A produção cinematográfica da Coreia do Sul tem vindo a impor-se em mercados de todo o mundo. A Palma de Ouro de Cannes para Parasitas (2019), de Bong Joon-ho, foi decisiva nesse processo, mas antes de tal triunfo essa produção era já um verdadeiro fenómeno de culto graças a autores como Kim Ki-duk, Hong Sang-soo e Park Chan-Wook -- este último pode ser agora (re)descoberto graças a quatro filmes propostos pela distribuidora Alambique Filmes..Os filmes estão, para já, anunciados, a partir de quinta-feira, no Cinema Fernando Lopes (Lisboa) e na Casa do Cinema (Coimbra), ficando também disponíveis na plataforma Filmin: são três títulos inéditos no circuito comercial e uma reposição. A sua difusão antecipa a estreia de Decisão de Partir (2022), o mais recente trabalho de Park Chan-Wook, também distinguido em Cannes (melhor realização) -- este será exibido extra-competição no LEFFEST (Cinema Medeia Nimas, sábado, 21h45), chegando às salas no dia 1 de dezembro..A trama do filme mais antigo, Em Nome da Vingança (2002), é reveladora do misto de mistério e inquietação que Park Chan-Wook gosta de explorar. Trata-se da história de um jovem surdo-mudo que procura um órgão para a sua irmã, necessitada de um transplante urgente... Mas o processo de obtenção desse órgão é tudo menos ortodoxo (envolve mesmo um rapto), criando o cenário de uma tragédia iminente..Para lá da presença do popular Song Kang-ho no elenco de Em Nome da Vingança (actor principal de Parasitas), o filme pode servir de resumo exemplar da estratégia narrativa e das opções artísticas de Park Chan-Wook. Assim, a sua visão apresenta-se obviamente enraizada em contextos especificamente coreanos; ao mesmo tempo, os seus ambientes nunca são estranhos à tradição do género policial ou, mais exactamente, à herança do cinema "noir" de Hollywood..Essa filiação temática e, sobretudo, estética ajudará a explicar o impacto universal dos seus filmes. Os outros dois inéditos a apresentar são também significativos. Vingança Planeada (2005) centra-se numa mulher que, aos 20 anos, foi aprisionada por um crime que não cometeu -- a sua vingança ocorre mais de uma década depois... Quanto a Sou um Cyborg, Mas Não Faz Mal (2006), o seu título ajuda, desde logo, a definir as suas componentes, algures entre o "suspense" e a comédia: seguimos a odisseia de uma jovem internada numa instituição mental, julgando-se detentora de poderes resultantes de transformações tecnológicas a que foi sujeita....Em Thirst - Este É o Meu Sangue (2009), já estreado no mercado português, voltamos a encontrar Song Kang-ho, agora numa saga que convoca outro tipo de tradição cinematográfica: o filme de vampiros. Ele é um padre católico que aceita participar nos estudos para encontrar uma vacina contra um vírus letal: tendo recebido sangue de origem desconhecida, transforma-se num implacável caçador de seres humanos capazes de satisfazer a sua ânsia de sangue -- é mais um título distinguido em Cannes, neste caso com o Prémio do Júri..Vale a pena lembrar que Em Nome da Vingança e Vingança Planeada integram a chamada "Trilogia da Vingança". O título do meio, Oldboy - Velho Amigo (Grande Prémio de Cannes/2003) continua a ser o filme mais popular de Park Chan-Wook, tendo mesmo gerado um "remake" americano (assinado por Spike Lee, em 2013). Desta vez não regressa às salas, mas poderá ser visto na Filmin, também a partir do dia 17..dnot@dn.pt