Segunda longa-metragem de Léonor Serraille, e a primeira com estreia em Portugal, O Irmão Mais Novo surge-nos como uma viagem de sentido único – é a viagem de Rose e dos seus dois filhos, Jean e Ernest, para quem o destino não sorrirá da mesma maneira. Ou talvez isto não tenha nada a ver com destino... Vindos da Costa do Marfim, vemo-los já chegados a França, Paris, só com o som em fundo do avião a aterrar e a narração em off de um dos filhos, que recorda essa chegada, em 1989, questionando os sentimentos indecifráveis da mãe na altura; uma mulher que, como veremos, não encaixa no comportamento comum do imigrante, qual corpo inquieto e cioso da sua liberdade, com uma preocupação vaga em relação ao futuro das duas crianças..Rose, notavelmente interpretada por Annabelle Lengronne, será então o primeiro ângulo deste filme organizado em três perspetivas e décadas: começa na mãe e passa depois para cada um dos filhos, conforme se avança no tempo, acabando por justificar o título Un Petit Frère, O Irmão Mais Novo, com a demonstração de que o pequeno Ernest continha nele alguma espécie de promessa. Enfim, nada de espetacular, mas à escala da sua condição de imigrante, uma conquista admirável que se foi construindo silenciosamente, através da gestão da tristeza e de uma secreta postura de interesse pelo conhecimento..Usando esta estrutura a três tempos para fazer uma crónica familiar – o modo como cada personagem se adaptou à realidade francesa –, O Irmão Mais Novo não consegue propriamente sustentá-la com camadas de subtileza ou substância, apesar do trabalho sensível da diretora de fotografia Hélèle Louvart. No geral, há uma brandura que toma conta do retrato e torna o filme uma experiência indolor, tão discreta quanto imprecisa; mesmo quando vemos Rose fugir ao protótipo da mulher negra imigrante, vivendo a sexualidade sem complexos (ao invés da imagem mártir de uma mãe solteira)..Pode dizer-se que Serraille optou bem pela não dramatização excessiva de um cenário que tende a ser explorado pela linha da desgraça mais visível, e é também justo reconhecer a sua delicadeza no desenho das personalidades que se vão revelando à medida que o tempo escreve a sua narrativa. Acontece que em nenhum momento há um rasgo que nos faça sentir a visão da realizadora sobre o que está a filmar. Será ainda uma história sobre a identidade? Sim, talvez, embora esse pareça um aspeto demasiado ténue, não concretizado, que se perde na massa amorfa da acumulação de perspetivas (perspetivas que têm sobretudo a ver com a forma como os filhos registam o entorpecimento existencial da mãe). O filme resvala para um certo tédio marcado na cara de Rose/Lengronne, que parece indiferente à natureza das emoções – e sim, esse pode ser o ponto dela, mas contamina involuntariamente a perceção da viagem.