Presente passado e futuro mais que perfeito à moda da Torrinha
Pedro Bale faz a crónica da corrida na Praça de Toiros de Almeirim, que teve lotação esgotada na sexta-feira para ver a família Ribeiro Telles em ação.
Com lotação esgotada, a Praça de Toiros de Almeirim abriu as suas portas na sexta-feira, dia 16 de setembro, às 22:00 horas, para a tradicional "Corrida das Vindimas", organizada a favor da Santa Casa da Misericórdia desta cidade (angariou um valor de 46 mil euros) com uma corrida séria de Passanha, uniforme na sua apresentação e rematada, nobre, aqui e ali brava e manejável no seu conjunto, a possibilitarem o brilho dos toureiros, com destaque especial para o segundo, alegre, bravo e dando excecionais condições de lide.
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A corrida tinha como particular aliciante ser toda ela lidada pela família Ribeiro Telles, com a maestria e as boas surpresas que sempre nos reservam nos dias em que atuam juntos. Na terra que viu nascer num dia de São Martinho de 1927 o seu pai e avô Mestre David Ribeiro Telles, evidenciaram-se, peculiarmente, Manuel Telles Bastos, na faena mais redonda e conseguida da noite, seu primo João Ribeiro Telles, que numa lide em crescendo, rematando da melhor forma com a emoção e a verdade do último curto com o Ilusionista, e, a terminar, no momento de maior emoção e classe da noite, no sexto toiro, António Ribeiro Telles, nos compridos.
Conseguidas atuações dos Grupos de Forcados Amadores e do Aposento da Chamusca, com destaque para as pegas de Miguel Santos, dos primeiros e a levada a efeito por Francisco Montoya, dos segundos. A corrida foi superiormente acompanhada pelas guitarras de Custódio Castelo e João Chora, que foram alternando numa simbiose feliz com as intervenções da Banda Filarmónica do Centro Cultural Azambujense.
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Cavaleiros
Maestro António Ribeiro Telles abriu praça com um toiro negro, cornilargo e de cara avacada, bem apresentado, nobre, mas a vir de mais a menos ao longo da lide. Depois de uma brega inicial de boa nota com o toiro na garupa do cavalo, destacaram-se os três primeiros curtos, ao pitón contrário e ferrados ao estribo, que chegaram às bancadas. A faena terminou com uma nova brega de excelência, colocando o toiro na porta dos cavalos, onde lhe ferrou um quarto e último curto, de frente e comprometido, mas sem que o toiro permitisse, por reservado na sua investida, maior brilho.
A Manuel Telles Bastos saiu-lhe um toiro bem apresentado, negro, bravo, pronto, codicioso e alegre na investida, que lhe permitiu triunfar. O cavaleiro, depois de uma brega em que o submeteu na garupa, entendeu perfeitamente o toiro, deixando-lhe um primeiro ferro comprido de boa nota e um segundo, ao estribo, superior. Nos curtos, depois de um primeiro a aguentar bem a investida, mas com ferragem traseira, ouviu música. O segundo foi de grande qualidade e os seguintes sempre em crescendo, com um quinto e um sexto, ambos ao pitón contrário, superlativos. À boa ferragem aliou o ginete uma enorme serenidade e senhorio, com uma alegria sorridente e contida, saboreando o toureio que foi interpretando ao longo da lide, numa conexão fluida com o público, que lhe retribuiu uma ovação unânime. Uma das mais completas faenas que lhe vimos e que temos visto...
João Ribeiro Telles com um toiro negro, bonito e igualmente bravo, depois de uma porta gaiola sem relevância especial, brega de forma excecional colocando o toiro em frente aos curros e, ladeando, encurta distâncias e ferra com elegância e ao estribo um segundo comprido. Já com o russo Coimbra, depois de uma brega perfeita com o toiro empapado na garupa, ferra um terceiro curto ao estribo em terrenos comprometidos e de verdade, com o toiro a adiantar-se e que resulta emotivo. Por fim, com o Ilusionista, colocando de frente para os curros um último ferro portentoso, provocou o delírio nas bancadas.
António Ribeiro Telles Filho lidou o maior toiro da corrida, com 570 Kg, negro e nobre, iniciando a sua faena com dois compridos, de boa nota, ganhando o pitón contrário e ao estribo. Depois de um bom primeiro curto nos médios, colocou um segundo, atacando o toiro na porta dos cavalos, com uma reunião perfeita ao estribo, que o público ovacionou. Nos dois seguintes, não diminuiu o compromisso, ambos reunindo ao estribo e no quarto curto frente aos curros, fê-lo depois de uma preparação rodopiando várias vezes antes da viagem. No último, com outra preparação excelente em círculos concêntricos e de bom estilo, entrando com ganas e em terrenos de aperto, não teve da parte do seu opositor a investida que a sua entrega merecia. Uma lide importante, séria e conseguida, denotando já uma maturidade e uma serenidade significativas.
