Um grande Miguel Moura no encerramento da Temporada do Campo Pequeno
A Praça de Toiros do Campo Pequeno viu a sua temporada culminar esta sexta-feira com a corrida de toiros de Gala à Antiga Portuguesa que resultou num sucesso a todos os níveis.
Casa praticamente esgotada, grande ambiente e um resultado artístico, no geral, como há muito não se via em Lisboa, sem falsos alardes de triunfos porque houve efetivamente bom toureio.
Não tenho por hábito medir triunfos pela intensidade das palmas, até porque na grande maioria das vezes, as ovações em praça não são justas, fruto do desconhecimento de muito público que se conquista com o acessório em vez de toureio. Mas ontem o Campo Pequeno ia indo abaixo com o rejubilo pela atuação de Miguel Moura, e desta feita, com razão.
Do princípio ao fim da sua lide, o jovem cavaleiro teve a capacidade de se variar, recrear, de cativar a atenção e de emocionar verdadeiramente. O primeiro ferro comprido em sorte gaiola foi o rastilho para uma atuação de excelente nota para Miguel Moura. Aguentou a espera que o toiro lhe fez à saída, foi para cima dele e valente, cravou com decisão. Era para música imediata... falhou a competência nesse pormenor. A partir daí tudo o resto resultou numa lide completa, variada nas sortes, onde não faltou o cuidado em lidar o toiro (reforço sempre este ponto porque infelizmente cada vez temos mais "crava ferros" e menos toureiros). Um triunfo para recordar.
Outro cavaleiro já habituado a muitos triunfos é o experiente Luís Rouxinol que abriu praça nesta noite. E, julgo eu, não é fácil ser-se o primeiro, "aquecer" o público e deparar-se com um toiro de quase 700kg pela frente. Mas Rouxinol aguentou-se com ele, até porque o que o oponente tinha em peso, tinha em bondade. Com a égua deixou um extraordinário primeiro comprido, para nos curtos se evidenciar pela capacidade lidadora e pela ligação que manteve com o toiro, em ajustados ladeios à montada sem se deixar tocar. Rematou com um grande par de bandarilhas e um palmito de boa nota. Ressalvo um grande quite de capote de Manuel Santos "Becas" a este toiro, foi de toureiro!
Duarte Pinto foi outro que teve uma passagem feliz por Lisboa. Se nos compridos houve algum desajuste, nos curtos elevou o tom, com uma atuação muito assertiva, tanto na preparação das sortes como na efetivação dos ferros. E tudo isto com um só cavalo, o Cesário. Teve mérito!
Pablo Hermoso notou-se ser o mais "desejado" pelos presentes, pois qualquer ar de graça das suas montadas fazia valer aplausos. O rejoneador viu-se com um toiro com mais raça, que por vezes se emparelhava com o cavalo, o qual recebeu com brega apertada. Nem sempre o senti confiado, ainda assim Pablo cumpriu a papeleta com maestria e agradou ao conclave, deixando bons registos.
Luís Rouxinol Jr. teve em Lisboa dois toiros: o primeiro, o ter que tourear imediatamente após o estrondo de Miguel Moura, e o segundo o ter que tourear um toiro que teve algumas condicionantes. Um animal que se tapava e descaía para tábuas, características que o jovem ginete tentou contrariar com mando. Nem sempre conseguiu lidar na perfeição com os "dois oponentes", ainda assim a atuação foi em crescendo, e foi com o Girassol que logrou os melhores momentos da sua lide, com o público a render-se ao toureiro de Pegões.
Guilhermo Hermoso de Mendonza apresentava-se em Lisboa e também ele vinha disposto a tudo pelo que recebeu o seu toiro com um primeiro ferro comprido em sorte gaiola. Nos curtos, Guillermo repete o registo do seu pai, com muitos ares de alta escola equestre que agradam nas bancadas. O toiro que teve em sorte foi o de menos mobilidade e transmissão da corrida, pelo que deixou a ferragem da ordem sem romper.
Nas pegas estiveram dois Grupos em competição e ambos a não defraudarem.
Pelo Aposento da Moita deu o exemplo o seu cabo, Leonardo Mathias, que citou com classe, reuniu com decisão e consumou à primeira; João Freitas viu o toiro ensarilhar ligeiramente, mas aguentou bem também à primeira; e Martim Cosme esteve valente concretizando ao segundo intento, após uma voltareta na primeira tentativa.
Pelos Amadores de Cascais pegou Afonso Cruz que concretizou sem problemas à primeira; Rui Grilo, que se despediu das arenas, aguentou com valor a investida do toiro consumando à segunda; e Carlos Dias fechou a noite numa pega à primeira tentativa onde imperou o mando e decisão.
Lidaram-se toiros da ganadaria António Charrua, díspares em apresentação, pesados com fartura mas que não condicionaram o seu desempenho, sendo um curro no geral com mobilidade. Nobre e cómodo o "enorme" primeiro, a transmitirem com mais raça o segundo, terceiro e quarto, distraído o quinto e mais parado o sexto.
A corrida teve a particularidade de ser uma das mais queridas pelos aficionados, a de Gala à Antiga Portuguesa, havendo ainda tempo para uma homenagem a D. Álvaro Domecq e aos seus sobrinhos, António e Luís, família de rejoneadores e homens dedicados ao cavalo, com um percurso no mundo dos toiros de referência.
Praça de Toiros do Campo Pequeno (Lisboa) 08.09.2023
2ª corrida da Feira Taurina. Corrida de Gala à Antiga Portuguesa
Encerramento da Temporada de Abono
Director: João Cantinho
Veterinário: Jorge M. Silva
Empresa: Ovação&Palmas
Ganadaria
6 toiros de António Charrua.Díspares de apresentação e com peso médio a rondar mais de 600kg. Manejáveis no geral, destacou-se pelo comportamento o 2º valendo volta do ganadeiro à praça.
Cavaleiros
Luís Rouxinol, volta; Pablo Hermoso (rejoneador), volta, Duarte Pinto, volta; Miguel Moura, 2 voltas; Luís Rouxinol Jr., volta; e Guillermo de Mendoza (rejoneador), volta.
Forcados
Aposento da Moita. Leonardo Mathias, cabo (volta), João Freitas (volta) e Martim Cosme (volta)
Amadores de Cascais. Afonso Cruz (volta); Rui Grilo (2 voltas, despedia-se das arenas) e Carlos Dias (volta).