Oddgeir Thune e Helga Guren: o espelho melodramático.
Oddgeir Thune e Helga Guren: o espelho melodramático.

Melodrama familiar em tom norueguês

Até Sempre é a primeira longa-metragem da realizadora norueguesa Lilja Ingolfsdottir e propõe a crónica de um amor “à primeira vista” confrontado com as ilusões dos seus primeiros tempos.
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Cinema norueguês? Sim, sem dúvida. Por vezes com algum atraso, mas vai chegando... Há cerca de dois meses, foi lançado nas salas Armand, o filme de Halfdan Ullmann Tøndel que ganhou o prémio de melhor primeira obra (Câmara de Ouro) no Festival de Cannes de 2024. Agora, podemos descobrir Até Sempre, outra longa-metragem de estreia, da argumentista/realizadora Lilja Ingolfsdottir, também distinguida num festival do ano passado, o de Karlovy Vary, na República Checa, com dois prémios: um especial do Júri, outro de interpretação para a atriz Helga Guren.

Para lá dos limites do nosso conhecimento da atual da produção norueguesa, se há componente que faz sentido sublinhar é, justamente, a qualidade global que encontramos na sua galeria de atores/atrizes. Isso mesmo se pode comprovar através de várias séries que, ao longo dos últimos anos, têm sido difundidas pela RTP2 — recordo apenas o exemplo recente de Fina Finança, seis episódios sobre um drama vivido nos bastidores da elite rica de Oslo.

Até Sempre possui todas as componentes tradicionais de um melodrama familiar centrado nas atribulações de um casal nascido de um amor “à primeira vista”. Assim é a atração de Maria (Helga Guren, precisamente) por Sigmund (Oddgeir Thune), devidamente sublinhada pela voz off com que ela descreve a sedução radical da primeira vez em que viu o seu futuro companheiro... Resumindo, digamos que os elementos do “mundo material” — quatro filhos, dois da anterior relação de Maria, e as frequentes ausências de Sigmund por razões profissionais — vão decompondo a harmonia dos primeiros tempos, lançando o par num processo de confronto no lar que, a certa altura, envolve também uma tentativa de acompanhamento psicológico com resultados incertos.

Dir-se-ia que este é um cinema que vive, antes de tudo o mais, da energia que os seus intérpretes podem emprestar às respetivas personagens. A câmara acompanha-os numa postura que sugere, ou tenta sugerir, um insólito efeito de “improviso”, ainda que, no plano dramatúrgico, os resultados sejam, por vezes, repetitivos e redundantes.

Há mesmo um curioso dado “psicológico”, ainda que quase sempre resolvido de forma esquemática, resultante do aparecimento breve de alguns flashbacks. São apresentados do ponto de vista de Maria (a sua personagem canibaliza toda a narrativa de Até Sempre), e procuram introduzir uma calculada ambivalência emocional: será que ela se recorda do que aconteceu, ou está a construir um “outro” passado que a ajude a enfrentar as novas convulsões do presente? Enfim, fica a revelação de um universo pessoal (segundo as informações da produção, com componentes autobiográficas) que, no plano dramático, poderá ser diversificado e enriquecido.

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