Na Chamusca reinaram os forcados
No passado sábado, dia 1 de outubro, em tarde ensolarada e com a centenária Praça de Toiros da Chamusca quase cheia com uma corrida de Passanha e de Lopes Branco, que tinha como grande aliciante a despedida do cabo do Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca, Pedro Coelho dos Reis, "Pipas", depois de uma longa e brilhante carreira de 33 anos de forcado, dignificando a jaqueta do seu grupo e, outrossim, a coincidência em competição inédita esta época da terna de cavaleiros mais "taquillera" do momento. A afición, que acudiu em peso e com esperança de assistir a uma tarde de exceção, não saiu defraudada. Evidenciaram-se João Moura Júnior e João Ribeiro Telles, com faenas bem conseguidas, principalmente na lide dos seus segundos toiros. Francisco Palha, a quem manifestamente coube o pior lote, teve uma tarde infeliz, não somente por força da mansidão dos opositores, pois coube-lhe manifestamente o pior lote, mas, outrossim, por não ter, no último da tarde, encontrado solução eficaz para ultrapassar ou sequer contornar as dificuldades que aquele lhe foi apresentando. O êxito maior coube, contudo, ao Grupo de Forcados, com o seu apogeu na pega e despedida do homenageado Cabo Pedro Coelho dos Reis, acompanhada de longa, sentida e unânime ovação de pé de todo o público, "en olor de multitud", e, bem assim, na pega de caras de Francisco Montoya e na cernelha em que o Cabo estreante João Saraiva mostrou decisão e foi bem coadjuvado pelo rabejador Frederico Gomes de Abreu.
Cavaleiros
João Moura Júnior, no seu primeiro, com um toiro negro, manso e reservón de Passanha, saiu com um russo novo, "Neco da Hermida" e, depois de uma brega longa e cingida na garupa do cavalo, cravou um primeiro comprido ao pitón contrário e emotivo, seguido de um segundo, sem a mesma expressão, mas ainda assim de boa nota. Mudando para os curtos, o primeiro teve menor expressão, por alargar o quarteio e o toiro ter investido sem codícia. Voltou com o "Juventus" e, após colocação do toiro na porta dos cavalos, espera-o em tábuas, com o toiro a investir a passo e depois, muito próximo, a galope, quarteando-se e ferrando de forma muito emotiva, premiada de imediato com música. A partir daqui o comportamento do toiro decaiu determinantemente, sempre de mais a menos e terminando fechado em tábuas. João Moura procurou interessar o toiro, encurtando distâncias e atacando-o para lhe provocar maior ímpeto de investida, mas já não tinha opositor. Mesmo assim, o terceiro e quarto curtos, em terrenos de compromisso, resultaram com verdade e ao estribo, o último dos quais, rematando com muita qualidade por dentro e próximo das tábuas. Terminou com um quinto, em que, apesar de se ter exposto ainda mais, e demais, recebeu um toque na montada e rematou com um adorno cingido que o público aplaudiu. No seu segundo, o quarto da tarde, saiu-lhe um toiro de Lopes Branco castanho listón, que, sem ser bravo, revelou alguma classe e prontidão. Saindo com o russo "Mali" para os compridos, resultaram os mesmos sem expressão relevante. Cambiou para o "Jet set" e crava um primeiro curto de poder a poder e um segundo a atacar o toiro, ambos ao pitón contrário, que chegaram cá acima e determinaram que a faena fosse acompanhada de música. O terceiro curto, provocando uma investida curta e cingida e, bem assim, o quarto, de novo de poder a poder, concretizam-se ao estribo e ambos emotivos. Troca pelo Hostil, que, depois de mais um curto de boa qualidade, em curto, dos médios para a porta dos cavalos, ladeando na cara e rematando cingido, terminou, com uma "mourina" templada e um ferro de palmo, depois de uma brega em círculos perfeitos à garupa, em que crava em terrenos constritos e de verdade, com emoção.
