Freeman, a surpresa que passou mensagem de união e inclusão
Cerimónia de abertura do Mundial passou ao lado de muitos temas polémicos que têm marcado a prova, e o grande protagonista foi o ator que fez de Nelson Mandela no cinema. No jogo inaugural, o Equador venceu os anfitriões com um bis de Valencia.
Como prometido pelo diretor artístico italiano Marco Balish, a cerimónia de abertura do Mundial2022, realizada neste domingo antes do jogo que abriu a competição, entre o Qatar e o Equador, foi espectacular em termos visuais e passou uma mensagem de inclusão e união, com o propósito de tentar responder às críticas de que a prova tem sido alvo, desde as mais de 6500 vidas perdidas na construção dos estádios, desrespeito pelos direitos humanos, perseguições à comunidade LGBTQI+ e a corrupção envolvida na escolha do país para organizar a prova. Temas sensíveis que acabaram por ser esquecidos nos discursos e coreografias.
Relacionados
A grande surpresa da cerimónia foi a presença do ator norte-americano Morgan Freeman. Uma escolha que não foi por acaso, dado que, além de reconhecido mundialmente pelas suas interpretações, é também um ativista social (ligado a várias causas pelo clima) e, ironia das ironias, há uns anos protagonizou no cinema o papel de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul e Prémio Nobel da Paz em 1993, pela sua luta contra o regime de segregação racial, no filme Invictus.
O ator, que no início da cerimónia protagonizou um diálogo de apelo à inclusão com Ghanim al Muftah, um conhecido ativista do Qatar que sofre de síndrome de regressão caudal, lembrou que "o futebol une as nações e junta o mundo", num discurso onde apelou à tolerância, paz, inclusão e união dos povos: "Com tolerância e respeito podemos viver em harmonia juntos." "Sou bem-vindo?", perguntou a dada altura Al Muftah. Freeman respondeu: "Todos são bem-vindos. Este é um convite para todo o mundo."
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Após a projeção de imagens que tentaram mostrar que o pequeno país que acolhe a 22.ª edição do Mundial tem tradição na modalidade, o conhecido ator norte-americano afirmou: "Todos nós temos uma história de futebol, e esta terra tem uma história muito própria".
Depois de várias recusas de artistas de renome internacional (Shakira, Rod Stewart, entre outros) em participar na cerimónia, a animação musical do espetáculo de cor e luz ficou a cargo de Fahad Al Kubaisi, um cantor e ativista dos direitos humanos no Qatar.
Emir lembra diversidade
A presença do ator como mestre de cerimónias espoletou várias críticas, sobretudo nas redes sociais, com várias pessoas a lembrarem a coincidência de estar presente no Qatar precisamente no Dia da Consciencia Negra, num país conhecido por violar vários direitos humanos.
Outro dos discursos foi protagonizado por Tamim bin Hamad al-Tani, o emir do Qatar, onde mais uma vez foi passada uma mensagem de inclusão e união, mas esquecidos vários temas polémicos. "Pessoas de diferentes raças, nacionalidades e orientações são todas bem-vindas ao Qatar, para viver estes momentos excitantes. Que bonito é ter as pessoas juntas e não dividas por forma a celebrar a diversidade", afirmou no discurso que marcou o encerramento da cerimónia, num estádio quase sem a presença de mulheres, e com o presidente da FIFA, Gianni Infantino, sentado do seu lado esquerdo.
Depois de em setembro ter prometido perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas um Mundial "sem discriminações", o Emir afirmou que "chegou o dia mais esperado" e acrescentou: "A partir de hoje e durante 28 dias vamos mostrar ao mundo a união em torno do futebol".
No estádio Al Bayt, em Al Khor, houve ainda uma homenagem aos voluntários do Mundial mais controverso da história. Fora da cerimónia, que durou cerca de 30 minutos, ficaram as polémicas que têm motivado as críticas de várias organizações governamentais e mesmo de alguns dos intervenientes no evento, casos da corrupção, a exploração laboral e o desrespeito pelos direitos das pessoas LGBTQIA+.
Equador vence anfitriões
Às 16.00 deu-se o pontapé de saída do Mundial, entre o anfitrião Qatar e o Equador, em jogo relativo ao Grupo A, com a presença em campo de um português: Pedro Correia, conhecido como Ró-Ró (filho de caboverdianos nascido em Portugal).
Os sul-americanos venceram por 2-0, com golos marcados ainda na primeira parte, ambos da autoria de Enner Valencia (viu outro anulado por fora de jogo), avançado treinado por Jorge Jesus no Fenerbahçe, que além de ter feito história por ser o primeiro a marcar neste Mundial, tornou-se também no melhor goleador do seu país em Campeonatos do Mundo (quatro golos), ultrpassando o compatriota Delgado (3).
O primeiro golo deste Mundial foi apontado de penálti, o que aconteceu pela terceira vez na história da competição, depois de Neymar em 2014 e Cheryshev em 2018. E foi a primeira vez em Campeonatos do Mundo que a seleção anfitriã da prova perdeu no jogo de abertura.