Cheerleading é desporto? Sim e reconhecido pelo COI

Não são só raparigas com pompons a apoiar equipas: é mesmo uma modalidade em expansão, com campeonatos mundiais

É um fenómeno em crescimento, com "grande atratividade para os jovens", competições de nível mundial e expansão por mais de 100 federações dos cinco continentes. Sim, cheerleading não é algo tão simples como raparigas com pompons em cânticos, coreografias e piruetas de apoio a equipas desportivas: é mesmo um desporto (ainda sem expressão nacional ou tradução aceitável para português), que foi reconhecido este mês pelo Comité Olímpico Internacional (COI), ficando até na calha para, no futuro, poder fazer parte do programa dos Jogos Olímpicos.

A "grande atratividade para os jovens" foi precisamente a principal razão apresentada por Kitt McConnell, diretor de desportos do COI, para explicar a aceitação provisória do cheerleading como modalidade reconhecida pela organismo - na mesma ocasião, foi acolhido também o muay thai, arte marcial originária da Tailândia. Esse anúncio serviu, antes de mais, para o mundo conhecer o cenário competitivo das (e dos) cheerleaders.

Sim, trata-se de mais uma tradição dos EUA que - à boleia da american way of life vendida por livros, filmes e séries de televisão made in USA - rapidamente se disseminou pelo mundo. Mas já vai muito para lá do que era nas origens, em meados do séculos XIX, quando estudantes se juntavam a ver as equipas de futebol americano das suas universidades ou escolas secundárias, entoando cânticos de apoio.

O passar do tempo trouxe coreografias cada vez mais elaboradas e os icónicos pompons (patenteados por Lawrence R. Herkimer, em 1948, após anos como cheerleader da Universidade Metodista do Sul, em Dallas). A participação nunca foi exclusiva de raparigas - até antigos presidentes dos EUA, como Franklin D. Roosevelt (Harvard), Dwight D. Eisenhower (no Exército), Ronald Reagan (Eureka College) e George W. Bush (Andover e Yale), fizeram parte destas claques durante o percurso estudantil. No entanto, o fenómeno foi-se tornando cada vez mais feminino... até virar uma competição, para ambos os sexos.

Agora, os grupos que incentivam as equipas e entretêm os espectadores nos intervalos dos jogos de basquetebol e futebol americano são apenas uma parte da história. A outra é a das competições que se organizam, desde os anos 80, nos EUA (sendo objeto de regulares transmissões televisivas): as equipas de cheerleading fazem a sua atuação e são avaliadas em sete categorias, por um júri, como se de uma competição de ginástica se tratasse.

Europeus e asiáticos já ganham

Com a expansão pelo globo foi criada, em 2004, a Internacional Cheer Union (ICU), organização que reúne já 110 federações nacionais (Portugal não incluído) e realiza anualmente os Campeonatos do Mundo de cheerleading. Lá têm surgido provas de que este já não é um desporto exclusivamente norte-americano. "Quando começámos com os campeonatos mundiais havia uma grande diferença para os EUA e o Canadá mas agora já há muita paridade, com os paises da Europa e da Ásia a ganharem medalhas e, às vezes, a baterem os estado-unidenses e canadianos", explica o presidente da ICU, Jeff Webb, citado pela Reuters. "Tailândia, Japão, Noruega, Finlândia, Alemanha ou Reino Unido têm tido um desenvolvimento excecional. O cheerleading está a expandir-se por todo o lado", descreve o dirigente.

O reconhecimento provisório por parte do COI pode acelerar essa expansão. A ICU passa a receber apoio do Comité Olímpico Internacional. E dentro de três anos pode solicitar o estatuto de membro permanente, necessário para candidatar-se a fazer parte do programa dos Jogos Olímpicos. Essa é a parte mais difícil: surf, skate, karaté e escalada levaram décadas para garantir o direito a estrear-se em Tóquio 2010, edição que também marcará o regresso de basebol/softbol. Jeff Webb garante que não quer "fazer inimigos" entre as outras modalidades, só quer expandir a sua. "Este é um marco monumental que nos permitirá fazê-lo. É o culminar do trabaho de uma vida", conclui.

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