João Ribeiro Telles, com um primeiro toiro de Lopes Branco, negro, bragado, meano, reservón, de investida desigual, mas lidável, sai no "Iluminado" com uma porta gaiola emotiva e superiormente rematada, ferra um segundo, com elegância no ladear, mas de menor expressão, porque de quarteio aberto. Troca pelo "Gran Duque", também com ferro de seu pai, crava um segundo curto, precedido de boa brega e colocação nos médios, em que, consentindo muito num câmbio cingido e muito emotivo, ouviu de pronto música. Os quarto e quinto curtos não conheceram a mesma qualidade, mas o sexto, provocando e dando a primazia do arranque ao toiro e, com verdade, batendo o pitón contrário, ressoou nas bancadas, saindo ovacionado. No seu segundo, com um toiro de Passanha, negro e bem apresentado, nobre, de investida desigual, mas manejável, depois de dois compridos algo aliviados no castanho "Aveiro", cresceu nos curtos, com o "Gaiato", russo de ferro Coimbra, com um segundo de boa nota e que lhe mereceu música, seguido de um terceiro e quarto em que, apesar do seu empenho numa colocação cuidada e no incitar da investida do toiro, não resultaram a seu completo contento. Foi buscar o Ilusionista, negro, de Ortigão Costa, que, com dois ferros curtos superiores, saindo da "porta dos cavalos", e atacando o toiro próximo de tábuas, trouxe emoção às bancadas, sendo o último, de maior expressão artística e com o toiro a investir com maior codícia e perigo, cravado ao estribo e com uma resposta unânime do público, aplaudindo de pé.
Francisco Palha, no seu primeiro, com um toiro negro de Passanha, que se foi reservando para o final, saiu com o "Lotus da Hermida", que, depois de um momento atribulado na saída dos curros, em que recebe um toque em tábuas, ferra um primeiro comprido de poder a poder com algum som, seguido de um segundo, de menor expressão, porque algo aliviado. Mudando de cavalo, para o "Gingão", com o ferro da Casa, depois de uma passagem em falso, ferra dois curtos sem particular emoção, muito por falta de colaboração do astado. Foi buscar o "Roncalito", sem contudo trazer maior emoção ao seu último ferro, em que, apesar da tentativa de forçar a investida do toiro, atacando-o em curto da porta dos cavalos para os médios, não obteve resposta consentânea. No seu segundo, de Lopes Branco, negro, manso, de investida incerta e, no final da lide, a fechar-se e, reiteradamente, a adiantar-se, recebeu-o, a meia praça e com um emotivo comprido, com o russo "Jaquetón", de ferro João Moura Júnior, com um remate conseguido à garupa; o segundo comprido, não teve história, porque o toiro tardou na investida. Muda para o "Estrondo", de ferro Pablo Hermoso de Mendoza, ainda recente na sua quadra, que, colocando por duas vezes o toiro no mesmo sítio, nos médios e saindo da porta dos cavalos, com o toiro a adiantar-se uma barbaridade, recebe dois toques, intercalado com uma saída em falso. Tentando resolver uma faena que já havia perdido consistência e rumo, foi de novo buscar o "Roncalito", mas, colocando o toiro no mesmíssimo terreno, o toiro adianta-se de novo, recebe novo toque e, no seguinte, colhendo-o mesmo, desmontando-o. Montou novamente e cresceu para o toiro, desta feita, saindo de frente para a porta dos cavalos, sem que o toiro se houvesse adiantado e cravando um ferro conseguido e ao estribo que emocionou o público e lhe retribuiu com uma forte ovação. Teimou o cavaleiro em peticionar um último ferro que terminou sendo-lhe concedido pela Delegada Técnica Tauromáquica, o qual, em investida curta, resultou emotivo. Valeu tão-somente a sua atitude irreverente, porque o triunfo já há se havia esfumado. "Ouviu" silêncio e, com decoro e discernimento, recusou as voltas que lhe haviam sido permitidas.
Forcados
Pegou, em solitário, o Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca, fardando em ambiente de festa mais de oitenta elementos, antigos e atuais, numa performance segura e eficaz no modo como ajudou e, outrossim, pelas atuações individuais dos Cabos nas pegas de caras e de cernelha que protagonizaram e na pega da tarde de Francisco Montoya.
