Depois da covid-19: as oportunidades que se abrem à economia na área tecnológica

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Depois da crise sanitária do COVID-19 nada será como antes. Não há grandes dúvidas de que haverá, apenas em 2020, uma recessão entre 5 a 10%. Há apenas dúvidas sobre a duração da recessão, se esta será em V (como esperam os mais optimistas) e se a economia estará, ou não, recuperada antes de Outubro ou se, pelo contrário, estamos perante uma Depressão profunda, em L ou em U e que, cruzada com a eclosão estimada de várias bolhas especulativas (sobretudo, da bolha da especulação bolsista e da bolha imobiliária) tem condições para criar uma depressão tão ou mais grave que a da década de há cem anos atrás (1920s)...

Uma crise tão profunda e súbita vai mudar a forma como as empresas funcionam e como os trabalhadores cumprem a sua missão. Desde logo vamos passar por meses de contracção de despesa em que todos os consumidores vão retardar ao máximo os seus consumos, com excepção dos estritamente necessários e que investimentos de largo espectro serão adiados indefinidamente. O efeito cascata decorrente vai transformar a recessão numa depressão e, talvez, uma breve depressão numa depressão duradoura.

Mas a economia - sobretudo depois da disseminação de uma vacina eficaz - acabará por recuperar. Talvez a partir de Outubro de 2020 ou de meados do ano que vem, mas recuperará de forma estável e decisiva. Para alguns sectores e até para o clima a actual crise sanitária e económica vai servir como uma oportunidade para o alavancamento do crescimento futuro em vários sectores de elevada intensidade tecnológica:

Teletrabalho:

Muitas organizações irão compreender - finalmente - as vantagens deste método de laboração e, entre estas, especialmente as de serviços. As organizações que hoje inscrevem nos seus custos operacionais verbas pesadas (e cada vez mais pesadas) para suportarem os seus escritórios verão aqui uma oportunidade de racionalização e poderão reduzir os seus escritórios desviando para investimento e para os seus trabalhadores as poupanças obtidas no processo e "desmobiliarizando" a nossa economia retirando valor a um dos sectores menos produtivos e mais rentistas da nossa economia.

Tele-ensino:

Embora existam neste sector forças extremamente conservadoras o conjunto de vantagens demonstradas pelo momento actual em que as aulas online conseguem preservar uma certa normalidade apesar de um conjunto de dificuldades e de muito improviso que a escala inesperada da crise actual implicaram criarão condições para que o Tele-ensino se generalize, certamente entre os Privados e, menos, entre o Público.

Mas para que o Tele-ensino se possa desenvolver é preciso resolver as desigualdades no acesso ao tele-ensino incorporando recuperando a participação pública na aquisição de computadores e tornando o acesso à Internet num "direito" num certo patamar de velocidade através de uma contribuição pública que, numa visão mais geral, será compensada pela necessidade de menos salas de aula e de deslocações até à escola.

Comércio Online:

Muitos consumidores - mercê da necessidade do momento - converteram-se ao comércio online, com entregas em casa ou em regime de take-away. Dadas as provas de que o sistema funciona será de esperar que esse hábito se aprofunde e generalize mais para além das gerações mais novas que já o usavam com alguma frequência. Esta migração do retalho para o digital vai agravar a crise de muitos pequenos negócios de comércio tradicional que já estavam sob carga da especulação imobiliária, das grandes superfícies e do digital. Estas pequenas empresas têm agora a oportunidade de se converterem também ao Digital, idealmente, em rede ou de forma cooperativa através das associações do sector.

Turismo:

Habitado a crescimentos anuais na casa dos dois dígitos este sector terá que, inevitavelmente, se reorganizar. O principal alvo desta mudança será o alojamento local que explodiu nas grandes cidades durante muitos anos de forma completamente desregulada e selvagem levando a muitos e desnecessários dramas humanos e ao esvaziamento dos centros urbanos tornando-os - quase - em parques de diversões. A queda abrupta, primeiro, da procura e depois o regresso a níveis pré-crise mas de baixo crescimento vai atingir sobretudo as pequenas unidades hoteleiras e o alojamento local organizado por pequenos proprietários: o impulso natural (que já se verifica) é o migrarem, de volta para o uso habitacional, as suas propriedades imobiliárias. Os grandes e alguns médios (com mais de 2 ou 3 casas em Alojamento Local) vão resistir, assim como a maioria das unidades hoteleiras: no final teremos um sector de Turismo mais racional e com melhores e mais inteligentes agentes económicos.

Saúde Pública e SNS:

A crise deixará um SNS mais robusto e credibilizado e, sobretudo, firme na sua centralidade enquanto resposta pública e posição central nos orçamentos do Estado. Não será mais possível cativar verbas neste sector nem realizar feitos orçamentais à sua custa. A inegável capacidade de reacção do sector hospitalar - quase de um dia para o outro - e a abnegação provada por muitos profissionais reforçará a credibilidade do SNS e a disponibilidade dos cidadãos para - pela via dos impostos - o suportar vai aumentar de forma proporcional. Sobretudo, o SNS já provou ser capaz de se ajustar e enfrentar a próxima grande crise sanitária que, inevitavelmente, irá surgir mais cedo ou mais tarde.

Telemedicina:

Actualmente o sistema presencial já não faz muito sentido para algumas formas de acompanhamento clínico. Esta crise criará condições para o desenvolvimento e generalização de formas de telemedicina, no sector público e privado com importantes reduções de tempo e custos através da necessidade de levar os pacientes até ao médico, a melhor gestão de recursos através do desenvolvimento de formas electrónicas e remotas de triagem que já existem hoje, sob a forma de biosensores inteligentes presentes, por exemplo, em relógios inteligentes. O desenvolvimento da telemedicina vai reduzir as deslocações, dar mais tempo aos pacientes e poupar emissões e sistemas de transporte de doentes e reduzir a quantidade de doenças infecto-contagiosas que são contraídas em salas de espera de hospitais e centros de saúde (que foram o maior foco de contágio em na crise COVID-19 italiana) e reduzir, no processo, a sobrelotação dos hospitais. O acesso aos melhores especialistas também será facilitado, estando o mesmo ao alcance de um clique de rato e não num longínquo hospital ou clínica privada. De igual forma será mais fácil a criação de bons registos clínicos assim como a partilha de informação médica. Com a telemedicina localidades isoladas poderão ter acesso fácil aos melhores médicos.

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