Chapecoense. A reconstrução do clube mais amado do mundo
28 de novembro de 2016. Esta era a data do início de um sonho para a Chapecoense, que iria disputar a primeira mão da Taça Sul-Americana, diante do Atlético Nacional, na Colômbia. O voo 2933 da LaMia, contudo, não chegou ao destino. 71 pessoas morreram na queda do avião, sobrevivendo apenas seis, três deles futebolistas do clube brasileiro. Esse dia, contudo, marcou também o início da reconstrução da nova Chapecoense, pois ninguém quis baixar os braços.
Ivan Tozzo, o então vice-presidente, foi quem tomou as rédeas do clube, após a morte do presidente Sandro Pallaoro, e poucos dias após a tragédia colocou mãos à obra. Muitos clubes ofereceram ajuda, conceituados jogadores revelaram também vontade de jogar na Chapecoense, mas Ivan Tozzo não queria um clube reconstruído à base de solidariedade.
Em pouco menos de 15 dias já tinha a estrutura do futebol montada. Contratou um diretor desportivo - Rui Costa (que tinha feito carreira no Grémio de Porto Alegre)-, nomeou o ex-jogador Nivaldo para diretor-geral e contratou Vágner Mancini para treinador, considerando que este era "à imagem de Caio Júnior", o treinador que faleceu no desastre aéreo.
A estrutura estava montada, faltavam os jogadores para montar o plantel. Do desastre aéreo sobreviveram três futebolistas, o guarda--redes Follmann e os defesas Neto e Ruschel. Os dois últimos ainda estão em fase de recuperação, ao passo que o guardião viu parte da perna esquerda amputada. Todos, por isso, estavam descartados para a nova temporada.
Em Chapecó tinham ficado Moisés Santos, Andrei Alba, Martinuccio e Neném. Ou seja, na prática, sem contar com jogadores das camadas jovens, o clube tinha apenas quatro futebolistas no plantel principal. Muito se especulou sobre se a Chapecoense teria capacidade para montar uma equipa e inscrevê-la no Brasileirão e no campeonato estadual, dado que não queria ficar refém de favores. "Ficamos satisfeitos por tudo aquilo que os clubes têm feito, revelando vontade de emprestar jogadores, mas não queremos isso, queremos reerguer-nos sozinhos", disse na altura Ivan Tozzo.
E foi isso mesmo que acabou por acontecer, mesmo contra algumas expectativas. No início do ano o grupo estava montado, com um total de 37 jogadores, 24 deles reforços, juntando-se aos quatro que faziam parte do plantel da época passada e aos nove que subiram das camadas jovens.
Contratar barato e bem
Donativos, jogos solidários, tudo tem servido para o clube conseguir o dinheiro suficiente para pensar nesta nova temporada. Tudo isso, contudo, é pouco levando em conta os muitos milhares que foram necessários para contratar 24 jogadores. Por isso o lema da direção da Chapecoense é "contratar barato e bem".
"Precisamos de ter um orçamento maior neste ano, pois não é fácil contratar 24 jogadores tendo de pagar comissões, antecipar verbas, ajudar nas casas dos jogadores. É um orçamento mais alto, mas também tudo muito controlado. Tivemos de contratar barato e bem", disse o diretor desportivo, Rui Costa.
De facto, o orçamento subiu em comparação com o ano passado. Em 2016 rondava o milhão de euros e nesta época subiu para 1,5. Os salários, contudo, mudaram um pouco, são mais reduzidos, com o jogador mais bem pago a receber no máximo 30 mil euros por mês.
Com base em tudo o que aconteceu, se calhar tornava-se mais fácil para a Chapecoense pedir ajuda aos bancos com base em empréstimo. Esta nova direção, contudo, quis manter o clube como um dos poucos sem dívidas no Brasil. "O trabalho que estava a ser feito antes era exemplar, não podemos manchar o clube após o que aconteceu", referiu Maninho, o novo presidente, que venceu as eleições de dezembro de 2016.
90 futebolistas analisados
Após a queda do avião foram muito os clubes que se revelaram dispostos a emprestar jogadores à Chapecoense. Muitas dessas promessas, contudo, não se efetivaram. De facto, dos 24 reforços apenas sete estão em Chapecó por empréstimo. Os restantes chegaram fruto do trabalho do departamento de futebol que analisou mais de 90 jogadores neste período.
"Não há nenhum jogador no plantel empurrado de outro clube. Todos foram escolhidos a dedo por nós. Não tem ninguém dispensado ou preterido. Eles foram selecionados para participar no maior projeto de futebol do mundo", disse o diretor desportivo Rui Costa antes do primeiro jogo da Chapecoense após a tragédia, com o Palmeiras, no início do ano.
Valorizar a marca com títulos
Apesar de não ter disputado a final da Taça Sul-Americana, a Conmebol acabou por atribuir o troféu à Chapecoense. Por isso um dos troféus que o clube irá disputar neste ano será a Supertaça daquela confederação. E o desejo de títulos é grande, sobretudo para promover ainda mais a marca Chapecoense.
"Esperamos títulos já neste ano. Ganhar a Libertadores é improvável, mas queremos fazer uma campanha digna, também na Supertaça, e no Brasileirão queremos pensar mais longe, mais do que pensar apenas na manutenção. Aliás, nenhum jogador irá receber mais prémios se conseguirmos a manutenção. A Chapecoense é o clube mais amado do mundo e por isso temos de começar a pensar em grande, em títulos", salientou o diretor Rui Costa.