"O Festival Internacional George Enescu é um ponto de referência no cenário musical europeu e internacional"
Petrica Tanase

"O Festival Internacional George Enescu é um ponto de referência no cenário musical europeu e internacional"

Dinu Gindu, diretor do Instituto Cultural Romeno, fala do evento inspirado no famoso músico que vai ter lugar em Bucareste, e que é apresentado este sábado em Lisboa.
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Qual a importância de George Enescu para a música romena?

George Enescu é uma das personalidades mais importantes da cultura romena e um nome de referência na música universal. Compositor, violinista, pianista, maestro e pedagogo, Enescu foi um verdadeiro génio musical, reconhecido tanto no seu país natal quanto internacionalmente. Para a cultura romena, Enescu representa um símbolo de valor e sofisticação de requinte artísticos. Nas suas composições, integrou elementos do folclore romeno, contribuindo decisivamente para a promoção da identidade cultural nacional. Obras como Rapsódias Romenas ou a ópera Édipo refletem profundamente as raízes e o espírito do povo romeno, numa linguagem musical de altíssimo nível. No plano internacional, Enescu é reconhecido pela originalidade e complexidade de sua obra. Foi considerado por grandes músicos, como Yehudi Menuhin, um dos maiores músicos de sua época. Através da sua atividade pedagógica, influenciou gerações de intérpretes e compositores, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da música clássica no século XX. Hoje, o legado de George Enescu é homenageado através do Festival Internacional George Enescu, um dos mais prestigiados eventos musicais do mundo, que reúne artistas renomados e promove a música clássica ao mais alto nível.

Podemos considerar o Festival Enescu, que terá lugar em finais de agosto e em setembro em Bucareste, como um dos grandes festivais de música clássica da Europa?

Sem dúvida, o Festival Internacional George Enescu é hoje um ponto de referência no cenário musical europeu e internacional. A edição de 2025 promete ser memorável, com mais de 95 concertos e cerca de 4000 artistas de todo o mundo. O festival reúne, no mesmo palco, orquestras de renome mundial, maestros consagrados e jovens músicos em ascensão. Durante quase um mês, Bucareste transforma-se numa verdadeira capital da música clássica, e o crescente interesse internacional confirma o prestígio e a relevância deste evento. Chegando à sua 27.ª edição, o Festival Internacional George Enescu é reconhecido como um dos mais importantes e respeitados festivais de música clássica do mundo. Entre 24 de agosto e 21 de setembro de 2025, Bucareste acolherá artistas de 28 países, em mais de 95 concertos realizados sob o tema Celebrations. Esta edição de aniversário – a maior da história do festival – marca os 70 anos desde o falecimento de George Enescu e coloca em destaque tanto a sua criação, quanto obras fundamentais do repertório musical universal. Entre os ilustres artistas convidados destacam-se, e, com a sua permissão, passo a enunciar: Martha Argerich, uma das mais importantes pianistas do século; Anne-Sophie Mutter, um símbolo da excelência violinística contemporânea; Jean-Yves Thibaudet, pianista de referência no repertório francês; Sol Gabetta e Gautier Capuçon, dois dos violoncelistas mais aclamados da atualidade; Asmik Grigorian, Sonya Yoncheva, Kristine Opolais, Benjamin Bernheim, Rachel Willis-Sorensen, Magdalena Kozená, Ruxandra Donose – vozes de destaque no palco lírico internacional, Paavo Järvi, Manfred Honeck, Daniel Harding, Daniele Gatti, Lahav Shani, Iván Fischer, Gianandrea Noseda, Klaus Mäkelä – maestros de classe mundial, Sir András Schiff, Rudolf Buchbinder, Alexandre Kantorow, Kirill Gerstein, Lucas e Arthur Jussen, Leif Ove Andsnes, Alexandra Dariescu – pianistas de grande prestígio, Isabelle Faust, Nemanja Radulovic, Augustin Hadelich, Daniel Lozakovich, Christian Tetzlaff – violinistas de renome ou violoncelistas como Kian Soltani, Valentin Raduțiu, Andrei Ionița, Marc Coppey, entre outros. Entre as orquestras de renome mundial convidadas este ano, encontram-se, e enuncio de novo: Royal Concertgebouw Orchestra, Philharmonia Orchestra, Royal Philharmonic Orchestra, Orquestra Filarmónica de Roterdão, Orquestra Nacional de França, Orquestra da Academia Nacional Santa Cecilia, Staatskapelle Dresden, Tonhalle-Orchester Zürich, Orquestra Sinfónica da WDR Colónia, Orquestra Sinfónica da Rádio de Frankfurt, Scottish Chamber Orchestra, Budapest Festival Orchestra, Orquestra de Câmara Mahler, Chamber Orchestra of Europe, Academy of Saint Martin in the Fields, Orchestra of the Age of Enlightenment, Sinfonia Varsóvia, Orquestra de Câmara de Lausanne, Accademia Bizantina, Il Giardino Armonico, Les Siècles, bem como importantes coros, como: London Voices, Coro da Rádio da Letónia, Coro de Câmara da Estónia, Coro NFM de Wrocław, entre outros. O Festival apresentará mais de 45 obras de George Enescu, incluindo uma produção monumental da ópera Édipo, encenada por Stefano Poda, com o maestro Tiberiu Soare e um elenco de excelência. Serão ainda apresentadas oito outras óperas, entre as quais L’Heure espagnole, de Ravel, interpretada pela Orquestra de Valência, sob a batuta de James Gaffigan.

Vão celebrar também alguns compositores, certo?

