Vivemos numa era propícia à imaginação do thriller político. Se juntarmos o nome de um certo dirigente russo, ameaças com armas nucleares e uma bomba mediática, que mais é preciso para calibrar a tensão ficcional no ecrã? Partindo do romance homónimo de Magnus Montelius, a série sueca 8 Meses usa-se destes e de outros elementos para isso mesmo, com resultados tão notáveis quanto reminiscentes de Borgen. Nestes termos: Nina Wedén (Josefin Neldén) é apenas uma jornalista a passar um mau bocado quando, através de um desconhecido, se vê na posse de matéria explosiva, que mudará a sua carreira em poucos dias. A saber, depois de seguir as pistas que lhe foram dadas e assinar uma peça sobre o grande escândalo que leva à demissão do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, ela é convidada para o cargo de assessora de imprensa... do próprio ministro recém-nomeado, ignorando os perigos e a estranheza por trás de tal sequência de eventos. E rápida ascensão.A natureza do trabalho torna-se, assim, parte da vertigem desta criação de Jens Jonsson, Jörgen Bergmark e Henrik Zammel, hoje em estreia na Filmin, com seis episódios. Quer dizer, tudo começa na pura adrenalina jornalística de Nina, que, logo a seguir como assessora, irá adaptar-se à lógica dos corredores do poder, transferindo os seus conhecimentos para a tomada de decisões importantes na construção da imagem pública do novo, e muito bem-parecido, Ministro dos Negócios Estrangeiros. Enfim, sem revelar muito sobre a atmosfera irrespirável de 8 Meses, pode sublinhar-se que a vitalidade do thriller político está aqui numa rede mais ou menos involuntária de pessoas que, no fundo, só fizeram o seu trabalho. Uma rede que inclui Nina, mas também a consultora indiretamente responsável pela escolha do jovem ministro (o qual apresenta uma lacuna de oito meses no currículo, daí o título...). Envolvendo o tema da adesão da Suécia à NATO, entre outras referências a estes tempos devotos do “controlo da narrativa”, eis uma série vigorosa sobre o funcionamento dos bastidores governamentais, num cenário de insegurança nacional. E recorde-se: tudo começou numa rara oportunidade de trabalho.Cinco séries à volta de diferentes mundos do trabalhoMAMEN MAYO (SkyShowtime) Em tom bastante leve e gracioso, Mamen Mayo surpreende, desde logo, pela originalidade da proposta: imagine-se uma mediadora de conflitos de herdeiros que resolve casos bicudos com terapias excêntricas... Só podia ser uma série espanhola. Interpretada por Sílvia Abril, Mamen é uma personagem vencedora, sem tiques de heroína, com autoconfiança ilimitada e um espírito aventureiro que dá completamente a volta ao conceito de “conversas de escritório” - por falar em escritório, é também na SkyShowtime que se encontra The Good Fight, o melhor antídoto para este segundo mandato de Trump. . CONDENAÇÃO - O CASO DE STEPHEN LAWRENCE (RTP Play) Baseado na história verídica do homicídio de um jovem negro, Stephen Lawrence (1974-1993), na Grã-Bretanha, esta minissérie de apenas três episódios centra-se nos esforços do inspetor que, mais de dez anos depois dos acontecimentos, “refez” as inconclusivas investigações anteriores, na procura da justiça necessária para um caso de contornos racistas. Com Steve Coogan no papel principal, trata-se aqui de examinar o intenso processo de trabalho que levou à desmontagem das falácias acumuladas pelas outras investigações. . RIVAIS (Disney+) Apesar da estreia discreta, no final do ano passado, Rivals salta à vista como uma das séries mais estonteantes no catálogo do Disney+. Uma maratona pelos corredores/estúdios da televisão britânica nos anos 1980, que transforma o princípio da rivalidade numa dinâmica de excessos; não só mediáticos. Cada episódio, pintado a cores fortes, segue o jogo das relações (invariavelmente sexuais) e manobras num meio onde só se sobrevive pela fibra da ambição. O elenco talentoso é liderado pelo sempre impecável David Tennant. .THE STUDIO (Apple tv+) Na Apple TV+ nada destrona Severance como o absoluto “workplace drama”. Porém, The Studio é uma excelente alternativa bem-humorada para quem se interessa, em particular, pela balbúrdia da indústria de Hollywood. Cocriada, corealizada e protagonizada por Seth Rogen (na pele de um recém-nomeado executivo de um estúdio), esta sátira de dez episódios observa, com sentido coreográfico e bom ritmo, a eterna luta entre o autoral e o popular – para além da imprudência de fazer cinema em tempos de delicadas guerras culturais. .HACKS (Max) Chegou-nos em abril a quarta temporada desta que é a melhor série dos últimos anos dedicada aos bastidores da comédia stand-up. Ainda na linha de um olhar sobre as lides do show business, Hacks tem vingado através da sua estupenda dupla, formada pela comediante veterana Deborah Vance (o papel da vida de Jean Smart) e a “aprendiz” Ava Daniels (Hannah Einbinder). Seguir as suas desbundas e intrigas dramáticas é, pois, vislumbrar o funcionamento deste específico mundo do trabalho. Na nova temporada, foca-se a comédia em televisão.