Uma vida de jornalista contada no Newsmuseum

Frontal e combativo, Baptista-Bastos (1934-2017) foi um dos mais conhecidos jornalistas portugueses da segunda metade do século XX. O Newsmuseum, em Sintra, evoca a sua carreira para além da pergunta "Onde é que estavas no 25 de Abril".
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"Afinfa-lhes e não os deixes estrebuchar", dizia o Bastos aos jovens jornalistas que, da sede do Diário Popular, na lisboeta Rua Luz Soriano, saíam em serviço de reportagem. O dito alastrou célere (hoje diríamos que se tornou viral) pelas redações do Bairro Alto, do concorrente (e vizinho de rua) Diário de Lisboa a A Bola e tornou-se parte da pequena lenda que envolveu Baptista-Bastos, jornalista e escritor que foi muito mais do que a pergunta "Onde é que estavas no 25 de Abril?", a que o grande público o associa. Vem isto a propósito da exposição multimédia "Evocação de Baptista-Bastos", que o Newsmuseum, em Sintra, lhe dedica e que pode ser visitada a partir da próxima 6.ª feira, 23.

Armando Baptista-Bastos nasceu a 27 de fevereiro de 1934, no bairro da Ajuda, com que teria sempre grande ligação. Filho de um tipógrafo de jornais (que chegou a chefiar a tipografia do matutino O Século) tornou-se jornalista aos 19 anos, justamente neste mesmo título, mas a sua associação aos movimentos de oposição ao regime de Salazar (participou, por exemplo, na revolta da Sé, em 1959) ditou o despedimento em 1960. Em 1962 colaborou com o realizador Fernando Lopes na adaptação do romance Domingo à tarde, de Fernando Namora, uma experiência que se repetiria no filme Belarmino, baseado na vida do boxeur português Belarmino Fragoso que BB entrevistara. Voltou ao Jornalismo no República e mais tarde no vespertino Diário Popular, onde esteve durante 23 anos (1965-1988) e conquistou notoriedade como repórter. Passou ainda por publicações como O Europeu, Época ou A Gazeta de Todas as Artes. Já nos anos 1990, apresentou na televisão o programa de entrevistas Conversas Secretas, onde a pergunta (recorrente) "Onde é que Estavas no 25 de Abril?" ganharia enorme popularidade.

Para além dos jornais, BB é ainda autor de mais de duas dezenas de livros de ficção e não ficção, em que se destacam O Secreto Adeus (romance ,1963) 0 Passo da Serpente (romance, 1965); A Palavras dos Outros (crónicas e reportagens, 1969); Cão Velho entre Flores (romance, 1974); Viagem de um Pai e de Um Filho pelas Ruas da Amargura (romance, 1981); Elegia para um Caixão Vazio (romance, 1984); A Colina de Cristal (romance, 1987); Um Homem Parado no Inverno (romance, 1991); ou O Cavalo a Tinta da China (romance, 1995 ). O seu último livro, Tempo de Combate, foi publicado em 2014 e reunia crónicas publicadas no DN e Jornal de Negócios. Conquistou vários prémios como o Prémio Literário Município de Lisboa, 1987; o do P.E.N. Clube Português de Ficção, 1987; ou ainda o do Clube Literário do Porto, em 2006. Morreu a 9 de Maio de 2017, na sua Lisboa natal e de toda a vida.

A exposição multimédia do Newsmuseum conta com os testemunhos de Isaura Baptista-Bastos (a sua mulher de toda a vida, com quem teve três filhos e de quem se dizia isauro-dependente), Mário Zambujal, Francisco Pinto Balsemão, Alexandre Borges, Gonçalo Pereira da Rosa, Rui Cardoso e Ernesto Rodrigues, com a curadoria de Alexandre Manuel. Quase tudo "malta" dos jornais, ou não tivessem sido a estes a sua maior paixão, como declarou numa entrevista ao Jornal de Negócios, em 2014: "Eu gosto de jornais, gosto do cheiro dos jornais, gosto das pessoas dos jornais, gosto de jornalistas. "

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