David Lynch no cenário de Twin Peaks: o cinema dá-se bem com os fantasmas.
David Lynch no cenário de Twin Peaks: o cinema dá-se bem com os fantasmas.

Uma maratona de filmes para reencontrar os enigmas de David Lynch

A obra de David Lynch continua no mercado cinematográfico português: os canais TVCine propõem uma coleção de longas-metragens realizadas entre 1977 e 2006 e algumas curtas menos conhecidas.
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David Lynch é, há muito tempo, um nome de culto na história do cinema. A notícia da sua morte (a 15 de janeiro, cinco dias antes de completar 79 anos) gerou um natural movimento cinéfilo de reencontro e redescoberta dos seus filmes. Aliás, por essa altura, no mercado português, estava já a decorrer um ciclo com vários momentos emblemáticos da sua filmografia. Agora, a programação dos canais TVCine acolhe os filmes desse ciclo e mais algumas raridades do seu inigualável, por vezes desconcertante, quase sempre enigmático universo criativo. 

Assim, hoje, 15 de fevereiro, no TVCine Edition (e também no TVCine+) começa uma maratona - “Os Mundos de David Lynch” - com seis longas-metragens. São elas, por ordem cronológica: 

1 - ERASERHEAD / NO CÉU TUDO É PERFEITO (1977). Longa-metragem de estreia, nela encontramos os primeiros sinais de um universo de decomposição de todas as formas clássicas de racionalismo, aproximando a dimensão humana do universo dos fantasmas — Jack Nance, ator fetiche de Lynch, é o protagonista. 

2 – O HOMEM ELEFANTE (1980). Em plena época vitoriana, um homem de rosto e corpo deformados, é explorado como um “monstro” do circo, até ser descoberto e protegido por um cirurgião que tenta devolvê-lo à vida social — crónica histórica e parábola poética, tem John Hurt no papel central, contracenando com Anne Bancroft e Anthony Hopkins. 

3 – TWIN PEAKS: OS ÚLTIMOS SETE DIAS DE LAURA PALMER (1992). Na sequência do impacto da série Twink Peaks (1990-91), Lynch “recuou” no tempo para encenar os dias que precedem a indecifrável morte de Laura Palmer — ou como o rigor de encenação de um produto de raiz televisiva se transfigura em aventura íntima, intimamente cinematográfica, no país dos medos humanos. 

4 – ESTRADA PERDIDA (1997). Talvez o filme em que Lynch mais desafia os limites figurativos e conceptuais do cinema, encenando uma intriga policial como a metódica descoberta dos fantasmas que habitam o quotidiano familiar e social — com Laura Dern, Bill Pullman e Robert Blake (naquele que foi o derradeiro título da sua filmografia). 

5 – MULHOLLAND DRIVE (2001). Naomi Watts e Laura Harring vivem uma aventura íntima e perturbante que é também uma viagem ao universo fascinante e assombrado dos bastidores de Hollywood — terá sido um dos títulos fundamentais para conferir a Lynch a dimensão de um autor de culto, reconhecido e admirado para lá de todas as fronteiras. 

6 – INLAND EMPIRE (2006). De novo nos bastidores de Hollywood, mais concretamente na rodagem de um filme, Lynch consegue a proeza de criar um “objeto” multifacetado que tem tanto de intriga policial como de exercício videográfico de experimentação — foi a sua derradeira realização para cinema. 

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Estes filmes estarão disponíveis até ao dia 16 de março, a par das curtas-metragens Six Men Getting Sick (1967), O Abecedário (1969), The Amputee (1974), The Grandmother (1974) e Premonition Following an Evil Deed (1995). 

Será ainda possível descobrir Twin Peaks: Fire Walk with Me — The Missing Pieces, um filme feito de “restos” de outro filme. Mais exatamente, em 2014, Lynch decidiu reunir algumas cenas, ou fragmentos de cenas, que não integraram a montagem final de Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer. São preciosos materiais de arquivo que, de alguma maneira, nos ajudam a rever e reavaliar as linhas de força de uma narrativa tão invulgar. Eis um sugestivo exemplo, com Sheryl Lee no papel de Laura Palmer. 

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