Depois de Pedágio, de Carolina Markowicz, e Amo-te Imenso, de Hermano Moreira, co-produções Brasil e Portugal, estão aí a chegar mais dois filmes brasileiros com investimento português. Duas obras selecionadas para os dois maiores festivais da rentrée, Veneza e Toronto. Por detrás destas obras está a Fado Filmes, do produtor Luís Galvão Teles, alguém com firme crença na co-produção entre Brasil e Portugal. .Manas, de Marianna Brennan, vai estar no Festival de Veneza, na secção Dias de Autores e é um mergulho no coração da ilha de Marajó, na selva da Amazónia. Um drama sobre uma rapariga de 13 anos que ao tornar-se mulher tenta libertar-se dos abusos sexuais do seu pai. Uma história inspirada em inúmeros relatos de incesto nessa região..Manas, presente no Festival de Veneza..No TIFF de Toronto, honras de seleção para o thriller sobre o Jogo do Bicho Os Enforcados, baseado em A Tempestade de Shakespeare. É o regresso ao Brasil de Fernando Coimbra, cineasta que aqui apura essa ideia de “suspense carioca”. Um filme marcado por uma extraordinária interpretação de Pêpê Rapazote. Duas co-produções, dois grandes festivais internacionais. É uma espécie de tempestade perfeita para um produtor. Mais do que uma tempestade, uma bonança. Mas os dois filmes, de alguma forma, são tempestades. Confesso que sabe bem, é mesmo muito trabalho. Foram projetos iniciados no período da covid e tiveram todas as dificuldades inerentes a esse período. .Para um produtor, qual a importância destas seleções em Veneza e em Toronto? É importantíssimo! Creio que mostra o nosso desejo de internacionalização e demonstra também a nossa capacidade de levar para a frente projetos tão diferentes entre si. E ficamos muito satisfeitos, é a prova de que o nosso esforço valeu a pena nestes processos tão demorados..Em Os Enforcados há elementos portugueses fortes, como é o caso da presença de Pêpê Rapazote. Isso não deixa de ser uma conquista. Sim, claro, mas neste mundo global de hoje as fronteiras têm um outro sentido. Aliás, as fronteiras culturais às vezes servem para tirar verdade às coisas. Não há que forçar nada... Por exemplo, Os Enforcados passa-se todo no Brasil e, por isso, há que respeitar a verdade do filme e a personagem do Rapazote é meio brasileira e ele já tem feito muita coisa no Brasil. O que é importante nestas co-produções é colocar as valências de cada país. Nós, na Fado Filmes, acreditamos que é possível fazer co-produções com todo o mundo, embora com o Brasil existam mecanismos, como o Luso-Brasileiro que nos ajuda na montagem financeira. Esta ligação ao Brasil faz todo o sentido culturalmente..Os Enforcados, uma hábil história de gangsters brasileiros..Por outro lado, as últimas duas co-produções, Amo-te Imenso e Pedágio não encontraram cá público… Ultimamente tem havido esse fenómeno, em parte devido à forma como o cinema americano vai apagando o outro cinema, mas estou convencido que Os Enforcados é um filme para ter público. .Recentemente, a sua primeira obra, A Confederação (1977) foi exibida em França no Festival Estados Gerais do Documentário. Com esse redescobrir e com o facto de haver uma cópia restaurada sente que o filme ganha uma nova vida? Sim, de facto é outra das coisas boas que nos aconteceu. Só a remasterização em si não chega para dar uma segunda vida ao filme. Mas chegar ao Estados Gerais do Documentário mostra que o filme tem apelo e interesse, sobretudo depois de nestas comemorações do 25 de Abril o filme ter entrado numa espécie de anonimato. .Consegue perceber porque ficou de fora de tantos ciclos?É porque se trata de um filme que apesar de celebrar a Revolução também a questiona..Um pouco a revolução da Revolução? Exato! Nesse sentido, é um pouco incómodo. Já perguntei publicamente se este aniversário é a celebração da Revolução ou a celebração do seu fim..Não sente estranho ser lá fora que o filme é reconhecido e não aqui? É claro que eu poderia ter tentado que houvesse reconhecimento mas decidi não o fazer. O filme existe e as pessoas sabem que existe, se tivessem interesse tinham-no procurado. Mas felizmente está agora disponível na Filmin.