Morreu o escritor de 'O Carteiro de Pablo Neruda' Antoni Skármeta
Morreu o escritor chileno Antonio Skármeta, criador d'O carteiro de Pablo Neruda.
Skármeta, vencedor do Prémio Planeta, em 2003, por Dança da vitória, é conhecido do grande público pelas adaptações cinematográficas das suas obras e, em particular, de O carteiro de Pablo Neruda, uma produção de 1994, dirigida por Michael Radford.
"A nossa comunidade universitária despede-se com pesar de Antonio Skármeta Vranicic, escritor, Prémio Nacional de Literatura 2014, licenciado em Filosofia e académico pela Universidade do Chile em múltiplas etapas da sua inspiradora carreira, que promoveu a leitura e o amor pelos livros", anunciou a Universidade.
Um dos primeiros a lamentar a sua perda e a destacar o seu contributo para a literatura chilena, em particular, e para a literatura latino-americana, em geral, foi o Presidente da República do Chile, Gabriel Boric, numa mensagem nas redes sociais.
"Obrigado, professor, pela vida vivida. Pelos contos, pelos romances e pelo teatro. Pelo empenho político. Pelo 'espetáculo' de livros que alargaram as fronteiras da literatura. Por sonhar que ardia a neve no Chile que tanto lhe doía", afirma o Presidente, referindo-se a um dos seus primeiros livros, Soñé que la nieve ardía (1975).
De origens croatas, Antonio Skármeta Vranicic nasceu na cidade de Antofagasta, no norte do Chile, em novembro de 1940, e é um dos mais criativos e influentes intelectuais do Chile, um contador de histórias nato com grande talento para condensar a vida e a filosofia dentro da história, o formato que lhe era mais caro, afirma a agência noticiosa espanhola Efe.
Licenciado em Filosofia e Educação pela Universidade do Chile, cresceu como escritor sob a influência do pensador espanhol Francisco Soler Grima, discípulo de Julián Marías e de José Ortega y Gasset, sobre quem escreveu a sua tese de doutoramento em 1963, "Ortega y Gasset, linguagem, gesto e silêncio", prossegue a Efe referindo que Skármeta era amante do pensamento de Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Martin Heidegger.
Em 1964, ganhou uma bolsa 'Fulbright' e viajou para a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde escreveu uma segunda tese, desta vez sobre a narrativa de Julio Cortazar.
Em 1969, recebeu, em Havana, o Prémio Casa das Américas pelo livro Desnudo en el tejado.
A fama internacional chegou-lhe através dos seus romances e, em particular, através da adaptação cinematográfica do seu livro Ardiente paciência (1983), do qual saíram dois filmes: um com o mesmo título e outro como O carteiro de Pablo Neruda, protagonizado por Massimo Troisi.
Como realizador de cinema, Antonio Skármeta rodou vários documentários e longas-metragens e, entre outros galardões, foi distinguido com o Adolf Grimmm Preis, na Alemanha, e o Prémio Georges Sadoul para o melhor filme estrangeiro, em França, exatamente pela sua versão de Ardente paciência.
Intelectual de esquerda, membro do Movimento de Ação Popular e Unitária nos anos do Governo da Unidade Popular e do Presidente socialista Salvador Allende, Skármeta foi obrigado a abandonar o Chile após o golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet, em 1973, que transformou o país numa das mais sangrentas ditaduras da América Latina.
Depois de passar pela Argentina e outros países, em 1981 instalou-se na Alemanha, onde escreveu a história do carteiro de Neruda: primeiro para uma rádio alemã e, depois, como guião de cinema. A obra teve um enorme sucesso e catapultou-o para a fama, foi traduzida para trinta línguas, adaptada ao cinema, teatro, ópera e rádio e, como o próprio autor afirmou numa entrevista, "existem mais de uma centena de versões no mundo".
Skármeta regressou ao Chile em 1989, no ano do fim da ditadura, e aí continuou como professor universitário, académico e, pelo meio, como diplomata na Alemanha.
Trabalhou também como tradutor, vertendo para castelhano obras de Norman Mailer, Jack Kerouac e F. Scott Fitzgerald.
Em 7 de setembro de 2015, foi eleito membro efetivo da Academia Chilena de Línguas para ocupar a cadeira número 20, que ficou vaga após a morte, no ano anterior, de Óscar Pinochet de la Barra.
As suas obras O Baile da Vitória e El Plesbicito, ambas distinguidas com o Prémio Planeta, foram também levadas ao grande ecrã, a primeira em 2009, pelo o realizador Fernando Trueba, e a segunda serviu de base ao filme No (2012), de Pablo Larraín, exatamente sobre a campanha e processo eleitoral que levaram à queda de Pinochet.
O seu romance Un padre de familia foi também recriado pelo cineasta brasileiro Selton Mellon, sob o título O filme da minha vida (2017).
O seu último romance publicado em vida, Os dias do arco-íris, foi editado em Portugal em 2011, juntando-se a perto de uma dezena de títulos que incluem O carteiro de Pabro Neruda, A rapariga do trombone, A dança da vitória e Neruda por Skarmeta.
Em 2010, esteve em Portugal para o lançamento do romance Um pai de filme.