbárico de Cascais", conta.
No meio de uma agenda atarefada, o todo-o-terreno é um 'hobby'.
"Nos últimos meses, tive de me preparar muito em termos físicos. Fazia ginásio regularmente. Para o Dakar tive de me preparar de forma diferente, pelo que fui mais piloto do que empresária", admitiu à Lusa.
Ainda assim, considera que a modalidade "é um escape": "Obriga-me a estar focada. Consigo trazer o foco do todo o terreno para as empresas".
A seu lado terá o experiente navegador José Marques, que também já navegou para Elisabete Jacinto.
Promete ser "a mais dura de edição de sempre", segundo a organização.
A 47.ª edição do Rali Dakar de todo-o-terreno, que se realiza na Arábia Saudita, entre sexta-feira e 17 de janeiro, promete ser "a mais dura de sempre", segundo a organização da prova.
Com 7.700 quilómetros de percurso, 5.100 deles serão disputados ao cronómetro, nas 12 especiais previstas, antecedidas por um prólogo.
Ao contrário do que aconteceu na edição passada, a etapa maratona, com mais de mil quilómetros e disputada em dois dias, surge logo no início (segunda tirada), em que os pilotos não terão assistência. O deserto do Quarto Vazio (Empty Quarter), o maior da Arábia, fica reservado para a segunda metade da prova, já depois de uma segunda etapa maratona em que os participantes apenas terão a possibilidade de tratar eles mesmos da mecânica dos veículos.
A corrida arranca em Bisha e termina em Shubaytah, no dia 17, tendo cinco etapas com percursos diferentes para as motas e para os carros.
Pela primeira vez sem a categoria de quads, em 2025 também haverá 'roadboak' (livro do percurso) digital para todos os participantes, reforçando-se a segurança com a duplicidade de pistas.
Para além disso, os veículos estão obrigados a competir com uma bandeira vermelha elevada a dois metros acima do tejadilho, que permite facilitar a identificação da posição no meio das dunas, para evitar acidentes.
Já sem os Audi elétricos em prova para defender a coroa conquistada pelo espanhol Carlos Sainz em 2024, também o francês Stephane Peterhansel marca o fim de uma era, ao falhar a prova pela primeira vez em 35 anos. Conhecido por 'senhor Dakar', o gaulês conta com 14 triunfos entre motas (seis) e carros (oito).
Sainz, que já conta com quatro triunfos na prova, juntou-se à Ford, tal como o compatriota Nani Roma, recuperado de doença, e o sueco Mathias Ekstrom.
O qatari Nasser Al-Attiyah, campeão mundial em título, mudou-se para a Dacia, juntamente com o francês Sébastien Loeb, que procura confirmar no todo-o-terreno os créditos conseguidos com nove títulos mundiais de ralis (de 2004 a 2012).
A Toyota aposta no brasileiro Lucas Moraes, no norte-americano Seth Quintero, que brilhou anteriormente nos SSV, e no saudita Yazeed Al-Rajhi.
Para os automóveis mudou-se, também, o australiano Toby Price, que já chegou a vencer a prova nas motas.
O português João Ferreira (Mini) tentará um 'lugar ao sol' na estreia na categoria rainha.
Nas duas rodas, o campeão mundial Ross Branch procura dar à Hero a primeira vitória no Dakar, que agora tem como diretor dsportivo o português Joaquim Rodrigues Jr.
Mas a concorrência da Honda, equipa gerida por outro português, o algarvio Ruben Faria, será grande, pois vem de duas vitórias consecutivas. O chileno Pablo Quintanilla, o norte-americano Ricky Brabec, vencedor em 2024, e o compatriota Skyler Howes, compõe a armada da Honda.
Já o chileno José Ignacio Cornejo substituiu Quim Rodrigues na Hero, juntando-se ao luso-germânico Sebastian Bühler.
A KTM, a braços com uma grave crise financeira, recrutou o australiano Daniel Sanders e o prodígio espanhol Edgar Canet, de apenas 19 anos.