A última dança de Serena no mesmo palco onde começou a nascer a lenda
A mais nova das irmãs Williams disputa a partir de hoje o último Grand Slam da carreira. Para trás fica um exemplo e um legado que a tornou numa das maiores desportistas de sempre.
O US Open, o último Grand Slam de 2022 que arranca hoje e termina a 11 de setembro, fica marcado pela ausência de Novak Djokovic, forçado a desistir impedido de entrar nos Estados Unidos por não estar vacinado contra a covid-19, mas sobretudo pela despedida de Serena Williams, que aos 40 anos fará a sua última aparição num major.
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O adeus às grandes provas da rainha do circuito feminino, curiosamente, terá como palco o mesmo local onde em 1999 conquistou o primeiro dos seus 23 títulos em Grand Slams, então com 17 anos, batendo na final Martina Hingis. Um triunfo que deu início ao maior domínio feminino da era open, só superado pelos 24 majors de Margaret Court (entre 1960 e 1973).
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Com sete títulos na Austrália, outros sete em Wimbledon e seis no US Open, Serena foi a única personalidade do ténis (masculinos incluídos) a conseguir triunfar seis vezes em três grandes torneios diferentes. No total acumula 73 títulos em diferentes provas. Além disso conta ainda com quatro medalhas de ouro olímpicas - três em pares ao lado da irmã Venus e outra individual, em Londres2012.
Serena, que se tornou pela primeira vez líder do ranking WTA em 2002 e a última em 2017, ostenta também o recorde de maior diferença de idade entre a primeira vitória num Grand Slam (em 1999 nos Estados Unidos) e a última (2017 na Austrália), esta quando já estava grávida de Olympia.
O anúncio da retirada foi feito no início deste mês, na revista Vogue. "Chega uma altura na vida em que temos de decidir seguir numa direção diferente. Essa altura nunca é fácil quando se gosta tanto de algo. E, meu Deus, como eu gosto de ténis. Mas a contagem decrescente começou. Tenho de me focar em ser mãe, nos meus objetivos espirituais e em descobrir algo diferente, mas excitante para a Serena. Vou desfrutar ao máximo destas próximas semanas", escreveu a tenista.
A despedida fez os fãs despertarem, provocando uma enorme corrida aos bilhetes. Nos mercados paralelos, o preço dos ingressos chegou a subir mais de 30%. Como disse a tenista recentemente, a possibilidade de vencer o seu 24.º Grand Slam "é apenas uma fantasia dos fãs". "Não estou à procura de um momento cerimonial e final dentro de um court. Sou terrível em despedidas, a pior do mundo", atirou.
Os fãs vão poder ver a última aparição de Serena em dose dupla. Isto porque as irmãs Williams receberam um wild card para jogarem no torneio de pares. Venus, de 42 anos, e Serena, 40, venceram o major nova-iorquino em pares em 1999 e 2009, sem que voltassem a disputar esta vertente desde 2014.
Os recentes resultados de Serena não são um bom cartão de visita, sendo até provável que possa ser derrotada logo na primeira ronda. A adversária será a montenegrina Danka Kovinic, número 80 do ranking, que não escondeu a sua satisfação após o sorteio: "Que momento! Estou muito ansiosa por isto", escreveu no Twitter. Caso supere a primeira ronda, Serena pode defrontar a número 2 do mundo, Anett Kontaveit.
No primeiro jogo que realizou após anunciar o adeus, Serena perdeu em dois sets com Belinda Bencic, em Toronto, no Canadá. E no último, em Cincinnati, foi derrotada pela atual campeã do US Open, a romena Emma Raducanu, que nasceu três anos depois da primeira vitória de Serena no torneio.
Assim que Serena anunciou a intenção de se retirar, o mundo do ténis prestou-lhe vários tributos. "Para mim, é a maior atleta mulher da história do desporto e está entre os melhores de sempre. Está ao nível de desportistas como Tom Brady ou Michael Jordan. Está com 40 anos. Fez tudo no ténis e não tem mais nada para provar", reagiu o ex-tenista John McEnroe.
"Guardarei para sempre as melhores memórias. Ela é uma das maiores personalidades de sempre do desporto. Fui um privilegiado por ter atuado vários anos no circuito ao mesmo tempo do que ela. Por um lado é triste vê-la dizer adeus, mas por outro temos que lhe agradecer por tudo de bom que deu ao ténis. Ela foi e será uma inpiração para muita gente. Desejo-lhe o melhor", disse Rafael Nadal.
A missão de Medvedev
O número um mundial de ténis, Daniil Medvedev, vai defender o título do Open dos Estados Unidos. O russo chega a Nova Iorque com a certeza que, este ano, não terá de enfrentar o vice-campeão de 2021, o sérvio Novak Djokovic, impedido de participar no torneio por não estar vacinado contra a covid-19, mas não se livra da responsabilidade de defender o seu único título do Grand Slam, vital para manter a liderança do ranking ATP.
Tal como Djokovic, que seria um dos principais favoritos à vitória, o moscovita, de 26 anos, também falhou o terceiro major da temporada, em Wimbledon, mas devido à invasão militar da Ucrânia por parte da Rússia, estando agora de regresso, após a derrota na final do Open da Austrália diante de Nadal e do desaire na quarta ronda de Roland Garros frente a Marin Cilic.
Contra Medvedev joga ainda o facto de os espanhóis Rafael Nadal (3.º do mundo) e Carlos Alcaraz (4.º), o grego Stefanos Tsitsipas (5.º) e o norueguês Casper Ruud (7.º) estarem em boa forma, e, além de fortes opositores, são todos candidatos ao topo da hierarquia mundial após a quinzena nova-iorquina.
O principal favorito é, contudo, o esquerdino de Manacor, detentor de 22 títulos do Grand Slam, dois dos quais conquistados já esta temporada, que, por ter falhado a edição do ano passado do torneio norte-americano, não tem pontos a defender, enquanto Alcaraz, Tsitsipas e Ruud só chegando à final têm hipótese de sair de Flushing Meadows com o estatuto de número um.
Portugal com Sousa e Borges
João Sousa e Nuno Borges são os dois representantes portugueses no torneio. O tenista vimaranense vai defrontar o norte-americano Mackenzie McDonald na primeira ronda, naquele que será o quinto duelo entre ambos.
Na nona vez que irá competir no major norte-americano, Sousa, atual 59.º colocado da hierarquia ATP, tem estreia marcada frente a um adversário (77.º) que já defrontou por três vezes esta temporada, tendo perdido duas e vencido uma. Em Flushing Meadows tem como melhor resultado os oitavos de final, em 2018.
Já Nuno Borges, 105.º do ranking mundial, entrou no quadro principal via qualifying, após ter batido o italiano Francesco Maestreli. Depois das presenças em Roland Garros e Wimbledon, o número dois português chegou pela primeira vez ao quadro principal do major nova-iorquino.
Nuno Borges também vai disputar o quadro de pares do US Open com Francisco Cabral, com quem já chegou à segunda ronda de Wimbledon, perdendo para os colombianos Robert Farah e Juan Sebastian Cabal, que chegaram às meias-finais.