Amorim tem créditos que outros treinadores despedidos não tiveram

Neste milénio, vários técnicos do Sporting (de Peseiro a Sá Pinto) foram despedidos antes do final do ano civil quando estavam numa posição tão delicada (em alguns casos até menos) como o clube de Alvalade está agora em termos desportivos.
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O campeonato parece uma miragem (em sexto lugar, já a 12 pontos do líder Benfica), a equipa está afastada da Taça de Portugal (eliminada logo na primeira ronda diante do Varzim, da Liga 3), fora da Champions e com um play-off de acesso aos oitavos de final para jogar na Liga Europa. É este o cenário tenebroso do Sporting no início de novembro. Noutros tempos, nenhum treinador resistiria a esta má campanha num curto espaço de tempo. Mas Rúben Amorim está seguro no cargo e mantém toda a confiança da SAD leonina.

"Não é normal um treinador do Sporting aguentar-se com tantos desaires." A frase foi dita pelo próprio Rúben Amorim, no rescaldo da derrota com o Eintracht Frankfurt, que ditou o afastamento dos leões da Champions. E, de facto, tem toda a razão. Em situação idêntica e até menos grave, neste século, vários técnicos foram despedidos antes do final do ano civil.

O neerlandês Marcel Keizer, na sua segunda época em Alvalade (2019-20), durou apenas cinco jogos, despedido logo no início de setembro. Deixou a equipa no quinto lugar, então a três pontos do líder Famalicão, e saiu após um desaire caseiro por 2-3 com o Rio Ave, à quarta jornada. Também pesou a goleada sofrida diante do Benfica (5-0) na decisão da Supertaça.

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Antes, também José Peseiro sofreu os efeitos do chicote, em 2018-19, afastado do cargo a 1 de novembro, após ter perdido em casa com o Estoril (1-2), em jogo da fase de grupos da Taça da Liga. Deixou o clube na quinta posição do campeonato, a dois pontos dos líderes FC Porto e Sp. Braga, e um de Benfica e Rio Ave, e na segunda posição do Grupo E da Liga Europa, apenas atrás do Arsenal.

O sérvio Sinisa Mihajlovic não entra nestas contas, pois nem sequer chegou a aquecer o banco. Contratado por Bruno de Carvalho, não chegou a orientar a equipa. Nestas contas também não entram os técnicos interinos, casos de Leonel Pontes, Oceano e Tiago Fernandes.

Na temporada 2012-13, também Ricardo Sá Pinto não resistiu aos maus resultados, e deixou o cargo logo no início do mês de outubro, antes de um clássico com o FC Porto. O antigo jogador dos leões não resistiu a uma derrota (3-0) com o Videoton, da Hungria, na Liga Europa. Deixou o clube no quinto lugar do campeonato, a cinco pontos dos líderes FC Porto e Benfica.

Também Paulo Bento, o segundo treinador da história dos leões que mais tempo ficou no cargo, saiu no início da época 2009-10, na primeira semana de novembro. Neste caso por sua iniciativa, "por entender não estarem reunidas as condições para se manter no comando técnico da equipa". Os leões ocupavam o sétimo lugar na I Liga, menos 12 do que o líder, o Sp. Braga, e tinham falhado a qualificação para a Champions.

Antes, e citando apenas campanhas do Sporting desde o ano 2000, José Peseiro também tinha saído precocemente do cargo em outubro de 2005, e Augusto Inácio no início de dezembro do ano 2000, após uma pesada derrota com o Benfica.

Este rol de exemplos prova que em Alvalade nunca existiu tanta "paciência" com um treinador da parte dos dirigentes como no caso de Rúben Amorim, cujo contrato só expira em 2024. Pode haver quem conteste que o técnico tem alguma culpa na má campanha devido ao facto de não abdicar do seu sistema de jogo e em relação a algumas escolhas, mas a grande justificação está no mau planeamento da temporada, com a saída de três pesos pesados - Matheus Nunes, João Palhinha e Sarabia - cujas vagas não foram devidamente colmatadas.

Até ver, a posição de Rúben Amorim, que foi campeão nacional pelo Sporting em 2020-21, está segura. A avaliação, segundo o próprio, será feita no final da temporada, podendo aí então existir alguma definição. Da parte da SAD ou do treinador. Certo é que Amorim, que está vinculado aos leões até 2024, tem uma cláusula de rescisão de 30 milhões de euros.

"Os contratos são feitos de acordo com a confiança das duas partes. Enquanto estiver feliz no Sporting, não será razão de dinheiro, se me quiserem mandar embora é uma questão de me pagarem. Mas o projeto é a minha cara. O futebol, no entanto, é o momento e daqui a duas semanas podemos estar num ambiente diferente", referiu o técnico em março de 2021.

Questionado depois da derrota com o Eintracht Frankfurt se o presidente Frederico Varandas deveria dar a cara, o técnico respondeu de pronto. "Ninguém devia dar a cara porque isto é uma parte desportiva. O presidente e Hugo Viana não têm culpa de a equipa ser eliminada da Taça pelo Varzim, de estar a doze pontos na Liga e de ser eliminado da Champions. Dar a cara é para mim e acho bem que seja para mim. Estamos em sintonia. Sentir-me-ia diminuído e não ajudado se viessem defender-me agora em dia de jogo", referiu, admitindo que "mais de metade da época está perdida porque os objetivos caíram", mas que "enquanto houver um objetivo e um plano para o futuro nada está perdido".

Nota: Por lapso, na peça originalmente publicada, os números relativos a Sá Pinto não estavam corretos, mas já foram devidamente retificados.

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