Adeptos dão nota negativa à arbitragem e dizem que Benfica tem título à vista
Maioria culpa o Conselho de Arbitragem pelo mau desempenho dos juízes em campo mas considera que o VAR ajuda à verdade desportiva.
O estado da arbitragem no futebol português é considerado negativo pela maior parte dos participantes num estudo de opinião realizado pela Aximage para o DN, JN, O JOGO e TSF. Desafiados a fazer uma avaliação do setor, 43% dos inquiridos optaram pela resposta negativa (27%) ou muito negativa (16%) e apenas 23% tiveram opinião positiva (19%) ou muito positiva (4%).
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A responsabilidade é atribuída, sobretudo, ao Conselho de Arbitragem (44%), mas também aos dirigentes dos clubes (28%) e aos próprios árbitros e VAR (22%), sendo que a maioria dos adeptos considera que o videoárbitro acrescenta muito à verdade desportiva (47%), enquanto 37% diz que acrescenta pouco ou nada.

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Numa época com muitas polémicas e casos em jogos das equipas que lutam pelos primeiros lugares da Liga, os resultados da sondagem são considerados "normais" por três ex-árbitros ouvidos pelo DN e JN. "Não me lembro de uma época que tenha sido positiva para a arbitragem. A crítica é fácil e o erro existe sempre. Haver mais opiniões negativas não é novidade. Seria estranho se fosse ao contrário", afirma Paulo Pereira, corroborado por Pedro Henriques: "As respostas têm a ver com perceção. O foco da comunicação social e da comunicação dos clubes é a arbitragem e os eventuais erros dos árbitros". "Surpreende-me que a percentagem de opiniões negativas não seja mais elevada. Quem vê futebol não consegue compreender a gestão que é feita, nem o facto de não ter havido uma melhoria contínua e permanente na eficiência dos árbitros", sublinha José Leirós.
Quanto ao facto de o Conselho de Arbitragem (CA) ser o principal "culpado", Paulo Pereira só está surpreendido por apenas 44% terem respondido nesse sentido. "O CA é muito ausente em termos públicos. Há situações que dão alarido e um esclarecimento público seria importante. A comunicação é um aspeto muito importante e teria resultados rapidamente", referiu, de novo com a concordância de Pedro Henriques.
"O problema do CA é a falta de comunicação. Até pode estar a fazer o melhor, mas como nunca comunica nada, nós não sabemos. Defender um árbitro quando erra, lembrando os casos em que acertou, também seria benéfico. Dizer como são feitas as nomeações, as classificações ou os castigos também contribuiria para melhorar a perceção", disse, apontando soluções para a crise na arbitragem: "A formação, o recrutamento e avaliação dos árbitros não estão a ser feitos da melhor maneira. A profissionalização também é crucial. O VAR deve ser especializado".
"É normal que a responsabilidade seja atribuída ao CA. Tal como num clube, quando os resultados não aparecem, a culpa é de quem lidera, não há porta por onde fugir", reforça José Leirós, dizendo ainda que "o CA devia trabalhar em conjunto com a APAF (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol)" para melhorar o setor: "Os árbitros têm de sentir que há uma liderança forte, que há quem os proteja, quem os defenda e quem os ajude a melhorar. Isto tem de ser feito a nível nacional".
O DN e JN tentaram obter uma reação a esta sondagem junto do CA, mas o organismo preferiu não fazer comentários.
Casos
João Mário expulso - No jogo entre FC Porto e Gil Vicente, João Mário viu o vermelho direto num lance que causou muita polémica. O VAR, Tiago Martins, entendeu que o lateral portista cortou um lance de golo, e o árbitro, Rui Costa, que inicialmente dera amarelo, decidiu-se pelo vermelho após ver as imagens. Pinto da Costa protestou no fim da partida.
Guedes pede penálti - No Braga-Benfica dos quartos de final da Taça de Portugal, Gonçalo Guedes caiu na área minhota e o árbitro, Tiago Martins, entendeu que o lance não justificava a marcação de um penálti. O clube da Luz protestou de forma veemente e Rui Costa chegou a abordar o juiz da partida no túnel de acesso aos balneários.
Porro empurrado - No Marítimo-Sporting, Pedro Porro foi empurrado pelas costas na área por um defesa da casa e os leões pediram falta para grande penalidade, que o árbitro Hélder Malheiro não assinalou. O VAR, Cláudio Pereira, decidiu não intervir.
Benfica com título à vista e Gonçalo Ramos em destaque
A vantagem significativa do Benfica na liderança da classificação explica a opinião clara dos adeptos relativamente à questão de quem será o próximo campeão nacional. A maioria dos inquiridos na sondagem da Aximage respondeu que o título vai ser conquistado pelo clube da Luz (64%), seguindo-se, a grande distância, o FC Porto (14%), o Sporting (4%) e o Braga (1%).

Recorde-se que, a nove jornadas do fim da competição, as águias possuem 10 pontos de avanço sobre os dragões, 12 sobre os bracarenses e 18 sobre os leões, que têm menos um jogo disputado.
O bom rendimento individual dos jogadores do Benfica também leva a que sejam duas das principais figuras do plantel às ordens de Roger Schmidt a concentrar a maior parte das respostas sobre quem será o melhor futebolista da Liga portuguesa.
O preferido nesta sondagem foi o avançado Gonçalo Ramos (28%), à frente de Rafa (14%), e só no terceiro lugar aparece um jogador que não pertence à equipa benfiquista, nesta caso o guarda-redes do FC Porto, Diogo Costa (11%).
Na lista de jogadores mencionados pelos adeptos, seguem-se Pedro Gonçalves, do Sporting (6%), Taremi, do FC Porto (5%), Marcus Edwards, também do Sporting (2%) e Ricardo Horta, do Braga (2%). Curiosamente, João Mário, atual melhor marcador do campeonato, não surge entre os preferidos dos adeptos para ganhar o prémio de melhor jogador da temporada.
FICHA TÉCNICA
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF, JN e O Jogo, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a Liga de Futebol. O trabalho de campo decorreu entre os dias 13 e 17 de março de 2023 e foram recolhidas 801 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal. Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 801 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,46%). Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.
nuno.a.amaral@jn.pt