Mil músicos de rock pela primeira vez ao vivo em Portugal em setembro
Aquela que é considerada a maior banda de rock do mundo, constituída por 1.000 músicos a tocar em simultâneo ao vivo, estreia-se em Portugal a 14 de setembro, no estádio municipal de Leiria, anunciou esta quinta-feira a organização.
O espectáculo Rockin'1000 - A Maior Banda de Rock do Mundo reunirá no relvado do estádio Dr. Magalhães Pessoa um total de 1.000 músicos amadores e profissionais, de várias nacionalidades à escala global - 200 bateristas, 300 guitarristas, 200 baixistas, 50 teclistas e 250 cantores - que, durante duas horas, interpretarão grandes clássicos do rock internacional sem esquecerem o rock português.
Em informação avançada à agência Lusa, a promotora portuguesa MOT - Memories of Tomorrow, argumentou que a estreia nacional do Rockin'100 em Leiria "será um dos concertos mais esperados e de maior dimensão, para além da óbvia complexidade técnica e logística" envolvida.
"Este projeto é, porventura, o maior desafio que até hoje decidimos abraçar. Temos vindo a acompanhar o sucesso do Rockin´1000 ao longo dos anos e a perceber o quão impactante é o espectáculo para os 1.000 músicos, mas, acima de tudo, para o público", declarou Tiago Castelo Branco, diretor executivo da MOT.
Aquilo que hoje é um espectáculo que soma digressões mundiais - já passou por grandes estádios em França, Espanha, Alemanha ou Brasil, entre outros países - nasceu, em finais de julho de 2015, em Cesena (Itália), como um convite aos norte-americanos Foo Fighters para que tocassem na localidade, cujo vídeo se tornou viral à escala global, somando hoje mais de 64 milhões de visualizações no YouTube.
A ideia de Fábio Zaffagnini, o geólogo marinho que sonhou levar os Foo Fighters a Cesena e é o fundador do Rockin'1000, foi concretizada três meses mais tarde, no início de novembro de 2015: a banda de Seattle viria a fechar a sua digressão mundial da altura naquela localidade, com o vocalista e ex-baterista dos Nirvana, Dave Grohl, a mostrar-se emocionado e impressionado pela devoção dos 1.000 fãs italianos que, no vídeo, se tinham juntado para tocar o 'hit' Learn to Fly.
O concerto em Cesena (cujo alinhamento começou, precisamente, por "Learn to Fly") acabou por se transformar no ponto de partida do projeto Rockin'1000, originando concertos em diversos países e resultando, também, no documentário "We are the thousand" ("Nós somos os mil", no título em português).
A 07 de julho de 2019, 1.002 músicos atuaram na Alemanha, no estádio do Eintracht Frankfurt, perante 15.000 mil espectadores, tendo o concerto ficado registado com um recorde mundial, o de maior banda de rock ao vivo.
A comunidade internacional de músicos que se reúne em redor do Rockin'1000 ascende, atualmente, a cerca de 80.000 pessoas e todo o processo de recrutamento, logística e relacionamento com os participantes em futuros concertos é realizado através de uma aplicação informática, de registo livre e permanentemente aberta, disponível a partir da página www.rockin1000.com
No registo, os músicos interessados terão de enviar um vídeo onde demonstrem os seus conhecimentos do instrumento por si escolhido, passando assim a inscrever o seu nome na base de dados mundial.
Haverá, depois, um dia específico para as inscrições de um determinado concerto (o chamado 'click day', que em Leiria está agendado para 15 de maio), onde os registados na base de dados se podem inscrever para estar presentes no concerto da estreia exclusiva do Rockin'1000 em território nacional.
Os candidatos, que viajam a expensas próprias e atuam voluntariamente, terão depois um mês, até 15 de junho, para confirmar ou cancelar sua participação, sendo normal existirem listas de espera de centenas ou mesmo milhares de músicos, para além dos 1.000 que conseguem garantir, logo à partida, um lugar no 'click day'.
Citado na informação disponibilizada pela MOT, Fabio Zaffagnini, fundador do Rockin'1000, manifestou-se entusiasmado pela primeira atuação em Portugal: "Esta nova etapa da nossa jornada é uma oportunidade emocionante para nós, e estamos confiantes de que será uma experiência extraordinária", enfatizou.
Notando que, em quase uma década, o projeto tem permitido aos seus promotores ampliar a sua cultura e compreensão da música rock, "através de encontros com músicos muito diferentes, famosos ou não", há uma constante que permanece inalterada, a reação do público.
