Murais de Almada Negreiros na gare Marítima de Alcântara.
Murais de Almada Negreiros na gare Marítima de Alcântara.Paulo Spranger

Murais de Almada Negreiros nas gares marítimas de Alcântara e Rocha do Conde d'Óbidos já podem ser visitados

No dia em que o artista faria 132 anos, 7 de abril, foi inaugurado o espaço que explica e permite visitar os murais que Almada Negreiros fez para as gares marítimas nos anos de 1940.
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Os murais que Almada Negreiros pintou na Gare Marítima de Alcântara e na Gare Marítima da Rocha do Conde d'Óbidos, em Lisboa, estão abertos aos visitantes que também terão à disposição um centro interpretativo (no piso zero da gare marítima de Alcântara) que explica os detalhes das obras e também o contexto político em que foram encomendadas.

Nove meses depois da assinatura do protocolo deste projeto entre a Associação de Turismo de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa e Administração do Porto de Lisboa, nasceu o centro interpretativo, que contou com a curadoria de Mariana Pinto dos Santos, investigadora do Instituto da História de Arte e especialista da obra de Almada Negreiros.

Na inauguração do centro interpretativo estiveram Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa - que disse que os painéis de Almada Negreiros são "uma inspiração quando penso em inovação" -, Hugo Espírito Santo, secretário de Estado das Infraestruturas e também a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues.

O projeto envolveu também a requalificação dos edifícios das gares, no valor global de 3,5 milhões de euros, financiados pelo Turismo de Portugal, Associação Turismo de Lisboa e pela Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa.

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Na Gare Marítima de Alcântara será possível visitar as nove salas do centro interpretativo. Nos espaços Cais, Passagens, Partidas e Chegadas fica-se a conhecer a história da construção das gares, encomendadas pelo ministro José Duarte Pacheco ao arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, com quem Almada Negreiros colaborou.

Mas dá-se também a conhecer alguns dos acontecimentos históricos que se passaram no Porto de Lisboa, como o trânsito de refugiados da II Guerra Mundial, a partida de emigrantes e de soldados para a guerra colonial, e a chegada de cadáveres e feridos (feita sempre à noite) e dos que retornaram das ex-colónias.

As salas O que contam as paredes, História mural e Diz que disse, são dedicadas ao processo criativo envolvido na criação dos murais, com reproduções de esboços e estudos das obras, e informações sobre detalhes dos murais. Também são mostradas entrevistas e depoimentos do artista sobre o trabalho e sobre toda a polémica que o envolveu. Os protagonistas dos murais são pessoas do povo, varinas, marinheiros, pescadores, saltimbancos, retratam-se partidas e chegadas sofridas numa narrativa que não agradou ao regime. Os murais estiveram mesmo para ser destruídos.

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O percurso termina com as salas Almada em Lisboa e Almada Negreiros, artista que mostram as outras obras do artista que podem ser vistas em Lisboa e os momentos marcantes da sua vida.

Os murais estão no piso 1 de ambas as gares e pela primeira vez ficam acessíveis ao público, com apoio de audioguia. No salão da Gare Marítima de Alcântara estão oito painéis, concluídos em 1945. São dois trípticos e dois panéis isolados. Na parede Este está o painel Ó terra onde eu nasci e três painéis que retratam a Lisboa ribeirinha, com mulheres que levam carvão na cabeça ou que tratam de peixe junto dos barcos.

Na parede Oeste há outros três painéis com o tema do poema Nau Catrineta de Almeida Garrett, e em que entra um navio quinhentista e a sua tripulação, mas onde estão todos vestidos como nos anos 1940.

A curadora Mariana Pinto dos Santos e Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
A curadora Mariana Pinto dos Santos e Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Paulo Spranger

O painel isolado é sobre a lenda de D. Fuas Roupinho e retrata mulheres e homens a trabalhar ou a descansar.

Os seis painéis (dois trípticos) da Gare Marítima da Rocha do Conde d'Óbidos começaram a ser criados em 1946 e foram concluídos em 1949. Nestas pinturas as figuras são geometrizadas e sem ilusão tridimensional, remetendo para o cubismo e artes gráficas.

Nos trípticos de ambas as paredes (Este e Oeste) veem-se barcos em construção e figuras como varinas africanas, pescadores ou saltimbancos.

O murais nesta gare já foram alvo de restauro e aparecem com as suas cores originais. A operação iniciou-se no início do ano passado, com financiamento do World Monuments Fund Portugal. Falta o restauro dos murais na gare de Alcântara, que deverá iniciar-ser ainda este ano.

O centro interpretativo está aberto todos os dias das 10h00 às 19h00 e os bilhetes custam cinco euros. Os visitantes terão acesso a transfer gratuito da Gare Marítima de Alcântara até à da Rocha do Conde d'Óbidos, num percurso de cerca de 800 metros.

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