Desporto
02 fevereiro 2023 às 19h56

Rui Costa: "Enzo mostrou não ter compromisso e não podia ficar no Benfica"

"Não chega bater no peito quando interessa", disse Rui Costa ao explicar todo o processo de saída do argentino, que não aceitou assinar pelo Chelsea mas só sair no verão.

Rui Costa, presidente do Benfica, explicou esta quinta-feira, em entrevista à BTV, todo o processo de transferência de Enzo Fernández para o Chelsea e, visivelmente desiludido com o atleta, disse que o médio argentino "não demonstrou compromisso para jogar no Benfica".

"O Enzo foi intransigente, insistimos para ficar, mas ele nunca mostrou abertura para ficar. Criámos a solução de ele ficar até final do ano sem perder um tostão", disse, explicando todo o processo: "Propus ao Chelsea que o comprassem já, mas só o levassem no verão, reduzindo assim o valor da transferência. No entanto, mesmo assim, o jogador recusou continuar no Benfica. Uma coisa é respeitar que jogador não quer perder dinheiro. Contudo, depois de lhe propor que não perdesse um tostão e ele não aceita, mudei a minha opinião, afinal ele mostrou não ter qualquer compromisso com o clube e não poderia jogar mais no Benfica."

Rui Costa não escondeu a mágoa e assumiu a decisão de rotura com Enzo Fernández: "Como adepto não queria mais este jogador no clube, que não poderia voltar a entrar balneário, ainda que como gestor até pudesse ser interessante mantê-lo."

O presidente do Benfica recordou depois a atitude de Enzo após marcar ao Varzim, em que bateu no peito e disse que ficava: "Não é bater no peito quando interessa, isso qualquer um pode fazer. Não estava comprometido com o clube. E nós metemos a cabeça por ele, contratando-o em agosto sabendo que poderia só chegar em janeiro."

"Sempre tive a esperança que ao Enzo desse gosto lutar pelo título de campeão. A partir do momento que ele não queria isso, decidi que não podia continuar no clube. Compromisso com os adeptos não é bater no peito, é isso sim fazer como fizeram os jogadores em Arouca, sabendo tudo o que se estava a passar. Não vou chorar por um jogador que não quer estar aqui. Fui ensinado a honrar a camisola do Benfica. O Enzo fez a sua escolha, não quis ficar e nós também não o queremos. No Benfica só estará quem tiver orgulho em representar o clube. E este é um recado para a formação também", sublinhou.

Rui Costa referiu por várias vezes que a SAD do Benfica "tudo fez para que a venda não se efetuasse". "Estou de consciência tranquila, mas triste por perder o jogador. Assumi que não venderia qualquer jogador importante abaixo do valor da cláusula", disse, explicando que os 120 milhões de euros foram atingidos pelo Chelsea.

"A cláusula de rescisão é a verba que significa que há um compromisso entre clube e jogador, que permite ao atleta decidir se quer sair ou continuar. No início do mercado, o Chelsea apareceu com essa verba, mas depois recuou e apareceu com ela no fecho do mercado", revelou, garantindo que a Enzo Fernández "foi proposto um aumento salarial", mas "a proposta que ele tinha era inviável" para o Benfica acompanhar.

Rui Costa esclareceu que o valor da cláusula "não implica que seja pago a pronto", razão pela qual quando o Chelsea apresentou os 120 milhões de euros "foi impossível convencer Enzo a ficar". "Ele foi intransigente, insistimos, mas nunca mostrou abertura para ficar", reforçou o presidente do Benfica, sublinhando: "A ideia foi ficar com ele, mas formos obrigados a vendê-lo por causa do valor da cláusula e devido à vontade do jogador em não querer ficar."

O líder encarnado admitiu que o pagamento dos 121 milhões de euros "é parcelado", mas revelou que há um mecanismo que permite ao Benfica ter a verba no imediato se assim o pretender. "Insistimos e batalhamos para que tivéssemos essa almofada e foi incluída uma verba de cerca de quatro milhões, que foi retirada aos representantes, para que no futuro possamos antecipar essa verba. Por isso mesmo, o Enzo saiu 5,5 milhões acima do valor da cláusula de rescisão", frisou.

Questionado sobre o facto de não ter sido contratado um substituto para Enzo Fernández, Rui Costa referiu que "a aposta era manter" o argentino - "Até utilizei isso para lhe mostrar que contávamos com ele", disse -, pelo que, quando se tornou inviável a continuidade do campeão do mundo, "tornou-se muito difícil trazer um jogador no último dia de mercado, afinal um jogador que custaria 10 milhões de euros passaria a custar 50". "Só queríamos alguém que fosse mais-valia para a equipa, mas não tendo esses jogadores que queríamos, não iria contratar alguém só para mostrar e, afinal, temos os jogadores da equipa B", sublinhou.

Rui Costa revelou que a chegada de Gonçalo Guedes por empréstimo do Wolverhampton não era equacionada no início do mercado de janeiro.

"Já perto do final do mercado apareceu a possibilidade Gonçalo Guedes. Foi tudo feito em dia e meio, com todo o mérito para o Gonçalo, que tinha a possibilidade de ir para campeonatos mais competitivos, mas não hesitou e quis voltar a casa. É uma mais-valia e tinha muita vontade de voltar jogar pelo Benfica. Nem pensámos duas vezes", revelou o presidente encarnado, que deixou claro que na planificação do mercado de inverno estavam em cima da mesma apenas a contratação de "mais um extremo e de um homem de área". "Vieram Schjelderup e Tengstedt, jogadores com muito futuro, mas também de presente", sublinhou.

Nesse sentido disse que no Norte da Europa "há muito talento". "Acreditamos que serão mais-valia, pois tratam-se de atletas de coletivo e de muito trabalho, à semelhança de Aursnes".

Rui Costa revelou ainda que a estratégia de mercado do Benfrica passava por continuar o projeto iniciado no verão e que contemplava "reduzir o número de ativos e os respetivos encargos". "Começámos a época com 65 ativos e temos agora 37. A ideia é menos quantidade e mais qualidade", sublinhou, acrescentando que "em duas janelas de mercado foi feito o que estava pensado para três ou quatro".

No que diz respeito a saídas, Rui Costa destacou a de André Almeida, que rescindiu contrato com o Benfica. "É um dos nossos. Foram muitos anos ao serviço do clube, merece o respeito de todos nós e chegamos a esta conclusão em conjunto porque após a lesão, teve pouca utilização. Acabava contrato no final da época e dando-lhe a rescisão dá-lhe a possibilidade de continuar a carreira", explicou.

No que diz respeito a renovações de contrato, admitiu existirem negociações com Grimaldo e Otamendi, que terminam a ligação ao clube no final da época e recordou que desde agosto "renovaram contrato Morato, António Silva, Henrique Araújo e Florentino" e acabou ainda por dar duas novidades: "Temos praticamente acertada a renovação de Vlachodimos e de André Gomes, que estará completa ainda esta semana."