Agora lançado nas salas portuguesas, Com a Alma na Mão, Caminha, da iraniana Sepideh Farsi, centrado na fotojornalista palestiniana Fatma Hassona, foi um dos acontecimentos mais mediatizados da 78ª edição do Festival de Cannes (entre os dias 13 e 24 do passado mês de maio). O filme suscitou mesmo um comunicado oficial da direção do festival, denunciando a continuação da guerra em Gaza.Selecionado para a secção ACID, possui como principal matéria as conversas telefónicas, realizadas ao longo de mais de duas centenas de dias, da realizadora com Fatma Hassona - pontuando todo o filme, as suas fotografias constituem um testemunho impressionante, extremamente perturbante, dos efeitos dos bombardeamentos do exército israelita na faixa de Gaza. A derradeira conversa entre as duas mulheres, reproduzida no filme, aconteceu a 15 de abril de 2025. No dia seguinte, a casa de Fatma foi destruída por um bombardeamento - uma legenda final informa que na explosão morreram Fatma (aos 25 anos) e mais seis membros da sua família.Há um especial valor pedagógico nas imagens e nos sons que Sepideh Farsi nos apresenta. E talvez valha a pena, nem que seja por um breve momento de reflexão (que, para todos os efeitos, é o momento do trabalho específico do crítico), tentar compreender porque é que tais imagens e sons envolvem também a discussão crítica da condição particular de cada espetador.Dito de outro modo: não podemos deixar de reconhecer ou, pelo menos, sentir (embora uma coisa contamine a outra) que estamos perante um verdadeiro objeto de cinema. Nessa medida, Com a Alma na Mão, Caminha diferencia-se do fluxo noticioso, predominantemente televisivo, que passou a determinar todas as perceções do mundo à nossa volta (dos horrores de Gaza até às peripécias caricaturais do despedimento de um treinador de futebol). Mais ainda: não podemos também deixar de perceber que as conversas que nos são mostradas - no telemóvel da cineasta, com a imagem de Fatma no seu ecrã - definem um território particular de comunicação, diferente da aceleração noticiosa que domina o nosso quotidiano, quase sempre envolvendo a sanção cognitiva dos “analistas” que, com argumentações diferenciadas e desigual talento, proliferam em todos os ecrãs (ocupando mais tempo do que o material propriamente noticioso).Aliás, um dos aspetos mais contundentes do diálogo Sepideh/Fatma pode ser descrito a partir de um dispositivo eminentemente cinematográfico. Trata-se, afinal, de tentar entender o espaço em que se move (ou pode mover), o que vê ou, por vezes, apenas aquilo que consegue escutar - afinal de contas, somos todos narradores. .'Love Life'. Cinema japonês, com amor.'Abril'. O realismo cru que vem da Georgia