"Onde quer que vamos, vemos espectadores em pé, dançando e cantando a plenos pulmões da primeira à última música. É uma emoção difícil de descrever em palavras. A única maneira de entender o que acontece é... participando!", desafiou Fabio Zaffagnini.
Músico português diz que no Rockin'1000 os egos desaparecem e a festa é total
Um músico português participante em atuações do Rockin'1000 - A Maior Banda de Rock do Mundo contou a sua experiência, assegurando que, no espectáculo onde se juntam músicos amadores e profissionais, os egos desaparecem e a festa é total.
"Ali não há egos, sejam músicos profissionais ou amadores os egos desaparecem. Vamos pela música e pelo convívio", disse à agência Lusa Ricardo Rego.
A primeira oportunidade de participar, em Frankfurt (Alemanha), em julho de 2019, tinha surgido um ano antes, quando estava em Milão a caminho de um festival de música e viu cartazes a anunciar um concerto do Rockin'1000 num estádio em Florença.
Natural do Porto e quadro superior da Sonae, Ricardo, hoje com 42 anos e "músico 100% amador", já seguia o projeto à distância - desde o célebre vídeo de "Learn To Fly", a 'cover' dos Foo Fighters gravado em Cesena em 2015 pelos 1.000 músicos, que tem hoje mais de 64 milhões de visualizações no Youtube.
Dessa vez, decidiu-se a tentar a sua sorte e a inscrever-se na plataforma do projeto, tendo sido selecionado para o concerto alemão.
"Foi uma experiência inacreditável. O único concerto que tinha dado até então foi na escola, no secundário, para 30 pessoas e depois em 2019 toquei para 18 mil, no estádio do Eintracht de Frankfurt", recordou.
Depois da estreia, voltou a colaborar com o projeto Rockin'1000 em mais três ocasiões, uma delas no ano passado, em novo concerto de estádio, desta vez no recinto do Atlético de Madrid, "uma experiência também incrível" perante 35 mil espetadores.
Com conhecimentos de bateria, baixo e guitarra, Ricardo Rego opta pelo baixo nas suas inscrições no Rockin'1000, por ser um instrumento, à partida, com menos candidatos e onde alegou ser mais fácil conseguir vaga.
"A coisa que mais marca é a forma como eles [os promotores] conseguem gerir tudo através de uma 'app' [a aplicação informática em que o projeto se sustenta]. Estamos a falar de 1.000 músicos que vão tocar duas horas juntos e o mais que estiveram juntos foi dois dias antes [nos ensaios no estádio], recebem tudo na 'app', os tutoriais, as tablaturas para tocar as músicas e ir ensaiando", explicou.
A aplicação permite ainda que a organização possa gerir as músicas do alinhamento e saber as pessoas "que vão tocando mais ou menos", mas também a realização dos ensaios, com horários distintos para cada instrumento, sem que haja qualquer comunicação verbal com os músicos.
"Depois, no dia, toda a gente chega, instalam-se no relvado, e o incrível é que ao primeiro 'take', pessoas que nunca tocaram juntas tocam a música em perfeita sintonia do princípio ao fim. Às vezes, numa banda é difícil três pessoas tocarem juntas e ali, 1.000 músicos a tocarem juntos, à primeira e bem, foi o que mais me marcou", reafirmou.
A 'app' possui ainda um sistema de quotas, aquando das inscrições, aplicado a cada país que o Rockin'1000 visita, "para dar a oportunidade a músicos locais de participarem", revelou o músico português.
Outro momento que marcou Ricardo Rego foi a primeira vez que ouviu 200 baterias a tocar ao mesmo tempo (para além destas são 300 guitarras, 200 baixos, 50 teclados e 250 cantores), argumentando que todo o recinto vibra.
O repertório desse dia 07 de julho de 2019 foi revelado por Ricardo, com comentários, na Arte Sonora, publicação para a qual assinou um texto a seguir ao concerto de Frankfurt.
Temas dos Nirvana, Led Zeppelin, The Clash, Oasis, Rolling Stones, Bruce Springsteen e Range Against The Machine, entre outros, fizeram parte, na altura, do alinhamento de 18 músicas, em que se incluíam ainda três músicas alemãs (em Leiria também vão existir temas do rock português) que Ricardo Rego desconhecia em absoluto.
Em duas delas, aliás, chegou a desligar o volume do amplificador "porque ia fazer mais bem do que mal", brincou.
"Mas é um desafio e um desafio bom para aprender, diria que qualquer músico de nível médio consegue participar", vincou.