Este ano assinala-se o 80.º aniversário da vitória na Guerra Mundial contra o fascismo. Há mais de 80 anos, enquanto países europeus como o Reino Unido e a França, bem como nações africanas como a Etiópia, combatiam o fascismo alemão e italiano, no distante Oriente, o povo chinês também travava uma resistência tenaz contra o fascismo japonês.A guerra de resistência do povo chinês contra os invasores japoneses durou 14 anos, desde setembro de 1931, com a ocupação completa das três províncias do nordeste da China pelo Japão, até agosto de 1945, quando o Japão anunciou a sua rendição incondicional, e setembro de 1945, quando as forças japonesas na China entregaram formalmente os documentos de rendição ao governo chinês. Culminando finalmente na vitória do povo chinês, esta guerra constituiu uma parte importante da guerra mundial contra o fascismo.Muitos leitores estarão familiarizados com os factos históricos em torno dos diversos métodos brutais empregados pela Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial, causa da morte de dezenas de milhões de pessoas na Europa. Contudo, talvez não estejam tão cientes do que ocorreu na China nesse mesmo período: os invasores fascistas japoneses massacraram indiscriminadamente civis chineses, raptaram trabalhadores, violentaram mulheres, recorreram à guerra bacteriológica e química e perpetraram uma série de atrocidades desumanas, como o Massacre de Nanquim, causando, entre mortos e feridos, mais de 35 milhões de vítimas na China.Quando as províncias do sul da China (Guangdong, Fujian, Guangxi e Hunan) caíram, uma após outra, nas garras do fascismo japonês, a pequena cidade chinesa de Macau, sob administração colonial portuguesa, tornou-se, graças à política de neutralidade de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, a única zona segura do sul da China a salvo da guerra provocada pelo Exército japonês.Zona segura significava que, em Macau, não ocorreram confrontos militares diretos com os invasores japoneses. Mas, quando a China e o povo chinês enfrentavam uma ameaça de vida e morte, os compatriotas de Macau, sem hesitar, ergueram-se com coragem, aproveitando o contexto especial de neutralidade de Macau para criar várias organizações patrióticas de salvação nacional e manter de forma contínua atividades de resistência contra a invasão japonesa.Na época, as atividades públicas de resistência contra o Japão eram proibidas pela administração portuguesa de Macau. Os nomes das associações não podiam conter expressões como “Resistência ao Japão”, “Resistência ao Inimigo” ou “Apoio à Retaguarda”, sendo “Socorro às Vítimas” a expressão usada como substituto..Em agosto de 1937, foi fundada em Macau a Associação dos Quatro Círculos em Socorro às Vítimas, representando os meios académico, desportivo, musical e teatral. Tendo como objetivo “angariar fundos para prestar auxílio e salvar os compatriotas em sofrimento”, a associação reuniu as forças patrióticas juvenis de vários setores da sociedade de Macau e desenvolveu ações de apoio e de salvação nacional.A Associação de Socorro às Vítimas contribuiu para o esforço de resistência sobretudo através da angariação de fundos, organizando, por exemplo, espetáculos e competições desportivas de beneficência com venda de bilhetes, bem como campanhas de venda solidária, envolvendo comerciantes de vários setores de Macau. Entre estas iniciativas destacou-se a venda solidária de 40 dias realizada em 1939, que arrecadou mais de 100 mil patacas, numa altura em que o salário mensal de uma pessoa comum em Macau não excedia algumas patacas.Por ocasião do 1.º aniversário do Incidente de 7 de Julho - o ataque japonês à Ponte de Lugou, também conhecida como Ponte de Marco Polo, em 7 de julho de 1937, marcando o início da invasão total da China pelo Japão -, a associação apelou ao setor da restauração de Macau para confecionar e vender baozi vegetarianos (pães recheados cozidos no vapor) com a inscrição “Não esquecer o dia 7 de julho”, a fim de angariar fundos.Estas iniciativas receberam amplo apoio da sociedade de Macau e o dinheiro e os bens recolhidos eram enviados de forma contínua para apoiar o Exército e a população civil na China continental, na sua luta contra a invasão.Em outubro de 1938, com o avanço do Exército japonês invasor em direção a Cantão, a situação no sul da China tornou-se crítica. A Associação de Socorro às Vítimas criou então uma equipa de serviço, organizando a ida de mais de 160 jovens de Macau à China continental para prestarem apoio nos campos de batalha, sendo que 14 desses jovens acabaram por sacrificar heroicamente a vida.Em dezembro de 1941, com a ocupação de Hong Kong pelo Exército japonês, a Associação de Socorro às Vítimas, sob pressão interna e externa, foi forçada a cessar as suas atividades.A Associação foi um retrato fiel do empenho dos compatriotas de Macau no apoio ativo à pátria na luta contra os invasores fascistas japoneses. Naquela época, com pouco mais de 100 mil habitantes e uma área inferior a 20 quilómetros quadrados, Macau participou, à sua maneira e com sentido de responsabilidade, nesta guerra de defesa nacional num campo de batalha sem chamas de guerra.Passados 80 anos, hoje revisitamos este pequeno fragmento da História de Macau. Ainda que represente apenas um instante na longa trajetória histórica da cidade, o espírito de resiliência nacional e de amor altruísta demonstrado pelos chineses de Macau, que permaneceram solidários com os seus compatriotas em tempos de aflição, merece ser conhecido e recordado por todo o mundo.