O Bolo de Noiva de Joana Vasconcelos com entrada para um conto de fadas

O pavilhão escultórico é inaugurado amanhã numa cerimónia que contará com a presença do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e do atual duque de Wellington. Abertura ao público é no dia 18. O DN foi conhecer a obra da artista portuguesa em Waddesdon Manor.
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Entrar dentro de um bolo de noiva quase parece algo de impossível e mágico, mas Joana Vasconcelos trouxe-o para a vida real. Situado no jardim de Waddesdon Manor, propriedade da família Rostchild a 45 minutos de Londres, a obra vai ser inaugurada amanhã pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o atual duque de Wellington, descendente do que no século XIX defendeu Lisboa e Porto das Invasões Francesas antes de derrotar Napoleão em Waterloo. Uma comemoração que irá celebrar os 650 anos do Tratado de Windsor, entre Portugal e Inglaterra, a aliança mais antiga do mundo. A obra vai estar aberta ao público a partir de dia 18.

Bolo de Noiva faz parte de um conceito que a artista tem vindo a trabalhar há vários anos - o casamento. Para Joana Vasconcelos, o casamento é uma etapa da vida em que se transita da família em que se nasceu para criar a sua própria família. Há três símbolos deste marco: o pedido de casamento, o vestido de noiva e o bolo de casamento. A peça A Noiva, feita para a Bienal de Veneza de 2005, representa a etapa do vestido. O Anel está exposto no Guggenheim. Agora, o Bolo de Noiva em Waddesdon Manor foi a etapa final do projeto.

O pavilhão escultórico de cores pastel era o sonho impossível de Joana Vasconcelos. Quando o projeto estava ainda na gaveta, foi um desafio encontrar alguém para avançar com ele. "A escala e o preço da produção disto é uma loucura. Raramente temos pessoas que estão dispostas a pagar por uma coisa destas. É preciso encontrar quem tenha poder económico, por um lado, e uma capacidade de dizer que vale a pena - e isso é uma combinação muito pouco provável. E depois há sempre aquele pensamento de: será que ela sabe bem o que está a fazer", disse a artista em conversa com o DN.

Nos jardins de Waddesdon Manor Joana Vasconcelos já tinha expostas as Lafite, duas torres de garrafas de vinho Château Lafite Rothschild. Bolo de Noiva foi uma encomenda da fundação Rothschild, quando soube o "projeto impossível" de Joana de Vasconcelos. "Nós, artistas temos estes sonhos impossíveis. E a única forma de realizarmos esses sonhos é encontrar alguém tão louco como nós. Um dia o barão Jacob Rothschild disse que adorava o Bolo de Noiva. Que tínhamos de fazê-lo. E eu pensei "meu Deus" - acabara de encontrar um parceiro. É alguém que pensa tão alto como eu", disse a artista na visita de imprensa.

Joana Vasconcelos nunca pensou que iria construir o seu bolo num local onde realmente se realizam casamentos. "Eu tinha sempre pensado do ponto de vista de uma escultora e não nunca pensei que ia fazer a obra num jardim fantástico de escultura onde também havia casamentos. Foi completamente incrível", afirmou.

Com 12 metros de altura ao todo, cada andar do bolo tem uma cor: o primeiro andar é verde, o segundo é azul, o terceiro é rosa e o quarto é amarelo. Ao subir ao topo do bolo, pode-se apreciar a natureza em redor da obra. Feito com 25 mil azulejos e 3500 peças de ferro forjado, o bolo está coberto por 1500 peças de escultura, desde cupidos, sereias, velas e Santo Antónios.

Com portuguesa, não poderia faltar o Santo António, o santo casamenteiro. "Não é possível um português e lisboeta não ter o Santo António. E pensei: "só trago um?" E depois ficava um Santo António lá perdido. Então, trouxe vários".

Os azulejos são produzidos pela Viúva Lamego, casa de cerâmica centenária e portuguesa. Muito dos objetos utilizados na obra já não eram construídos há centenas de anos. Joana de Vasconcelos conta que os atuais donos não sabiam que a Viúva Lamego construía estátuas de Santo António. "Eles próprios não sabiam que havia peças decorativas", diz. A construção desta peça levou a uma viagem ao passado. "Há aqui um lado de voltar a dar vida a um património que estava esquecido. Mas foi duro porque depois não se sabia como se faziam os Santo Antónios. E as sereias por exemplo nunca tinham sido feitas. Foi voltar a dar vida a um património totalmente esquecido", acrescentou.

Para acompanhar o bolo não poderia faltar o bule de chá à inglesa. A obra Pavillon de Thé vai regressar aos jardins de Waddesdon, depois de ter estado exposta no mesmo local em 2012. "Até termos três peças de um artista num local não temos uma verdadeira representatividade. No fundo, três peças já criam um discurso. Já cá estavam os castiçais e o bolo. Faltava o bule".

O maior desafio deste projeto foi a covid, que obrigou à paragem da construção da obra, o que levou a que o projeto demorasse cinco anos a ser construído. "Parámos para ver se íamos continuar o projeto ou não. Foi assim uma coisa meio estranha. Tivemos de pensar: será que faz sentido, será que não faz?" Segundo a artista, o barão Jacob Rothschild teve sempre uma posição firme ao longo do projeto, mantendo sempre a esperança que o bolo ia acontecer, apesar de todas as peripécias.

Agora, a equipa de Joana Vasconcelos prevê que a construção de um segundo bolo irá demorar apenas dois anos. O objetivo da artista é construir vários Bolos de Noiva em diferentes países. Ainda sem uma previsão concreta, pretende construir o próximo em Portugal. "Este tipo de projeto faz sentido partilhar com várias pessoas em vários locais porque depois tornam-se peças que são apropriadas pelo local. Eu gostava de fazer um em cada país ".

mariana.goncalves@dn.pt

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