Noite grande do Aposento da Moita

Pedro Bale faz a crónica da primeira corrida da Feira da Moita, em que brilhou o Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita.
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Com três quartos de casa, a Praça de Toiros da Moita do Ribatejo abriu as suas portas na quinta-feira, dia 15, às 22:00 horas, para uma corrida séria de Passanha Sobral, uniforme na sua apresentação e rematada, nobre, mas pouco manejável no seu conjunto, a virem a menos no último terço das lides, sem permitirem o brilho dos toureiros. Nenhum dos cavaleiros se evidenciou especialmente, sendo que João Moura Júnior teve uma lide positiva, mas que, apesar do seu empenho, não logrou momentos de especial destaque, com uma "mourina" e um ferro de palmo a rematar sem o brilho que nos tem habituado e não lhe permitindo rematar a faena, o mesmo acontecendo com João Ribeiro Telles, que procurou tirar do toiro o que ele não tinha e, mesmo querendo rematar da melhor forma com os dois ferros do costume com o Ilusionista, a parca investida do toiro impediu-o de triunfar.

Relevante e conseguida foi a atuação do Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita, mormente no capítulo das ajudas, sem uma prestação redonda dos forcados de caras, mas com as pegas do cabo Leonardo Mathias, a abrir praça emprestando serenidade e confiança ao Grupo, com uma pega muito inteligente no modo como aguentou nos médios a investida e mandou no toiro, recuando no tempo certo e equilibrado e fechando-se num ápice e com o normal aprumo deste forcado de exceção, e do Diogo Gromicho, que, num toiro de investida e reunião dura, carregou e recebeu-o fechando-se na perfeição, suportando dois derrotes muito fortes, até o grupo poder ajudar.

Cavaleiros

Maestro António Ribeiro Telles abriu praça com uma estampa de toiro, castanho, olho-de-perdiz, bocalva, e cornilargo, muito bem apresentado, mas reservón, sem se empregar e medindo terrenos nas investidas. Destacou-se um terceiro comprido, precedido de uma pirueta e ferrado ao estribo, que aqueceu as bancadas. Também o segundo comprido, em terrenos de compromisso a fim de tirar do toiro acordes que ele não tinha, resultou ao estribo, o que o público entendeu e obrigou a escutar música. A faena veio depois a menos, por força de um opositor que não colaborou para que a faena pudesse ter tido outro desfecho.

A Gilberto Filipe saiu-lhe também um toiro bonito e bem apresentado, negro bragado listón e axiblanco, muito reservado e manso. O ginete bicampeão do Mundo de Equitação de Trabalho entrou da melhor forma em praça, desenrolando o cavalo com passagens de mão a um tempo e com vontade de triunfar. Andou, porém, aliviado nos compridos, mas ferrou um primeiro e terceiro curtos de boa nota, encimado por um violino que chegou ao público. À procura de um êxito que almejava mas que já não era possível com um adversário que não queria luta, insistiu em mais um ferro, à meia volta e por dentro, sem ressoar nas bancadas. Com pundonor, recusou a volta, agradecendo nos médios.

João Moura Júnior, com um toiro negro bragado, mais codicioso e que deu boas condições no início da lide, começou da melhor forma, com um primeiro comprido no Londres, à porta gaiola, emocionante e rematado com maestria. Nos curtos, com o Juventus, a faena esteve em crescendo, com um terceiro, com o toiro colocado frente aos curros, a atacar, com cravagem emotiva e ao estribo e um remate cingido por dentro. Cravou um quarto, rodando junto aos curros, em terrenos de compromisso, e que o público retribuiu. Já com o Hostil, quis rematar com uma "mourina", mas, porque com um toiro já desinteressado da luta, resultou asseada, mas sem o costumado brilho, que o último ferro de palmo também não potenciou. Uma atuação válida, positiva, mas que se quedou aquém da fasquia alta resultante das faenas triunfais recentes havidas em Alcochete e Montemor...

João Ribeiro Telles com um toiro negro, reservado, mansote e, durante a lide, de mais a menos. Depois de dois compridos sem história, já com o russo Coimbra, ferra um segundo curto em terrenos comprometidos e de verdade e que resultou emotivo e logo compensado com música. Só que a partir daí, já a investida do toiro perdera ímpeto e codícia, que nem com o Ilusionista se conseguiu ir buscar. Apesar da procura da colocação perfeita do toiro, os dois últimos ferros atacando o toiro com verdade e marcando a batida ao pitón contrário, não obtiveram o êxito que o empenho do ginete e expectativa do público queriam.

João Salgueiro da Costa lidou um quinto toiro castanho, outra estampa, nobre, mas reservado e com uma investida irregular. Ficaram os dois primeiros compridos, o segundo de boa nota, partindo da porta dos cavalos, ganhando o pitón contrário e ao estribo e o primeiro curto, atacando de frente junto ao Sector 2, com verdade e que chegou cá acima. Já com o Alba, com ferro Pablo Hermoso de Mendoza, apesar da correção das colocações e dos percursos, não resultou suficientemente emotiva a hora de ferrar por falta de entrega na investida do toiro.