Tristão Telles Queiroz toureou o último, trazendo à praça uma lufada de ar fresco, de alegria, de irreverência. Depois de um segundo comprido, numa viagem de poder a poder e reunindo ao estribo, houve três curtos todos de boa nota, colocados em terrenos de compromisso, ganhando o pitón contrário e que chegaram ao público. Porque havia alegria, as guitarras apuraram seus trinados e, em homenagem à beleza da melodia que ouvíamos, o Tristão solou também com um violino de exceção que pôs as bancadas ao rubro.
Mas a noite era de festa e de emoções maiores e o melhor estava para vir. No sexto toiro, os Telles não quiseram ninguém de fora e tourearam os cinco numa faena "à moda da Torrinha" e que começou da melhor forma, com o António Ribeiro Telles no seu primeiro comprido, recebido à porta gaiola, bregando cingido e junto às tábuas com duas voltas pela esquerda com mando íntegro e fluido temple, colocando o toiro, debaixo de uma ovação unânime do público e ultimada com um ferro partindo dos curros e ao estribo, redobrando a emoção na bancadas e aplaudida de pé. Soou logo a música. Depois vieram os curtos, em que o Manuel Telles Bastos e o João Ribeiro Telles se foram recriando, ultimado por um carrossel perfeito. A terminar, mais um violino do Tristão e um ferro de palmo do António Filho. Alegria plena nas bancadas e os Ribeiro Telles em volta conjunta à arena a retribuir a ovação unânime e de pé do público. Acabou com todo o povo e os artistas a cantar felizes e a plenos pulmões "A Portuguesa"! Que grande corrida, Senhores!
Forcados
Pegaram os Grupos de Forcados Amadores da Chamusca (GFAC) e do Aposento da Chamusca (GFAdoAC), com atuações conseguidas.
1.º Nuno Marecos (cabo do GFAC), de caras, à primeira tentativa, chamando de largo frente aos curros e, após parar nos médios, enche a cara ao toiro focado e provoca a investida carregando bem.; recua e acopla-se à córnea numa reunião sem violência. O toiro faz uma viagem curta e, sem força, afocinha, acabando o Grupo por ajudar segura e eficazmente;
2.º Francisco Montoya (GFAdoAC), de caras, à primeira tentativa, chamando serenamente até aos médios até focar o toiro; carrega-o com decisão, provocando uma investida impetuosa e em galope forte do toiro e, porque recua equilibrado e na medida certa, o toiro humilha e fecha-se com segurança à córnea, numa viagem sem sobressaltos e bem ajudado pelo Grupo;
3.º Miguel Santos (GFAC), de caras, à primeira tentativa, com o toiro a ser colocado nos tércios, chamando-o até aos médios e carregando sem sucesso; mantém-se a escassa distância e carrega o toiro uma vez mais, que parte com ímpeto, recuando o forcado bem e fechando-se à córnea, numa viagem dura, com dois derrotes significativos e com o toiro a despejar parcialmente o Grupo em tábuas e a rodar para a direita, a derrotar novamente; o forcado de caras não perde a cara do toiro e aguenta com galhardia até o Grupo se recompor e finalmente conseguir ajudar, resultando a pega emocionante;
4.º Vasco Coelho dos Reis (GFAdoAC), de caras, à segunda tentativa, parando nos médios, carregando e recua bem, fechando-se com segurança à barbela, viajando sem derrotar e afocinhando; na primeira tentativa, recebe igualmente bem e à barbela, com o toiro a afocinhar e a atropelar o forcado na viagem;
5.º Francisco Rocha (GFAC) de caras, à segunda tentativa, colocando o toiro nos tércios em frente aos curros, chama de largo, recua pouco, mas fecha-se bem a córnea, com o Grupo ajudar com eficácia; na primeira tentativa, carrega bem, mas não recua, recebendo empranchado e sem consentir a investida do toiro;
6.º Francisco Sotto Barreiros, de caras, à primeira tentativa, carregando em curto e fechando-se bem à córnea; o toiro viaja sem sobressaltos e afocinha. (volta).
Síntese da Corrida: Praça de Toiros de Almeirim
16 de setembro de 2022 - Corrida das Vindimas, com Lotação Esgotada
Ganadaria
Passanha. Pesos: 1.º- 505 Kg; 2.º- 540 Kg; 3.º- 545 Kg; 4.º- 570 Kg; 5.º- 555 Kg; 6.º 550 Kg.
Cavaleiros
António Ribeiro Telles, de negro e ouro, (volta) Manuel Telles Bastos, de azul água e ouro (volta), João Ribeiro Telles, de bordéus e ouro (volta), António Ribeiro Telles Filho, de azul e ouro (volta) e Tristão Telles Queiroz, de azul e ouro (volta); Todos (volta).
Forcados
Amadores da Chamusca: de caras, Nuno Marecos (Cabo), à primeira (volta); Miguel Santos, à primeira (volta); Francisco Rocha, à segunda (volta); Amadores do Aposento da Chamusca, Francisco Montoya, à primeira (volta); Vasco Coelho dos Reis, à segunda (volta); Francisco Sotto Barreiros, à primeira (volta).