Como o peixe miúdo do futebol conseguiu juntar-se aos grandes e chegar ao Mundial
Eles são em grande parte o peixe miúdo no mundo do futebol, que têm muito menos pessoas e muito menos dinheiro do que os países que tiveram de vencer para chegar ao Campeonato do Mundo. E, no entanto, lá estão eles, no maior palco do futebol, preparando-se para enfrentar os gigantes do desporto. Saiba como estas seleções superaram os países maiores para lá chegar.
Islândia
Com uma população de 330 mil habitantes, a Islândia pode ser pequena, mas é grande em confiança, motivada pela memória de uma participação nos quartos-de-final no Campeonato da Europa de 2016 e de vitórias em sete dos dez jogos das eliminatórias do Campeonato do Mundo - e o Mundial não podia ter começado melhor, com um empate (1-1) diante da poderosa Argentina.
Os adeptos do futebol dizem que o sucesso dos Strakarnir Okkar, ou os "Nossos Rapazes", como a equipa é conhecida, é em grande parte resultado de uma decisão tomada no início dos anos 2000 para tentar transformar a maior fraqueza do país, o seu tamanho, na sua força.
Dagur Sveinn Dagbjartsson, coordenador da formação de treinadores, disse que a federação de futebol do país percebeu que, com tão poucos jogadores, precisava de garantir que nenhum deles escapava. A associação decidiu que a melhor maneira de fazer isso era dar a cada jogador a melhor formação possível desde a mais tenra idade, certificando-se de que tivesse o maior número possível de treinadores disponíveis para si.
Hoje, a Islândia tem cerca de 700 treinadores no ativo com as suas duas principais licenças de treino profissional, que exigem centenas de horas de formação. Isso representa aproximadamente um treinador de elite para cada cem crianças com menos de 14 anos. E cada técnico com quem as crianças trabalham desde os 5 anos é um profissional que recebe, pelo menos, um salário a tempo parcial.
"Percebemos que temos de trabalhar como profissionais a partir das bases", disse Dagbjartsson.
Além disso, a Associação de Futebol da Islândia mudou a hierarquia de treinadores, alguns dos seus melhores técnicos trabalham com os jogadores mais jovens para apoiar a filosofia de que se uma criança não tiver um treinador de qualidade desde cedo, não estará preparada para atingir o seu potencial nos seus anos de adolescente e adulto. "Toda a gente recebe o mesmo serviço", explicou Dagbjartsson.
Panamá
O Panamá (estreou-se ontem no Mundial com uma derrota diante da Bélgica, por 3-0), que tem apenas quatro milhões de habitantes, pouca história de sucesso no futebol e uma liga profissional de dez equipas que atuam principalmente em estádios pequenos e em decadência, decidiu que a jogada mais inteligente seria usar as suas pobres instalações para convencer os melhores jogadores a jogar no exterior e na melhor liga possível.
Na Major League Soccer [Liga norte-americana de futebol], o Panamá encontrou um cúmplice disposto a ajudar. A MLS é uma liga profissional com estádios e instalações de treino muito superiores e com necessidade de preencher as suas equipas com talentos acessíveis. As equipas da MLS têm folhas de pagamento menores do que um único jogador de primeira linha na Europa ganha numa época.
"Queremos os melhores jogadores que pudermos obter com os recursos que temos", disse Todd Durbin, vice-presidente executivo da liga para a competição e para as relações com jogadores. "Isso começa no nosso próprio país e no nosso próprio quintal."
Assim começou no Panamá uma migração para norte que, essencialmente, deixou a MLS encarregada de treinar o núcleo da equipa nacional do Panamá. O defesa Fidel Escobar, de 23 anos, jogou em Portugal (Sporting B) antes de aterrar nos NY Red Bulls no ano passado. Ele era ainda um adolescente quando treinadores e jogadores da equipa nacional lhe disseram para deixar o país e jogar na melhor competição possível. "Não tive sequer escolha", disse Escobar sobre a sua decisão de deixar o Panamá.
Costa Rica
Os Ticos perderam todos os seus três jogos no Campeonato do Mundo de 2006 (na Rússia estrearam-se com uma derrota por 1-0 com a Sérvia) e não se qualificaram em 2010, mas chegaram aos quartos-de-final em 2014. A equipa não precisou de análises avançadas para descobrir o porquê. A Costa Rica é geralmente fraca a marcar golos, pouco vai além de um por jogo. Mas, em vez de tentar tornar-se a Alemanha ou construir um ataque em torno de um atacante mediano, decidiu tornar-se muito boa em tudo o resto, especialmente na defesa. Foi assim que os Ticos derrotaram o Uruguai, a Grécia e a Itália e empataram com a Inglaterra no Campeonato do Mundo de 2014.
"Nós fazemos um bom trabalho em transformar uma equipa com muitas capacidades individuais num coletivo", disse Rodney Wallace, um médio que joga nos New York City FC. "Temos os jogadores certos para fechar uma equipa pelas costas."
O facto de Keylor Navas, guarda-redes da Costa Rica e do Real Madrid, estar entre os melhores do mundo ajuda. Também ajuda que os Ticos estejam dispostos a jogar 270 minutos de um futebol muito chato, com cinco defesas espalhados pela linha de fundo. Os Ticos amontoam-se na área em frente a Navas, que é a parte mais perigosa do campo e onde o maior número de golos é marcado.