World Unseen, uma exposição de fotografia para os cegos sentirem
PAULO SPRANGER

World Unseen, uma exposição de fotografia para os cegos sentirem

Esta é uma exposição de fotografia que dá a oportunidade às pessoas invisuais de sentir e visualizar as imagens através do tacto. Está patente até domingo no edifício da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, na Avenida D. Carlos I, em Lisboa. A entrada é gratuita.
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“É importante que eu me possa sentar à mesa de café convosco e falarmos de igual para igual. Somos todos iguais”, quem diz é Graça Gerardo, representante da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), em conversa com o DN na inauguração da exposição World Unseen - patente no edifício da associação, na Avenida D. Carlos I, em Lisboa, até este domingo. 

A mostra, que começou em Inglaterra e já passou pela Alemanha, Itália, França, Espanha, Suíça, Suécia, Áustria, Bélgica e a Noruega, chegou esta sexta-feira a Portugal com uma parceria com a ACAPO e da Canon. “Para nós fazia todo o sentido que localmente tivéssemos um parceiro que pudesse perceber o que é o que nós queremos mostrar com este projeto”, afirma António Filipe membro da direção da marca em Portugal.

Graça Gerardo sublinha que este tipo de iniciativa aumenta a autoestima das pessoas invisuais. “Estas iniciativas colocam as pessoas invisuais aptas para estarem numa sociedade de pleno direito a discutir o mesmo tema com os outros”.

As 12 fotografias expostas são apresentadas em três versões: a imagem original, uma com relevo e outra ligeiramente alterada. A versão em relevo convida as pessoas invisuais a verem a fotografia através do tacto. Este relevo é conseguido através de um software próprio desenvolvido pela Canon.

Entre as várias fotografias, Graça Gerardo destaca a imagem de Aleksander Nordahl, intitulada Love, que mostra uma baleia beluga e um baleeiro que a salvou na Noruega. “ Gostei imenso de ver. Acho que a baleia está muito bem conseguida na versão com o relevo. ”, diz. 

Graça Gerardo menciona ainda a fotografia Rhino Wars de Brent Stirton. Nesta imagem pode-se ver um rinoceronte branco a ser protegido por guardas florestais. “Parece mesmo pele de rinoceronte. Quem conhece o rinoceronte de verdade, quem já apalpou a pele do rinoceronte consegue ver como é igual”.

Fotografia Rhino Wars de Brent Stirton.
Créditos: Paulo Spranger

Todas as imagens da exposição são acompanhadas por um código QR com descrições áudio e em braille. No entanto, a representante da ACAPO explica que as descrições em braille na exposição podem ser uma dificuldade para as pessoas invisuais. “As descrições são demasiado grandes e ocupam muito espaço. Os cegos leem com as duas mãos, em que a direita se afasta até ao fim da linha e a esquerda vai procurar o início da frase para não nos perdermos. Como as linhas são enormes, perdemo-nos um pouco mas percebo porque fizeram desta forma”. 

A terceira versão das fotografias encontra-se ligeiramente alterada de forma a simular as doenças visuais mais comuns, como o glaucoma, as cataratas, a retinopatia diabética, a degeneração macular e a retinite pigmentosa. Esta é uma forma de mostrar como pessoas com estas doenças veem as fotografias.  “Quisemos também passar a mensagem que as pessoas que têm alguma dificuldade de visão, não veem o mundo da mesma forma. Aqui as fotografias são distorcidas em função da patologia”.

Graça Gerardo aconselha as pessoas invisuais a visitarem a exposição com outra pessoa: “assim temos as duas perspetivas. A fotografia também tem cor e é importante que alguém nos descreva a cor. Nós podemos ver pela descrição o que lá está, mas é diferente com outra pessoa que consegue ver porque temos as duas interpretações”, menciona. 

A entrada na exposição é gratuita, mas sujeita a inscrição. 

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