Na Casa de la Pia Almoina, o edifício adjacente à Sagrada Família de Antoni Gaudí, em Barcelona, pode ser vista, até 9 de junho, uma exposição com as cinco propostas de esculturas do Agnus Dei (cordeiro de Deus) a colocar na cruz da torre mais alta da basílica. Os cinco escultores foram convidados pelo arquiteto responsável pela obra que começou a ser construída em 1882. Entre o grupo está o português David Oliveira, cuja proposta - que não foi a escolhida, quem terá o seu Agnus Dei na Sagrada Família será o escultor italiano Andrea Mastrovito -, pode ser agora apreciada pelo público na cidade catalã. David Oliveira dedicou-se de corpo e alma a este projeto durante um ano. Não ganhou, mas estar entre os cinco artistas já é uma conquista. “Segundo eles, o meu nome vai ficar para sempre ligado à Sagrada Família. Portanto, já estou no livro da Sagrada Família e, para mim, que sou um grande fã de Gaudí, é uma grande honra ”, diz David Oliveira, segurando na mão uma maquete do cordeiro que concebeu. O convite para participar neste projeto foi uma surpresa. “Estava a preparar o almoço, recebi uma chamada, vi que era de Barcelona e do outro lado alguém disse: ‘Olá, eu sou Jordi Fauli, o arquiteto da Sagrada Família. Precisávamos que viesses cá para conversarmos. E eu fui lá e eles fizeram-me uma proposta.”O escultor explica que “Gaudí deixou escrito que no topo da torre mais alta teria um cordeiro, um Agnus Dei, que deveria ser visto por toda a Barcelona e iluminar toda a cidade. E isso seria feito por um artista contemporâneo. E eles disseram que tinham escolhido cinco artistas e eu era um deles, se eu queria...”. . David Oliveira não só queria como meteu logo mãos à obra. “A primeira coisa que eu fiz foi ir para o campo desenhar ovelhas e cordeiros. Mas decidi que não ia pegar pelo naturalismo. Ou seja, não ia fazer um cordeirinho, porque achei que não tinha nada a ver com a Igreja. Com a sua sumptuosidade, com todas as regras da Igreja. Fui o único que o fez, por isso é que estou a dizer isto. Ou seja, os outros fizeram todos um cordeiro inteiro e eu resolvi cortar uma parte”. Após a visita a vários museus e uma grande pesquisa de imagens, optou por representar o cordeiro com uma pata levantada, como aparece muitas vezes na iconografia religiosa. O artista trabalha habitualmente com arame, as suas esculturas parecem desenhos tridimensionais, e uma das exigências do projeto era o cordeiro ser em vidro. Esse foi um dos grandes desafios para David Oliveira, obrigando-o a muita pesquisa. O outro foi a vista de baixo da escultura. “A torre é visitável. Grupos de pelo menos dez pessoas podem subir à torre numa escada circular e quando chegarem lá a cima vão poder ver o cordeiro debaixo. E, na verdade, isso era uma das grandes dificuldades do cordeiro, o ponto de vista”. A proposta final do escultor português, de três metros por 1,5 metros, chama-se O Último e Verdadeiro Pacto e é uma cordeiro em vidro com uma estrutura em ferro dourado com alguns apontamentos em vidro vermelho (gotas de sangue) e azul (a estrela na cabeça do cordeiro). David Oliveira diz que não quis limitar-se a representar um cordeiro, mas contar uma história com referencias ao ritual do sacrifício do cordeiro. O casco de uma das patas tem uma forma que remete para um cálice, no pescoço, atrás, está espetada uma adaga com cabo em cruz, e na cabeça há uma estrela que remete para Jesus. “Porque o que eu fiz foi, além de mostrar um cordeiro, quis dar a interpretação como se fosse um livro de catequese”, diz.A temática religiosa está noutros trabalhos do artista, que aliás tem um conjunto de obras de arte sacra que quer expor numa igreja, e só não o fez até agora porque ainda não encontrou uma que estivesse disposta a abrir-lhe as portas. Um dos seus trabalhos, a Pietà, no entanto, pode ser vista na Igreja das Mercês, em Lisboa. David Oliveira também escreveu um livro sobre como trabalhar com arame, um material que domina como ninguém, e está à procura de editora para o publicar. “O livro pega no meu trabalho, mas também tem uma parte pedagógica, ensina a fazer, tem projetos, diz às pessoas como explorar o desenho tridimensional..A espada de D. Dinis e outros desafios do laboratório de conservação e restauro do Estado.Rui Câmara Borges: “As universidades formam conservadores-restauradores excessivamente generalistas”