Depois de uma série de realizações partilhadas com o seu irmão Josh Safdie (Diamante Bruto, etc.), Benny Safdie estreia-se a solo com The Smashing Machine - Coração de Lutador, um retrato biográfico de Mark Kerr, figura muito popular nos EUA pelas suas proezas nas chamadas MMA, ou seja, “mixed martial arts”. O filme aposta num trunfo figurativo algo simplista, mas sempre curioso: a transfiguração física de um ator como forma de garantir a verdade (também física) da personagem retratada. O protagonista é Dwayne Johnson, lutador profissional celebrizado com o cognome The Rock, vedeta de cinema desde O Rei Escorpião (2002), depois popularizado através de títulos das séries Fast & Furious e Jumanji.Johnson é um “bom gigante” que está longe de ser um ator de muitas subtilezas - a sua presença decorre de um conceito de entertainment em que o caráter excecional do corpo é tudo, ou quase tudo, que o intérprete tem para oferecer. Neste caso, o tratamento visual está longe de ajudar, e não apenas por causa do esquematismo da encenação do corpo musculado. Acontece que a caracterização do rosto (e do cabelo!), procurando “duplicar” o próprio Kerr (que aparece na cena final), o transforma numa espécie de boneco Lego que, convenhamos, não favorece qualquer vibração dramática.Aliás, de dramaturgia importa falar. Kerr surge resumido a três componentes a que falta algum desenvolvimento: primeiro, para ele, mesmo consciente das reticências que as MMA suscitam, o prazer da luta confunde-se com a glória de vencer; depois, o uso de opiáceos condiciona as proezas da sua carreira; enfim, a sua companheira Dawn sofre os efeitos do desequilíbrio físico e emocional em que ele existe.No papel de Dawn, Emily Blunt muito se esforça por emprestar algum calor humano às cenas do par, mas não é fácil contrariar as limitações de diálogos que oscilam entre a vulgaridade “novelesca” e uma pueril densidade filosófica. The Smashing Machine não consegue gerar um qualquer arco dramático que empreste alguma consistência às relações humanas retratadas, até porque Safdie regista tudo em moldes banalmente televisivos, permanecendo “fora” dos ringues dos combates, sem estabelecer uma relação realmente física com o que está a acontecer.Pensamos, talvez, na herança dos filmes sobre o pugilista Rocky Balboa, concebido e interpretado por Sylvester Stallone. É certo que a respetiva série foi acumulando sequelas cada vez mais medíocres, mas o filme original (realizado em 1976 por John G. Avildsen) conseguia, pelo menos, revitalizar uma ideia de herói capaz de construir a sua própria lenda - com Dwayne Johnson, não há nada de lendário e o que resta de cinema é francamente pouco..'Honey Don’t!' O 'thriller' já não é o que era....'Lavagante'. O nosso passado a preto e branco