'Te Deum' de Jean-Baptiste Lully na Basílica da Estrela
A Basílica da Estrela, inaugurada em 1794, no reinado de D. Maria I numa altura em que a rainha já estava enlouquecida pelas tragédias familiares e pelas notícias de cabeças coroadas decapitadas em França, vai acolher no dia 30, pelas 21.15, o Te Deum de Jean-Baptiste Lully, obra composta em tempos menos revolucionários por terras francesas e certamente do agrado da nossa primeira monarca, muito devota.
Lully, que viveu entre 1632 e 1687, é considerado o grande compositor da Corte de Luís XIV e “o pai da reforma da música barroca francesa, além de criador da ópera à francesa como género musical”, destaca o maestro Massimo Mazzeo, da Divino Sospiro, que é responsável pelo projeto Lisboa Música Antiga, uma série de concertos de música barroca realizados ao longo de 2024 dos quais este Te Deum é o último.
Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
“O Te Deum de Lully é considerado um dos marcos do repertório barroco e é, sem dúvida, uma pedra angular do Te Deum na sua expressão musical. Por respeito à escolha estética de grande profundidade que Divino Sospiro quis fazer com este projeto, foram convidados alguns dos mais conceituados artistas do panorama nacional e internacional da música antiga, nomeadamente o checo Vaclav Luks, hoje um dos mais apreciados maestros do repertório barroco com participações em grandes festivais e recentemente convidado pela Orquestra Filarmónica de Berlim”, acrescenta Mazzeo, músico italiano de longa data radicado em Portugal e fundador em 2003 da orquestra barroca Divino Sospiro. Os solistas, que Mazzeo descreve como “uma dose requintada dos melhores intérpretes nacionais”, serão Ana Quintans, Rodrigo Carreto, João Fernandes, aos quais se juntam “dois jovens de extraordinária qualidade de quem ainda vamos ouvir falar por muitos anos ao mais alto nível”, Eunice Abranches D'Aguiar e Nile Senatore.
O ciclo de concertos Lisboa Musica Antiga teve a sua abertura a 18 de abril, na Capela da Bemposta, com o contratenor alemão Andreas Scholl. E teve momentos de grande qualidade como o concerto de 27 de abril na Basílica dos Mártires pelo maestro e organista neerlandês Ton Koopman.
Entrevistado pelo DN em abril, a propósito do início do ciclo, Mazzeo descreveu o barroco como “uma extraordinária civilização da imagem e do som, orientada para atingir e envolver um vasto público, a fim de conquistar o seu consentimento com a força do espanto, da persuasão e da emoção. O dinamismo formal, a exuberância decorativa, o ilusionismo, a integração das artes e a teatralidade são as principais características da sua linguagem. Através de celebrações que se transformam em espetaculares rituais de massas, procurava-se exorcizar o medo do vazio e da morte. As igrejas revestem-se de mármore, de colunas retorcidas, de estuques dourados, de monumentos articulados, de música grandiosa e de coros majestosos.”
Sobre os seus compositores barrocos preferidos, o mastreo italiano confessou então ser impossível enumerar, mas referiu Monteverdi, Giovanni Bononcini, Bach, Händel, e com destaque Josquin des Prés. A estes grandes nomes, acrescentemos então Lully.