Carlos Leitão no Teatro da Trindade
Carlos Leitão no Teatro da TrindadePaulo Spranger

"Tenho playlist onde cabe Diego El Cigala, Rage Against the Machine, Gregory Porter, Chet Baker, Jorge Palma"

Fadista Carlos Leitão vai apresentar o álbum 'É tempo de ficar' num concerto em Lisboa, no Teatro da Trindade. Falou com o DN sobre o que lhe dá gosto, seja cantar ou escrever, e sobre o que ouve.
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É Tempo de Ficar é o seu quinto álbum. Sente que é diferente dos anteriores?

É seguramente o mais autobiográfico, tem muito a ver como meu percurso no fado e na vida nos últimos 25 anos. O álbum tem a maturação do balanço emocional e a aprendizagem do caminho inteiro. Assenta em três palavras: abalar, voltar, e ficar, significantes da ânsia com que vivi o passado, da convicção do regresso, e da serenidade com que vejo o futuro. E não deixa de ser curioso que, precisamente na mesma altura em que apresento o disco, voltei ao sítio de onde abalei, e onde quero ficar: o Alentejo.

Escreveu todas as letras. Para quem estudou Comunicação Social e chegou a ser jornalista escrever canções é uma evolução natural?

Eu comecei a escrever aos 15 anos. A escrita teve sempre um papel fundamental naquilo que sou, enquanto homem e artista. Chegou, primeiro, com a música, a paixão pelo jornalismo fez o resto. Não me recordo de mim sem escrever, de facto tornou-se um dos meus atos mais naturais, e este é um momento frutuoso, dado que estou a terminar o meu primeiro romance. Escrever é como cantar: balsâmico e libertador.

Vai ter agora um concerto no Teatro da Trindade, canta no Clube de Fado, grava discos. Sente-se mais à vontade numa destas facetas?

A casa de fados tem a particularidade de se tornar em cada noite num tubo de ensaio. É lá que tenho a primeira perceção do meu gosto pessoal e da reação do público àquilo que vou escrevendo para cantar, é um bom barómetro para a seleção. O estúdio é o casulo onde me sinto como peixe na água, até pela minha própria personalidade. O palco é a celebração do estúdio e da minha solidão, onde me apresento mais cru, onde ainda me envergonho, mas onde me sinto muito bem. No palco não dá para mascarar, sou eu, com a vulnerabilidade e a plenitude. Estão todos convidados: dia 8 de abril, às 21h, no Teatro da Trindade.

 Sei que dá concertos no estrangeiro. Lá fora como é sentido o fado?

É sempre uma sensação patriótica, especial, sem falsos paternalismos intelectuais ou históricos, apenas o gozo de sentir num público que não percebe a língua a verdade maior da música, e que é a realidade sensorial, o básico do estímulo e do arrepio sobre uma cultura que é a nossa. Um bom exemplo de um público extraordinário é o austríaco, do país real da música. Lá, desde a primeira vez, há 13 anos, o gozo é sempre o original, e não vale a pena tentar o artifício e o folclore. Eles conhecem, sabem do que vão à procura, e tratam-me muito bem ao longo de todos estes anos.

Que fadistas admira mais?

Fernanda Maria, Carlos Ramos, Max, Beatriz da Conceição, Amália, Carlos do Carmo e Camané são os nomes que me vêm imediatamente à cabeça. Mas há muitos mais.

Há um tema que gostasse de cantar num fado, mas que não tenha tido ainda a inspiração para escrever a letra?

Essa é uma pergunta desafiante. Talvez me faltem as palavras para escrever sobre os meus enteados. Não é fácil explicar este amor.

Fadista vai apresentar novo disco em Lisboa a 8 de abril
Fadista vai apresentar novo disco em Lisboa a 8 de abrilPaulo Spranger

O que ouve o fadista Carlos Leitão fora do mundo do fado?

É mais fácil dizer as minhas playlists que fiz para os diferentes estados de espírito. Além do fado, tenho uma para a música clássica, outra para o cante alentejano, e outra que se chama “Viagem”, onde cabe tudo: Diego El Cigala, Rage Against the Machine, Gregory Porter, Chet Baker, Jorge Palma, entre tantos outros.

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