1.º Vasco Coelho dos Reis, de caras, à quarta tentativa, de recurso, chamando de muito curto, nos médios, fechando-se com segurança à córnea, com ajudas carregadas; na primeira tentativa, tendo colocado o toiro nos tércios e em frente aos curros, para nos médios, o toiro arranca por sua iniciativa, o forcado carrega e recua dois passos, reúne deficientemente à córnea e sai na viagem num derrote para baixo; na segunda tentativa, com a mesma colocação, carrega muito próximo do toiro, recua pouco e reúne mal; na terceira tentativa, altera a colocação do toiro, em frente à porta dos cavalos e nas tábuas, demasiado curto e sem conseguir fechar-se na reunião (volta);
2.º João Rui Salgueiro, de caras, à primeira tentativa, colocando o toiro em frente aos curros chamando serenamente até aos médios até fixar o toiro; o toiro arranca por sua iniciativa numa investida impetuosa e em galope forte; o forcado não carrega, mas recua equilibrado e na medida certa, o toiro humilha e fecha-se com segurança à córnea, numa viagem sem sobressaltos e bem ajudado pelo Grupo (volta);
3.º Pedro Coelho dos Reis (Cabo), de caras, à primeira tentativa, com o toiro a ser colocado nos tércios, chamando-o até aos médios e carregando com decisão; recua dois passos e imobiliza-se "sentado" para receber o toiro, consentindo uma investida violenta e fechando-se seguramente à córnea, numa viagem sem derrotes, com o Grupo a ajudar eficazmente (2 voltas e ida aos médios);
4.º Francisco Sotto Barreiros Andrade, de caras, à segunda tentativa, colocando o toiro na porta dos cavalos sobre a esquerda, carregando e fechando-se bem à barbela; o toiro viaja sem sobressaltos e o Grupo ajuda eficientemente; na primeira tentativa, tendo colocado o toiro em frente aos curros, para nos médios, o toiro arranca por sua iniciativa, o forcado não carrega, recua reúne deficientemente, "empranchando-se" e sem se fechar, saindo na viagem. (volta).
5.º Francisco Montoya, de caras, à primeira tentativa, chamando serenamente até aos médios até fixar o toiro; carrega-o com decisão, provocando uma investida impetuosa e em galope forte do toiro; recua equilibrado e na medida certa, o toiro mete-lhe a cara a meia altura, mas permitindo que o forcado se feche à córnea e de um ápice, dando-lhe após a reunião uma mangada alta, sem o desfeitear e fechando-se com maior segurança na viagem; bem ajudado nas segundas e recebendo um derrote em tábuas, com o toiro a tentar fugir para a esquerda, mas permitindo a recuperação das ajudas (volta);
6.º João Saraiva (Cabo) e Frederico Gomes de Abreu, de cernelha, à primeira tentativa, com o toiro sem encabrestar, mas distraído, sem se focar no duo de cernelheiro e rabejador, aproveitando um momento em que o toiro se tapou com alguns dos cabrestos e colocado próximo das tábuas pelo bandarilheiro Jorge Alegrias, o Cabo cernelheiro arrancou lesto de trás daqueles e entrou no costado do toiro com decisão, bem seguido pelo rabejador que entrou em tempo, sem que o toiro oferecesse resistência de maior. (volta)
Síntese da Corrida: Praça de Toiros da Chamusca
1 de outubro de 2022 - Três quarto de casa forte.
Empresa Sociedade das Campinas
Espetáculo foi dirigido pela Delegada Técnica Tauromáquica Ana Pimenta, coadjuvada pelo Médico Veterinário Feliciano Reis.
Ganadarias
1.º, 3.º e 5.º, de Passanha; 2.º, 4.º e 6.º de Lopes Branco; pesos: 1.º 500 Kg; 2.º 470 Kg; 3.º 470 Kg; 4.º 455 Kg; 5.º 560 Kg; 6.º 560 Kg.
Cavaleiros
João Moura Júnior, de azul e ouro, (volta e volta) João Ribeiro Telles, de bordéus e ouro (volta e volta) e Francisco Palha, de verde e negro (silêncio e silêncio).
Forcados
Amadores do Aposento da Chamusca: Vasco Coelho dos Reis, de caras, à quarta tentativa (volta); João Rui Salgueiro, de caras, à primeira tentativa (volta); Pedro Coelho dos Reis (Cabo), de caras, à primeira tentativa (2 voltas e ida aos médios); Francisco Sotto Barreiros Andrade, de caras, à segunda tentativa (volta); Francisco Montoya, de caras, à primeira tentativa (volta); João Saraiva (Cabo), cernelheiro, e Frederico Gomes de Abreu (rabejador), de cernelha (volta).