Um é informático, interessado em tudo o que são estatísticas, sobretudo as desportivas. Outro é historiador de arte, particularmente da arquitetura de Portugal do século XVIII, cá dentro e lá fora. Ambos tinham projetos em mãos para contar a história do Sporting Clube de Braga, que nenhum conhecia. Acabou por ser o próprio clube e uma editora a juntá-los, resultando no livro "A história do Sporting Clube de Braga", de Eduardo Pires de Oliveira, o historiador, e de João Miguel Fernandes, o informático. A forma como as duas experiências resultaram em livro tem contornos diferentes, de acordo com os dois autores. Também a paixão pelo futebol, o clube e a própria cidade de Braga, que cresceu muito. Todos os factos e histórias estão refletidos no livro, nas bancas desde quinta-feira. Muitos documentos consultados, páginas de jornais, também, números, tabelas e partilhas dos êxitos do clube. O trabalho é apresentado por um prefácio do Presidente da República, afinal Marcelo Rebelo de Sousa é sócio e simpatizante do Sp. Braga. Seguem-se vários capítulos relativos à História e às histórias; aos anos de turbulência, de crise, de recuperação e de sustentabilidade; competições nacionais e internacionais; as modalidades; os presidentes e, claro, o "ano glorioso", o de 1966. Termina com um arquivo histórico. O livro existia em projeto há muitos anos. Havia documentação, textos de enquadramento arquitetónico e dos jogos mais emblemáticos, de Eduardo Pires de Oliveira. Trabalho produzido a partir de um convite do Sporting Clube de Braga, em 2009, projeto que acabou por não vingar. "Dediquei-me mais à parte antiga, onde e como foram construídos os estádios. Escrevi sobre as finais da Taça de Portugal com base em jornais da época. Recolhi documentos, um livro para ser sério tem que ter documentação", diz o doutorado em História de Arte pela Universidade do Porto e investigador do Instituto História de Arte da Universidade de Lisboa, que publicou 250 livros. Existia, também, mais de 25 anos de recolha de dados por João Miguel Fernandes, milhares de horas passadas nas biblioteca: fichas dos jogos, resultados, jogadores, etc. Um "vício" que lhe ficou quando vivia no estrangeiro e não encontrava os resultados desportivos da terra. "O Departamento de Informática da Universidade do Minho lançou a primeira página de World Wide Web no país [1995] e fiz um serviço com os resultados de todos os jogos." Propôs ao clube fazer um livro. É doutorado em Informática/Engenharia de Computadores pela Universidade do Minho, onde é professor catedrático..O editor Paulo Morais juntou os projetos de Eduardo e de João, pediu mais colaboração para os capítulos em falta, deu estrutura e unidade a todo o material. Para que tivessem uma publicação para este ano, a tempo das comemorações do centenário do clube. Convém esclarecer que a data do nascimento não é um ponto completamente assente. Oficialmente, é em 1921, quando aprovaram os estatutos e o clube foi legalizado. João Miguel encontrou "evidências que apontam para 1919", existindo registos de um jogo em 1920. Há, ainda, indicações da fundação de um clube em Braga em 1914 e que não teve continuidade.. João é um amante do futebol e do clube. Eduardo prefere o andebol, que praticou, onde outra equipa - o ABC - reina em Braga. Mas, curiosamente, ou talvez não, o marco histórico eleito por ambos são disputas futebolísticas. "O ano glorioso do Braga foi quando ganhou a Taça de Portugal em 1966, ganhámos ao Vitória de Setúbal, mas os maiores feitos foram deixar o Benfica e o Sporting pelo caminho", diz João Miguel. Contrapõe Eduardo Pires: "O melhor ano foi quando o Braga disputou a final da Liga Europa em Dublin, em 2011. Perdeu com o FC Porto por 1-0. Estivemos muito perto de ser campeões." Só que Eduardo Pires viveu a final da Taça em Braga, tinha 16 anos. Era Páscoa e o pai não o deixou ir ver pela o jogo pela televisão com os amigos porque esperavam a bênção do padre. Esgueirou-se ao intervalo, ainda o jogo estava zero a zero. Um golo a 13 minutos do fim ditou o que seria um dia histórico. Tanta emoção naqueles dias. Competição que só venceram mais uma vez, 50 anos depois, esta conquistada ao FC Porto. Em 2016, um ano depois de terem vivido no Estádio do Jamor "o dia mais triste". A perda da Taça para o Sporting, quando estiveram em vantagem no marcador e com mais um jogador. Amanhã, voltam a uma final da Taça de Portugal, esta contra o Benfica. Um jogo que não será no Estádio do Jamor, mas no Estádio Cidade de Coimbra, e que não terá público nas bancadas. João Miguel Fernandes gostou da experiência de escrever o livro e, até, já tem outra encomenda. "Não sou um homem da história, sou engenheiro informático, e isto é completamente diferente. Conheci muita gente nova, fiz dois ou três amigos, foi uma fase da minha vida muito interessante", conta, para concluir: "Um clube é muito mais que as suas vitórias, é um ativo da sociedade. O Sp. Braga representa a minha cidade, permite que os jovens possam praticar desporto." Eduardo Pires de Oliveira continuará com as investigações sobre património e a participar em conferências. Explica: "O que me interessa mais num clube não são os jogos, os resultados, é a parte sociológica. Gosto de perceber a alegria e a tristeza das pessoas, as emoções. A outra parte interessante é a urbanística. Um clube desloca-se pela cidade à medida que esta vai crescendo, todos os seus estádios contam uma história"..ceuneves@dn.pt