Paco Velásquez, por fim, num toiro berrendo en negro, manso e que foi vindo a menos, teve uma atuação interessante, mas desigual. Com algumas bregas e colocações com qualidade conseguidas com o cavalo castanho de ferro Diego Ventura, recordo um primeiro curto de boa nota colocado junto aos curros, numa faena que foi perdendo emoção à medida que o toiro se esgotava e encurtava as investidas e, consequentemente, obrigando a cites cada vez mais próximos...

Forcados

Pegaram os Grupos de Forcados Amadores do Aposento da Moita, numa atuação conseguida.

1.º Leonardo Matias (cabo) - que ofereceu ao Nuno Carvalho "Mata", que o público brindou com uma ovação de quase um minuto de pé -, de caras, à primeira tentativa, chamando serenamente de largo frente aos curros e, após parar nos médios com o toiro focado, provocou a investida carregando num passo e, com precisão técnica na sua execução, recuou com temple e na exacta medida, acoplando-se com perfeição e de um ápice na córnea. Recebe um derrote alto, com o Grupo a ajudar segura e eficazmente (volta)

2.º Tiago Valério, de caras, à segunda tentativa, na sequência de uma investida impetuosa do toiro, recuando rápido e fechando-se bem, com uma ajuda portentosa de Diogo Gromicho, que o acompanhou acoplado, com o Grupo a ajudar também eficientemente. Na primeira tentativa, perante a investida rápida do toiro, recuou pouco, o que determinou uma reunião deficiente (ida aos médios)

3.º João Freitas, de caras, à primeira tentativa, com o toiro a ter a iniciativa, carrega-o bem, mas recua tardiamente e reúne mal. Bem ajudado pelo Grupo e sem que o toiro derrote na viagem, consegue acabar por fechar-se e resultando a pega emocionante. (volta)

4.º Diogo Gromicho, de caras, à primeira tentativa, parando nos médios e enchendo a cara ao toiro, carrega e recua bem, recebe e fecha-se magistralmente à córnea numa reunião dura, recebendo em seguida e na viagem duas mangadas muito fortes, com o Grupo a ajudar eficientemente. (volta e ida aos médios exigida pelo público)

5.º Martim Cosme Lopes - que ofereceu a João Quintela, pai de Fernando Quintela, forcado do Grupo de Forcados de Alcochete falecido nesta data e nesta Praça faz cinco anos, com ovação longa, sentida e unânime do público -, de caras, à primeira tentativa, chamando rápido e carregando demais, contudo, a reunião resulta segura à córnea, aguentando um derrote e terminando a viagem nos tércios com o toiro afocinhando e o Grupo em seguida a imobilizar e a submeter o astado. (volta)

6.º André Silva, de caras, à primeira tentativa, colocado de frente para a porta dos cavalos, carregando forte; com o toiro investindo a chouto recua e fecha-se bem, numa viagem sem sobressaltos até ao Grupo, que ajudou eficientemente. (volta).

Praça de Toiros da Moita do Ribatejo "Daniel do Nascimento": 15 de setembro de 2022

1.ª Corrida da Feira, integrada nas Festas da Nossa Senhora da Boa Viagem.

Três quartos de casa.

Toiros: todos de Passanha Sobral; pesos, mês/ano, pelagens e configuração: 1.º- 511 Kg, 2/17, castanho, olho de perdiz, bocalva e cornilargo; 2.º- 515 Kg, 2/17, negro bragado liston e axiblanco; 3.º- 505 Kg, 2/17, negro bragado; 4.º- 500 Kg, 2/17, negro; 5.º- 548 Kg), 2/17, castanho e cornilargo; 6.º 470 Kg, 2/17, berrendo en negro. Todos de trapio e apresentação exemplar e com uma verdadeira paleta de cores na pelagem. Com destaque para o terceiro, quarto e quinto, este último alegre, bravo e dando excecionais condições de lide.

Cavaleiros: António Ribeiro Telles, de negro e ouro, (volta), Gilberto Filipe, de bordéus e prata (ida aos médios), João Moura Júnior, de verde escuro e ouro (volta), João Ribeiro Telles, de verde e ouro (volta), João Salgueiro da Costa, de carmim e ouro (volta) e Paco Velasquez, de branco e ouro (volta).

Forcados: Amadores do Aposento da Moita: de caras, Leonardo Mathias (Cabo), à primeira (volta); Tiago Valério, à segunda (ida aos médios); João Freitas, à primeira (volta); Diogo Gromicho, à primeira (volta e ida aos médios); Martim Cosme Lopes, à primeira (volta); André Silva, à primeira (volta).

O espetáculo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Tiago Tavares, com a assessoria veterinária de Carlos Santos.

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