Morreu Lalo Schifrin, compositor do tema de Missão Impossível
Morreu Lalo Schifrin, compositor daquele que é, por certo, um dos temas mais célebres da história do cinema: a abertura dos filmes de uma das “franchises” de sucesso nas últimas décadas, Missão Impossível, sempre com Tom Cruise na dupla condição de protagonista e produtor. O primeiro dos oito títulos já produzidos, lançado em 1996, com direcção de Brian De Palma, começava assim, precisamente com a música de Schifrin.
Seja como for, importa acertar as nossas memórias e lembrar que a pequena obra-prima de Schifrin surgira trinta anos antes no genérico de abertura da série que, precisamente, serviu de inspiração aos filmes com Cruise: Missão Impossível, uma criação de Bruce Geller, teve sete temporadas no período 1966-1973 — e começava assim:
Falecido em Los Angeles, no dia 26 de junho, aos 93 anos de idade, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia, Schifrin foi, afinal, um criador marcado por muitas influências musicais e culturais. Era de origem argentina — nascido a 21 de junho de 1932, em Buenos Aires —, tendo começado a estudar piano aos 6 anos de idade sob a égide de Enrique Barenboim (pai do pianista e maestro Daniel Barenboim).
Depois de ter desistido de um curso de sociologia, a sua paixão pela música levá-lo-ia, aos 20 anos, ao Conservatório de Paris.
Em meados da década de 1950, Schifrin integrou as bandas de Ástor Piazzolla e Dizzy Gilliespie, o que poderá ajudar a descrever a sua prodigiosa agilidade criativa — da inspiração do tango e dos ritmos argentinos até à liberdade de composição do jazz.
A entrada de Shifrin na produção televisiva cruzou-se com a sua integração no sistema de Hollywood, de tal modo que, na década seguinte, podemos encontrar algumas das suas composições mais emblemáticas. Por exemplo, noutras séries como The Man from U.N.C.L.E. (1965) e Mannix (1967), a par dos filmes Cool and Luke (1967) e Bullitt (1968), protagonizados, respectivamente, por Paul Newman e Steve McQueen.
Cool and Luke (entre nós lançado como O Presidiário), valeu-lhe a primeira de seis nomeações para o Óscar de melhor música — nunca ganhou, tendo recebido uma estatueta honorária em 2019.
Também com uma importante discografia jazzística, Schifrin deixou o seu nome ligado a títulos tão diversos como, por exemplo, Dirty Harry/A Fúria da Razão (1971), de Don Siegel, com Clint Eastwood, THX 1138 (1971), ficção científica que marcou a estreia na realização de George Lucas, e Tango (1998), celebrando a tradição musical argentina, com assinatura do espanhol Carlos Saura.
Eis um belo exemplo da capacidade de adequação da música de Schifrin a um ambiente de expectativa e “suspense” — este é o genérico de abertura de Bullitt.