Atletas olímpicos à procura de nova paixão para o pós-alta competição
E depois do adeus? É esta a pergunta que muitos atletas de alta competição fazem depois de terminarem as suas carreiras desportivas. Alguns sentem-se perdidos, com uma sensação de vazio, que já originou casos de depressão, bancarrota e até suicídio. É como forma de evitar situações extremas que a Comissão de Atletas Olímpicos, presidida pela ex--marchadora Susana Feitor, promove um workshop, na sede do Comité Olímpico de Portugal, integrado no programa do Athlete Career Programme do Comité Olímpico Internacional.
No fundo esta é uma oportunidade para preparar os atletas ainda no ativo para aquilo que serão as suas vidas no pós-alta competição. "Aos 30 ou 40 anos é complicado entrar no mercado de trabalho e procuramos que os atletas tenham um planeamento de carreira para que possam preparar a transição com tempo, aproveitando as competências que têm para o mercado de trabalho", explicou Susana Feitor ao DN, orgulhosa por ter a presença de 22 atletas no ativo, a grande maioria com o sonho olímpico já realizado. "Temos aqui um grupo valente", atirou, acrescentando que este work-shop serve também de alerta, pois "quando termina uma carreira desportiva há muitos anos para outra carreira, para a qual é preciso a mesma paixão".
Nuno Laurentino, antigo nadador olímpico, abriu a sessão para mostrar que há vida para além da alta competição. Formado em Educação Física, faz hoje parte da secretaria de Estado da Juventude e Desporto, tendo participado numa ação deste género em 2006. É, por isso, uma espécie de "pioneiro", conforme lhe chama Susana Feitor. E com bons resultados. "Sempre procurei conciliar a parte desportiva com a académica, mas a natação não me permitiu, por exemplo, entrar no concurso de professores", explicou Laurentino, que deixou um conselho para os atuais atletas: "Quanto melhor acautelarem o fim das suas carreiras desportivas, mais fácil é seguir uma nova carreira... Deixar de competir é muitas vezes um drama, mas é importante não estar à beira do precipício e é preciso preencher o vazio que se cria."
O auditório comandante Vicente de Moura não estava cheio, mas lá dentro estavam nomes importantes do desporto, conscientes de que tudo tem um fim. Os velejadores Álvaro Marinho, Francisco Andrade, Nuno Barreto; os judocas João Pina, Nuno Saraiva, Joana Ramos, Sergiu Oleinic; as ginastas Filipa Cavalieri e Ana Rente; a nadadora Diana Gomes; e os triatletas João Pereira e Miguel Arraiolos ouviram com atenção os horizontes que podem abrir-se-lhes em breve.
Aos 28 anos, Miguel Arraiolos reconhece que está "na segunda metade da carreira" de atleta de alta competição. "Não estou preocupado porque estou a concluir o curso de desporto", diz, admitindo que se sente "estável" e, como tal, "não assusta" o adeus à competição. "Ainda não sei o que vou fazer a seguir, apenas sei que não quero acabar de repente. Quando terminar a carreira internacional, quero manter-me a competir a nível interno até abandonar. Depois irei encontrar algo que seja do meu interesse, de preferência no desporto."
Arraiolos está consciente de que "é assustador não saber o que fazer". Uma sensação que afetou já vários desportistas e que está a mobilizar os ex-atletas olímpicos para que no futuro seja, afinal, possível encontrar uma nova paixão.