"Tenho playlist onde cabe Diego El Cigala, Rage Against the Machine, Gregory Porter, Chet Baker, Jorge Palma"
É Tempo de Ficar é o seu quinto álbum. Sente que é diferente dos anteriores?
É seguramente o mais autobiográfico, tem muito a ver como meu percurso no fado e na vida nos últimos 25 anos. O álbum tem a maturação do balanço emocional e a aprendizagem do caminho inteiro. Assenta em três palavras: abalar, voltar, e ficar, significantes da ânsia com que vivi o passado, da convicção do regresso, e da serenidade com que vejo o futuro. E não deixa de ser curioso que, precisamente na mesma altura em que apresento o disco, voltei ao sítio de onde abalei, e onde quero ficar: o Alentejo.
Escreveu todas as letras. Para quem estudou Comunicação Social e chegou a ser jornalista escrever canções é uma evolução natural?
Eu comecei a escrever aos 15 anos. A escrita teve sempre um papel fundamental naquilo que sou, enquanto homem e artista. Chegou, primeiro, com a música, a paixão pelo jornalismo fez o resto. Não me recordo de mim sem escrever, de facto tornou-se um dos meus atos mais naturais, e este é um momento frutuoso, dado que estou a terminar o meu primeiro romance. Escrever é como cantar: balsâmico e libertador.
Vai ter agora um concerto no Teatro da Trindade, canta no Clube de Fado, grava discos. Sente-se mais à vontade numa destas facetas?
A casa de fados tem a particularidade de se tornar em cada noite num tubo de ensaio. É lá que tenho a primeira perceção do meu gosto pessoal e da reação do público àquilo que vou escrevendo para cantar, é um bom barómetro para a seleção. O estúdio é o casulo onde me sinto como peixe na água, até pela minha própria personalidade. O palco é a celebração do estúdio e da minha solidão, onde me apresento mais cru, onde ainda me envergonho, mas onde me sinto muito bem. No palco não dá para mascarar, sou eu, com a vulnerabilidade e a plenitude. Estão todos convidados: dia 8 de abril, às 21h, no Teatro da Trindade.
Sei que dá concertos no estrangeiro. Lá fora como é sentido o fado?
É sempre uma sensação patriótica, especial, sem falsos paternalismos intelectuais ou históricos, apenas o gozo de sentir num público que não percebe a língua a verdade maior da música, e que é a realidade sensorial, o básico do estímulo e do arrepio sobre uma cultura que é a nossa. Um bom exemplo de um público extraordinário é o austríaco, do país real da música. Lá, desde a primeira vez, há 13 anos, o gozo é sempre o original, e não vale a pena tentar o artifício e o folclore. Eles conhecem, sabem do que vão à procura, e tratam-me muito bem ao longo de todos estes anos.
Que fadistas admira mais?
Fernanda Maria, Carlos Ramos, Max, Beatriz da Conceição, Amália, Carlos do Carmo e Camané são os nomes que me vêm imediatamente à cabeça. Mas há muitos mais.
Há um tema que gostasse de cantar num fado, mas que não tenha tido ainda a inspiração para escrever a letra?
Essa é uma pergunta desafiante. Talvez me faltem as palavras para escrever sobre os meus enteados. Não é fácil explicar este amor.
O que ouve o fadista Carlos Leitão fora do mundo do fado?
É mais fácil dizer as minhas playlists que fiz para os diferentes estados de espírito. Além do fado, tenho uma para a música clássica, outra para o cante alentejano, e outra que se chama “Viagem”, onde cabe tudo: Diego El Cigala, Rage Against the Machine, Gregory Porter, Chet Baker, Jorge Palma, entre tantos outros.