Vasco: o cartoonista sempre "em cima do acontecimento"
“Há um aspeto muito interessante na vida do Vasco, na sua pintura, que era a sua ira”, quem o diz é Mário Beja Santos sobre o cartoonista Vasco de Castro durante o debate O humor unido jamais será vencido: os cartoons da Revolução (1974 – 1976) . Este debate faz parte do ciclo de tertúlias da exposição com o mesmo nome que irá terminar este domingo, 9 de março.
“Acho que é uma exposição extraordinária, porque mostra que são todos muito bons, mas todos diferentes um do outro”, afirmou António Valdemar sobre a exposição em conversa com o DN.
Este ciclo foi composto por seis tertúlias e cada uma será dedicada aos cartoonistas presentes na exposição: António, Cid, João Abel Manta, José Vilhena, Sam e Vasco.
A tertúlia sobre o cartoonista português Vasco de Castro, também conhecido como apenas Vasco, que faleceu a 11 de julho de 2021, teve lugar esta quinta-feira no Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, e contou com a participação de Mário Beja Santos, António Valdemar, Paulo Jorge Fernandes e o diretor do Museu João Alpoim Botelho. Estava previsto o anúncio e lançamento de uma biografia sobre o cartoonista, mas devido a imprevistos na editora, não aconteceu.
Mário Beja Santos começou o debate por relembrar recentemente que encontrou duas cartas que Vasco lhe tinha escrito, revelando que muitas vezes desabafava consigo. Sobre o seu desenho e a sua arte, Mário Beja Santos revelou ainda que Vasco experimentou até chegar “àquele traço cortado e estilo”.
“Isto é uma conversa com muita saudade. Tenho muita saudade dele. Éramos dois amigos improváveis”, diz Mário Beja Santos durante o debate, acrescentando que o que o mais o impressionava sobre Vasco era a forma como este trabalhava: “Ele, fisicamente, não estava ali”.
Segundo o jornalista António Valdemar, também amigo de Vasco, a sua obra está dividida em três etapas: quando esteve em Paris (exilado), o seu regresso no pós-25 de Abril, e o seu trabalho nos dois jornais diários, Diário de Notícias e Público.
“O Vasco está em cima do acontecimento. Eu não diria propriamente que ele fosse um repórter da caricatura, porque há uma elaboração no Vasco que não está condicionada àquela facilidade da escrita”, explica.
António Valdemar mencionou ainda a cultura de Vasco e como esta era algo que fazia parte de si, relembrando em como ele fez parte de filmes portugueses e como no seu trabalho incorporou várias obras de Camilo Castelo Branco, devido à sua paixão pela literatura.
O ciclo de tertúlias termina no dia 10 de março, segunda-feira.