Após o furacão Vieira, Bruno Lage quer blindar balneário das “politiquices”
Se fosse fácil não era para Bruno Lage. O novo treinador do Benfica estreia-se esta noite diante do Santa Clara (20.30, BTV), no Estádio da Luz, numa altura em que o universo benfiquista foi abalado por um autêntico furacão causado por uma polémica entrevista de Luís Filipe Vieira à CMTV, na qual o ex-presidente responsabilizou o sucessor Rui Costa por aquilo que disse ser uma crise financeira e desportiva que o clube atravessa.
Roger Schmidt deu lugar a Bruno Lage que, após uma pausa no campeonato para os jogos das seleções, agora se (re)estreia, quatro anos depois de ter deixado a Luz. “Eu sei que este ano vai ser difícil, principalmente pelo que se passa fora do centro de estágio, por causa das eleições. Mas isso são politiquices que não me interessam. Sou o treinador, tenho de blindar o grupo dessas situações para os fazer crescer como equipa”, defendeu o treinador que levou o Benfica ao título na época 2018-19.
Na entrevista de quinta-feira, Vieira disse que “de certeza que Bruno Lage não foi a primeira escolha de Rui Costa” para substituir Schmidt e que o técnico “não gosta de ser chamado a atenção”, mas Lage não se mostrou afetado com essas declarações e respondeu que ficou “feliz” pelo ex-presidente “ter reconhecido que em 2019 tinha um bom treinador, que fazia treinos intensos”.
E aproveitou ainda para defender Rui Costa, que no entender de Vieira terá um comportamento pouco profissional por tratar por “mano” o diretor desportivo Rui Pedro Braz. “Cheguei a esta casa há 20 anos. Creio que foi em 2008-09 que fui campeão de iniciados, o diretor da formação era Rui Costa. Em 2018-19, fui campeão nacional pela equipa principal com o diretor desportivo Rui Costa. Neste momento a única coisa que mudou é que o trato por presidente”, atirou.
A entrevista de Luís Filipe Vieira provocou ainda mais instabilidade neste início de época do Benfica, abalado pelos maus resultados e fracas exibições da equipa, bem como o relatório e contas da SAD que apresentou um prejuízo de 31,4 milhões de euros no exercício 2023/24.
A mais de um ano das próximas eleições encarnadas (previstas para outubro de 2025), Rui Costa ficou a conhecer um potencial rival na corrida à presidência: João Diogo Manteigas, um crítico da gestão do atual líder, que apresentou-se oficialmente como candidato. “Esta candidatura não depende de quaisquer interesses e poderes instalados. O Benfica tem que ser bem liderado para poder liderar e só todos juntos conseguiremos construir um futuro vencedor! Mais tarde, ficarão a conhecer a equipa que me irá acompanhar”, disse o conhecido advogado de 36 anos, que disse “não depender de poderes instalados” e pediu aos atuais dirigentes para que não façam da sua lista oposição: “É uma oportunidade para fazer crescer o Benfica.”
O papel de Kökçü e Aursnes
No meio de tanta turbulência, o jogo com o Santa Clara assume ainda mais importância, pois um eventual mau resultado adensará ainda mais os problemas.
Bruno Lage mostrou-se consciente de que tem de correr atrás dos pontos perdidos por Roger Schmidt e precisa de toda ajuda possível do plantel. Mas, do tempo em que o técnico foi campeão nacional resta apenas Florentino e por isso na primeira semana de trabalho, dedicou-se a conhecer os jogadores. “As impressões foram boas. Senti que a equipa está junta, unida e com uma vontade de oferecer vitórias aos nossos adeptos”, disse o treinador de 48 anos, não revelando se irá estrear o reforço Kerem Aktürkoglu e confirmando a lesão de Renato Sanches.
Consciente de que precisa reconquistar as bancadas - depois de ser campeão, saiu pela porta pequena e muito criticado -, o treinador quer vencer o jogo da 5.ª jornada da I Liga, frente a um adversário que teve um início muito bom, com três vitórias: “Espero um jogo dinâmico ofensivo, a criar muitas oportunidades, foi isso que trabalhámos nesses dois dias.”
O onze e o sistema em que irá jogar ficou em segredo, mas revelou o posicionamento de Kökçü, que “tem de ser um médio de ligação” e também “um homem para chegar mais perto das zonas de finalização”. Os planos que tem para o polivalente Aursnes, utilizado em múltiplas posições por Schmidt, ainda carece de um teste: “É um jogador muito inteligente, para ele é fácil jogar em várias posições. Tenho uma ideia, mas primeiro tenho de testá-la.”
Roger Schmidt somou apenas sete pontos nas primeiras quatro jornadas, que deixam o Benfica em 7.º lugar no início de uma nova era Bruno Lage.
isaura.almeida@dn.pt