Sim, a edição deste ano celebrará aniversários marcantes de grandes compositores: Maurice Ravel (150 anos do nascimento), Pierre Boulez (100 anos), Dmitri Shostakovich (50 anos da morte), Arvo Pärt (90 anos) – traçando assim um verdadeiro fresco musical dos séculos XX e XXI. O Festival possui igualmente uma forte dimensão educativa: a Orquestra Juvenil Romena atuará em conjunto com a Gustav Mahler Jugendorchester, sob a batuta de Manfred Honeck, e os vencedores do Concurso Internacional Enescu 2024 apresentar-se-ão com agrupamentos de excelência como a Orquestra de Câmara de Lausanne e a Orquestra Filarmónica de Roterdão. Através da diversidade do programa, da excelência artística e da abertura à inovação (incluindo projetos como Enescu – JTI Immersive Experience), o Festival Enescu está a consolidar a sua posição de liderança na Europa e no panorama cultural global.

Os romenos são grandes apreciadores de música clássica?

Sim, a Roménia tem um público ativo e fiel à música clássica. Este interesse é cultivado através da tradição, da educação musical ainda presente nas escolas e conservatórios, mas também graças a eventos como o Festival Internacional George Enescu, que atrai dezenas de milhares de espectadores. A cada edição, observamos um público diversificado – desde aficionados da música a jovens recém-iniciados na música clássica. É um público que não só se limita a consumir, como também compreende e apoia os valores deste género artístico.

Sei que há uma tradição de músicos romenos em orquestras um pouco por todo o mundo. Em Portugal também?

Portugal tornou-se uma segunda casa para muitos músicos romenos que, ao longo dos anos, têm enriquecido o palco da música clássica neste país, quer como intérpretes, quer como pedagogos. Entre eles, lembramos o pianista Constantin Sandu, professor na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto, o violinista Laurențiu Ivan Coca e o violista Ceciliu Isfan, ambos membros da Orquestra Sinfónica Portuguesa - este último sendo também professor no Conservatório Regional de Artes do Montijo, a antiga meio-soprano e professora de música Liliana Bizineche, o violinista Radu Ungureanu, antigo concertino assistente da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, os violinistas Adrian Florescu e Liviu Scripcariu da Orquestra Metropolitana de Lisboa, a pianista Dana Radu, professora no Conservatório Nacional de Lisboa, a soprano Ecaterina Neagu, professora no Conservatório de Viseu; a pianista Amelia Olivia Iliescu do Conservatório do Vale do Sousa, e o guitarrista Titus Isfan, professor do Conservatório Regional de Arte do Montijo. Esta é apenas uma seleção - muitos outros músicos romenos continuam a contribuir para a vida musical em Portugal. A sua presença reforça um diálogo cultural vivo entre a Roménia e Portugal - na linguagem universal da música.

Quem são os músicos que vão atuar, para promover o Festival Enescu, neste sábado, em Lisboa, na Fundação José Saramago?

No sábado, na Fundação Saramago, os amantes da música terão a oportunidade de assistir a um recital excecional, apresentado por dois artistas romenos de destaque. Maria Marica – violinista vencedora do Concurso Internacional George Enescu de 2022 – subirá ao palco com uma técnica requintada e uma profundidade expressiva que conquistaram tanto o júri como o público. É uma das jovens promessas mais brilhantes da música clássica europeia. A acompanhá-la estará Gabriel Gîtan, o pianista acompanhador oficial do Festival George Enescu, conhecido pela sua sensibilidade musical, versatilidade e estilo interpretativo requintado. O concerto promete uma viagem musical repleta de virtuosismo e emoção, destacando a próxima geração de grandes intérpretes da música clássica.

Que obra de Enescu seria a sua recomendação pessoal para um iniciante? Pode fazer uma sugestão?

Sim, com certeza! Para quem está a descobrir a música de George Enescu pela primeira vez, recomendaria a Rapsódia Romena nº 1 em Lá maior – uma obra emblemática, acessível e profundamente expressiva, na qual Enescu transforma temas folclóricos num espetáculo orquestral cheio de cor. É uma porta de entrada ideal para o seu universo musical. Para quem deseja aprofundar a obra de Enescu, recomendo vivamente a integral das obras sinfónicas recentemente gravada por Cristian Macelaru, à frente da Orquestra Nacional de França, lançada pela prestigiada editora Deutsche Grammophon. É uma realização monumental que consegue transmitir a riqueza emocional e a complexidade técnica da música de Enescu numa interpretação única e fiel ao espírito do compositor.

Cristian Macelaru, diretor artístico do Festival Internacional George Enescu, está em Lisboa a convite da Embaixada da Roménia e do Instituto Cultural Romeno. O que significa esta visita para a promoção da cultura romena em Portugal?

Estamos muito felizes por ter ao nosso lado Cristian Macelaru, uma personalidade de destaque na música clássica internacional e um embaixador excecional da cultura romena. Para além do seu papel como diretor artístico do Festival Enescu e maestro principal da Orquestra Nacional de França, é também diretor do Festival de Cabrillo, nos Estados Unidos, e foi recentemente anunciado como diretor da Orquestra Sinfónica de Cincinnati, o que torna a sua presença aqui ainda mais valiosa. A sua visita a Lisboa, no âmbito de um evento organizado pelo Instituto Cultural Romeno, tem como objetivo dar visibilidade à música de Enescu e criar um diálogo cultural entre a Roménia e Portugal. É uma oportunidade rara e preciosa de apresentar ao público português uma parte essencial do nosso património musical, através da voz de um artista que o compreende e o interpreta ao mais alto nível.

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