Um é informático, interessado em tudo o que são estatísticas, sobretudo as desportivas. Outro é historiador de arte, particularmente da arquitetura de Portugal do século XVIII, cá dentro e lá fora. Ambos tinham projetos em mãos para contar a história do Sporting Clube de Braga, que nenhum conhecia. Acabou por ser o próprio clube e uma editora a juntá-los, resultando no livro "A história do Sporting Clube de Braga", de Eduardo Pires de Oliveira, o historiador, e de João Miguel Fernandes, o informático. A forma como as duas experiências resultaram em livro tem contornos diferentes, de acordo com os dois autores. Também a paixão pelo futebol, o clube e a própria cidade de Braga, que cresceu muito. Todos os factos e histórias estão refletidos no livro, nas bancas desde quinta-feira. Muitos documentos consultados, páginas de jornais, também, números, tabelas e partilhas dos êxitos do clube. O trabalho é apresentado por um prefácio do Presidente da República, afinal Marcelo Rebelo de Sousa é sócio e simpatizante do Sp. Braga. Seguem-se vários capítulos relativos à História e às histórias; aos anos de turbulência, de crise, de recuperação e de sustentabilidade; competições nacionais e internacionais; as modalidades; os presidentes e, claro, o "ano glorioso", o de 1966. Termina com um arquivo histórico. O livro existia em projeto há muitos anos. Havia documentação, textos de enquadramento arquitetónico e dos jogos mais emblemáticos, de Eduardo Pires de Oliveira. Trabalho produzido a partir de um convite do Sporting Clube de Braga, em 2009, projeto que acabou por não vingar. "Dediquei-me mais à parte antiga, onde e como foram construídos os estádios. Escrevi sobre as finais da Taça de Portugal com base em jornais da época. Recolhi documentos, um livro para ser sério tem que ter documentação", diz o doutorado em História de Arte pela Universidade do Porto e investigador do Instituto História de Arte da Universidade de Lisboa, que publicou 250 livros. Existia, também, mais de 25 anos de recolha de dados por João Miguel Fernandes, milhares de horas passadas nas biblioteca: fichas dos jogos, resultados, jogadores, etc. Um "vício" que lhe ficou quando vivia no estrangeiro e não encontrava os resultados desportivos da terra. "O Departamento de Informática da Universidade do Minho lançou a primeira página de World Wide Web no país [1995] e fiz um serviço com os resultados de todos os jogos." Propôs ao clube fazer um livro. É doutorado em Informática/Engenharia de Computadores pela Universidade do Minho, onde é professor catedrático..O editor Paulo Morais juntou os projetos de Eduardo e de João, pediu mais colaboração para os capítulos em falta, deu estrutura e unidade a todo o material. Para que tivessem uma publicação para este ano, a tempo das comemorações do centenário do clube. Convém esclarecer que a data do nascimento não é um ponto completamente assente. Oficialmente, é em 1921, quando aprovaram os estatutos e o clube foi legalizado. João Miguel encontrou "evidências que apontam para 1919", existindo registos de um jogo em 1920. Há, ainda, indicações da fundação de um clube em Braga em 1914 e que não teve continuidade.. João é um amante do futebol e do clube. Eduardo prefere o andebol, que praticou, onde outra equipa - o ABC - reina em Braga. Mas, curiosamente, ou talvez não, o marco histórico eleito por ambos são disputas futebolísticas. "O ano glorioso do Braga foi quando ganhou a Taça de Portugal em 1966, ganhámos ao Vitória de Setúbal, mas os maiores feitos foram deixar o Benfica e o Sporting pelo caminho", diz João Miguel. Contrapõe Eduardo Pires: "O melhor ano foi quando o Braga disputou a final da Liga Europa em Dublin, em 2011. Perdeu com o FC Porto por 1-0. Estivemos muito perto de ser campeões." Só que Eduardo Pires viveu a final da Taça em Braga, tinha 16 anos. Era Páscoa e o pai não o deixou ir ver pela o jogo pela televisão com os amigos porque esperavam a bênção do padre. Esgueirou-se ao intervalo, ainda o jogo estava zero a zero. Um golo a 13 minutos do fim ditou o que seria um dia histórico. Tanta emoção naqueles dias. Competição que só venceram mais uma vez, 50 anos depois, esta conquistada ao FC Porto. Em 2016, um ano depois de terem vivido no Estádio do Jamor "o dia mais triste". A perda da Taça para o Sporting, quando estiveram em vantagem no marcador e com mais um jogador. Amanhã, voltam a uma final da Taça de Portugal, esta contra o Benfica. Um jogo que não será no Estádio do Jamor, mas no Estádio Cidade de Coimbra, e que não terá público nas bancadas. João Miguel Fernandes gostou da experiência de escrever o livro e, até, já tem outra encomenda. "Não sou um homem da história, sou engenheiro informático, e isto é completamente diferente. Conheci muita gente nova, fiz dois ou três amigos, foi uma fase da minha vida muito interessante", conta, para concluir: "Um clube é muito mais que as suas vitórias, é um ativo da sociedade. O Sp. Braga representa a minha cidade, permite que os jovens possam praticar desporto." Eduardo Pires de Oliveira continuará com as investigações sobre património e a participar em conferências. Explica: "O que me interessa mais num clube não são os jogos, os resultados, é a parte sociológica. Gosto de perceber a alegria e a tristeza das pessoas, as emoções. A outra parte interessante é a urbanística. Um clube desloca-se pela cidade à medida que esta vai crescendo, todos os seus estádios contam uma história"..ceuneves@dn.pt