A seleção nacional de futebol feminino começa no sábado a segunda participação na fase final de uma grande competição, no caso o Campeonato da Europa de 2022, que se inicia esta quarta-feira em Inglaterra, repetindo a presença de 2017, nos Países Baixos. A poucos dias do pontapé de saída, Carla Couto, eleita pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) como a melhor futebolista do século, fala sobre a evolução do futebol feminino e garante que tem "as melhores expectativas possíveis" para a participação no Europeu, cujo primeiro jogo é com a Suíça (sábado às 17.00 horas) e tem depois mais dois encontros da fase de grupos com os Países Baixos (quarta-feira, às 20.00) e Suécia (dia 17, às 17.00).."As minhas expectativas só podem ser boas tendo em conta o crescimento que as nossas jogadoras têm registado, até porque existe um número cada vez maior de profissionais. Temos muita qualidade no grupo e por isso legítimas aspirações a fazer um bom Europeu. Tenho a certeza de que vamos entrar em todos os jogos para ganhar", assumiu aquela que é, ainda hoje, a recordista de internacionalizações pela equipa das quinas, com 145 jogos..A embaixadora do Sindicato de Jogadores Profissionais para o futebol feminino sublinha que "todas as equipas impõem respeito, pois se estão presentes no Campeonato da Europa têm certamente muito valor". No entanto, defende que, em termos teóricos, "o maior perigo virá dos Países Baixos, campeã europeia em título, sendo a Suíça aparentemente um pouco mais acessível". Nesse sentido, antevê que "as jogadoras estejam mais nervosas no jogo de estreia" com as suíças. "Não nos podemos esquecer de que será apenas o segundo Europeu de Portugal, mas elas têm de acreditar nas suas qualidades, que são muitas", frisou..Uma participação positiva será, para Carla Couto, passar a fase de grupos, acedendo aos quartos-de-final, objetivo que não foi concretizado em 2017. "Acredito que é possível. Mas, acima de tudo, espero que elas desfrutem ao máximo e que se divirtam, pois irão viver um momento ímpar na carreira", disse, lembrando que ela própria nunca teve a oportunidade de viver uma situação idêntica, pois abandonou os relvados em 2014, três anos antes da única presença portuguesa numa fase final..Desafiada a apostar numa jogadora portuguesa para ser figura neste Europeu, defendeu que "a seleção nacional tem excelentes individualidades" e que "a equipa vale pelo seu todo"..Está bem à vista o grande crescimento do futebol feminino em Portugal nos últimos anos. De acordo com dados revelados pela FPF, a última edição da Liga BPI - o principal escalão - contou com 120 profissionais e existem 8083 jogadoras federadas, um aumento de quase 6 mil nos últimos 10 anos. E o recorde de assistência num jogo oficial em Portugal foi batido em há pouco mais de um mês, com 14 221 pessoas nas bancadas do Estádio da Luz a verem o dérbi entre Benfica e Sporting, que decidiu o título a favor das encarnadas. "A que se deve este sucesso? Em primeiro lugar à aposta muito grande que tem sido feita pelos clubes, destacando-se o aparecimento dos ditos grandes, que trouxeram a profissionalização. Não nos podemos esquecer do papel da FPF, com a criação das seleções nacionais jovens, permitindo o crescimento das nossas jogadoras desde os escalões de formação até à seleção A, à semelhança do que há muito sucedia nos masculinos", defende Carla Couto..A ex-futebolista sublinha ainda " a ambição e força de vontade das jogadoras, ao aperceberem-se de que é possível crescer no futebol feminino português, ao contrário do que sucedia até há bem pouco tempo", dando como exemplo o facto de já haver futebolistas profissionais no segundo escalão. "No meu tempo, olhávamos para o banco dos suplentes e, para além das jogadoras, só havia um médico. Hoje há analistas, fisiologistas, fisioterapeutas... e a verdade é que todos eles são necessários para que se consiga atingir um patamar de excelência", realça..Notícias recentes deram conta de que as federações de futebol norte-americana, espanhola e holandesa passaram a oferecer remunerações e prémios idênticos nas seleções femininas e masculinas para acabar com a desigualdade. Carla Couto pensa que o mesmo acontecerá a médio/longo prazo em Portugal e não só a nível de seleções. "Acredito que chegará o dia em que homens e mulheres terão o mesmo salário no futebol português. Estamos a melhorar de ano para ano e vamos continuar a tentar encurtar a diferença que existe", afirma..Ainda assim, entende que em Portugal ainda não desapareceu totalmente o estigma de uma rapariga jogar futebol. "Infelizmente esse estigma ainda não está totalmente ultrapassado, mas sem dúvida que se têm registado melhorias", diz.."Hoje em dia já vemos muitos pais levarem as meninas aos treinos. Antigamente, as meninas jogavam com os meninos e muitas vezes acabavam por desistir, mas agora como jogam umas com as outras acaba por ser muito mais motivador", diz, lembrando que a ideia de promover um estilo de vida saudável "é contraproducente" que depois "seja castrado quem quer fazer do desporto o seu modo de vida". "Uma rapariga não é menos feminina por jogar futebol", adverte..Carla Couto tem noção de que ainda existe um longo caminho a percorrer. "Se pensarmos que estamos a fazer tudo bem, haverá uma estagnação. Aliás, basta olharmos para o futebol masculino e percebemos que nem tudo é bem feito, pois confrontamo-nos diariamente com coisas muito feias, de que nem vale a pena falar", atira, defendendo que "é necessário prosseguir o caminho com passos seguros, olhando para as coisas boas que têm sido feitas, mas também aprendendo com as menos boas". Afinal, finaliza, "ainda há uma margem muito grande para evoluir no cariz social e desportivo"..dnot@dn.pt