1950: Uruguai provoca Maracanazo

Na final disputada no Maracanã (lotado com 200 mil pessoas), o Brasil perdeu por 2-1 com o Uruguai
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Sambas concebidos especialmente para celebrar a vitória do Brasil, foguetes e fogo de artifício (proibidos) e confetis a colorirem um estádio construído de propósito para celebrar a euforia do escrete. E 200 mil pessoas afundadas numa das maiores depressões desportivas da história pelo golo de Ghiggia (que marcou em todos os jogos do torneio, algo que só Just Fontaine, em 1958, e Jairzinho, 1970 - também campeão - conseguiram). O Brasil precisava de um empate para chegar ao primeiro título mundial, mas o Uruguai, que tinha de ganhar, provocou o Maracanazo (2-1). O desastre que ainda persegue a seleção canarinha - há quatro anos, o país voltou a acolher uma fase final e foi afundado nas meias-finais pelos 7-1 perante a Alemanha, que se sagraria campeã.

Foi mais um Mundial afetado por ausências. Sobretudo de alguns dos depauperados países que sobreviveram à II Guerra Mundial, que levou ao cancelamento das edições de 1942 e 1946. E, como consequência do conflito, pelo afastamento das qualificações desde logo da Alemanha e do Japão, grandes derrotados do conflito. Já a bicampeã Itália, que fazia parte do trio principal dos Países do Eixo derrotados, pôde participar, mas totalmente devastada por ter perdido a base da equipa na Tragédia de Superga, onde se deu o acidente aéreo que vitimou todos os passageiros do avião que transportava o Grande Torino para casa após o jogo de homenagem, em Lisboa, a Francisco Ferreira, do Benfica. Argentina (entre outras equipas sul-americanas), Áustria e Bélgica retiraram-se da corrida a um lugar no Brasil. Na Ásia, deu-se o caso da Índia ser apurada pela ausência generalizada. Mas acabou por nem viajar por se considerar sem condições. Por outro lado, finalmente o Reino Unido acedia a participar - aceitando que as duas melhores seleções do Campeonato Britânico de 1949/50 se qualificassem. A Inglaterra ganhou a prova e a Escócia ficou em segundo lugar, o que levou o presidente da federação a excluir a equipa porque só aceitaria participar como vencedora da competição britânica. Com a desistência da Turquia após a qualificação, Portugal podia ter-se estreado, pois foi uma das três seleções convidadas a preencher as falhas, com Irlanda e França (ainda chegou a aceitar, mas não participou no Mundial 1950). Mas Portugal estreou-se de outra forma: o árbitro Vieira da Costa foi nomeado, e acabou por ser assistente em três jogos. E o luso-descendente John de Sousa (Estados Unidos) foi eleito para o onze da prova.

Com apenas 13 equipas a chegarem à prova, o Brasil fez vingar um sistema de competição diferente, que proporcionava mais jogos e, consequentemente, mais receitas (a média superior a 60 mil espectadores por jogo só foi superada no Mundial 1994). Consistia numa fase de quatro grupos, em que os primeiros se apuravam para um grupo final. Pela primeira vez, não houve final, sagrando-se campeão a equipa que fizesse mais pontos. Quis o destino que na última ronda houvesse um Brasil-Uruguai, as únicas equipas que poderiam chegar ao título (Suécia e Espanha estavam já sem hipóteses).

O Maracanã fervia de entusiasmo, até porque o empate servia aos canarinhos. Mas o Uruguai capitaneado por Obdulio Varela e afinado pelos talentosos Schiaffino e Ghiggia (quatro golos nos quatro jogos da sua equipa) causou um silêncio sepulcral a 200 mil pessoas (embora a versão oficial apontasse para 155 mil, muitos historiadores alimentaram a verosímil versão dos 200 mil). E atormentou para a vida o guarda-redes Moacir Barbosa, perseguido pelos adeptos canarinhos. E assim o Uruguai provocou o Maracanazo e levantou o troféu que desta competição em diante se passou a chamar Jules Rimet.

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