Vânia Blubird e Samuel de Albuquerque contam como interpretar Os Último Cinco Anos os toca. Afinal, é uma história de amor “com que todos nos podemos identificar, e quando o vemos não ficamos indiferentes, há reações. Nós precisamos de um espelho da vida, ver, às vezes, as coisas de perspectivas diferentes. E este musical dá-nos isso”, diz a atriz que interpreta Cathy, logo apoiada por quem veste a pele de Jamie: “é um musical com mais de 20 anos, mas sempre atual. Por ser uma história de amor e sem referências temporais. E isso para mim é mágico”..A conversa acontece na plateia, sentados onde três horas depois estarão, por sua vez, os espectadores a olhar como no palco do Teatro Armando Cortez/Casa do Artista a dupla de atores portugueses dá corpo e voz a um casal americano e à sua história de paixão, vida em comum e separação..Intitulado no original The Last Five Years, este é um musical que começou a ser interpretado num teatro de Chicago em 2001, passou no ano seguinte para Nova Iorque, off-Broadway, e depressa se globalizou, chegando a Lisboa em 2023 por iniciativa da Lisbon Film Orchestra, orquestra portuguesa com 16 anos fundada pelo maestro Nuno de Sá e pelo produtor Francisco Santiago. Esta é a segunda temporada, que termina já no dia 10..Nuno explica que a música dos filmes e das séries é aquilo que motiva o trabalho da associação cultural, sobretudo os concertos, o último em janeiro no Meo Arena, mas que também há uma componente pedagógica, a Academia Lisbon Film Orchestra, em que o teatro musical é ensinado, com um curso para jovens até aos 15 anos e outro para quem tem entre 16 e 35. E, portanto, está explicado como Os Últimos Cinco Anos, de Jason Robert Brown se transformou no espetáculo que está em exibição no Armando Cortez, com sessões ainda nas próximas quinta e sexta-feiras, também sábado e domingo. Sempre às 21.30, exceto no domingo, pois aí Vânia e Samuel sobem ao palco às 18.30..Curiosamente, foi através do filme que Richard LaGravenese fez em 2014 inspirado no musical que Nuno descobriu este Os Últimos Cinco Anos, a história de amor e desamor de Cathy Hiatt e Jamie Wellerstein, uma atriz a tentar afirmar-se e um escritor de crescente sucesso. Sabe-se que o autor se inspirou no seu próprio casamento com a atriz Theresa O’Neill (e esta não gostou de a sua vida ser mostrada, queixando-se em tribunal)..Em palco, Cathy conta a história a partir do fim, esse dia em que lê uma carta que lhe diz que o casamento terminou (e é o momento em que Vânia canta a versão portuguesa de Still Hurting), enquanto Jamie começa a sua narrativa pelo dia em que se apaixonaram (oportunidade para Samuel cantar Shiksa Goddess). Só numa cena o casal interage verdadeiramente em palco, a do pedido de casamento ..Vânia, como Cathy, e Samuel, como Jamie, na única cena juntos..“Desde o primeiro momento sentimos que este espetáculo podia chegar a muita gente, que poderia ser visto por qualquer pessoa e que iria tocar cada um de nós, porque isto é a história da nossa vida. E não tem um final triste, tem sim um final maravilhoso, a ideia de que já foi bom, valeu a pena”, sublinha Nuno, lisboeta de 44 anos..Vânia, nascida em Vila Nova de Gaia em 1991, Pereira de batismo, mas com Blubird como nome artístico, confessa que conheceu Os Últimos Cinco Anos logo por via do musical: “Já conhecia. Sou atriz e faço maioritariamente teatro musical. E, portanto, sou apaixonada por musicais e pesquiso há muito sobre o que há no mercado. Já tinha chegado ao encontro do The Last Five Years e era um dos meus musicais de eleição. Acho que para o Samuel também”. Sim, Samuel, nascido em Viseu em 1994 mas criado em Mangualde, diz desde o primeiro momento ter gostado desta peça, que é dos seus “musicais de eleição” e que a queria fazer desde que tirou o curso de teatro. Já sobre o filme, confessa não o ter cativado, explicando entre risos: “tem um dos meus atores de teatro musical favoritos e uma das minhas atrizes de teatro musical desfavoritas”. Refere-se a Jeremy Jordan e Anna Kendrick. “Fiquei apaixonadíssimo pelas músicas e pela forma como a história é contada. Então era um daqueles personagens e uma daquelas peças que eu dizia que gostava de fazer um dia. E aqui estou”, acrescenta Samuel..Rita Chantre / Global Imagens.Um dos segredos desta peça (a par do tema do amor/desamor e das belas músicas) é a relativa simplicidade de a levar a palco. Como explica Nuno: “vi que o musical tinha uma qualidade tremenda. E que havia possibilidade de o produzir. Sem necessidade de um grande investimento. Não era preciso uma orquestra muito grande, são seis elementos, e eram dois atores. Começámos a perceber que era possível oferecê-lo aqui em Portugal”. Mas não deixa de haver na Lisbon Film Orchestra a ambição, ou pelo menos o sonho, de um dia se poder montar um Portugal, com músicos e atores nacionais, um grande espetáculo, como os que fazem o sucesso da Broadway, em Nova Iorque, ou do West End, em Londres, e muitas vezes passam ao cinema. Este Os Últimos Cinco Anos em palco em Lisboa teve encenação de Pedro Pernas..E que grandes musicais são os favoritos deste trio de portugueses, que fala com tanto entusiasmo como aquele que põe em palco (na peça, Nuno é um dos seis músicos presentes)? “Neste momento eu tenho de dizer que tenho um Top 3, que é o Waitress, o Hamilton e o Once On This Island, que agora tem um revival, que fui ver a Nova Iorque, feito em 360º numa arena com areia, montaram uma ilha e a primeira fila tem os pés na areia. É maravilhoso” diz Vânia. Para Samuel são “Os Miseráveis, O Fantasma da Ópera, por que gosto muito de clássicos, e Hamilton, gosto mesmo muito de Hamilton. Mas Waitress também é muito bom. E gosto muito de Dear Evan Hansen. Nunca consigo escolher”. Já Nuno responde que “gostava muito de fazer West Side Story. E Os Miseráveis. E o Dear Evan Hansen. São os meus favoritos. O Waitress também está no meu top, mas esses três são os que gostava muito de produzir”.