Apesar de ser a sua estreia no palco do Festival de Músicas do Mundo de Sines, Lena d’Água já passou por aquela cidade. “Tenho uma ligação muito do coração com aquela terra. Já não vou a Sines há uma data de anos. Adoro as minhas memórias de adolescente, de ter sido mãe há pouco tempo, daquele parque de campismo maravilhoso, aquele mês de julho que eu passava sempre descalça”, disse a cantora em conversa com o DN.A artista portuguesa irá atuar esta quarta-feira, 23 de julho, no festival de Sines. Para este concerto, pode-se esperar pelas músicas dos novos discos, mas também alguns clássicos como Sempre Que o Amor Me Quiser ou Demagogia, entre outras. “As pessoas ficam sempre à espera das mais conhecidas, mas a base maior são as novas canções, que é aquilo que me faz feliz. Porque as antigas, aquilo está tudo feito. Eu sei que o público gosta muito de cantar essas músicas. Ok, mas isso é só um tempero, porque aquilo que me importa mesmo, é renovar e cantar. Então em Sines teremos três ou quatro das antigas”.Lena d’Água menciona ainda que apesar de nunca ter ido ao Festival Músicas do Mundo, já queria subir àquele palco há alguns anos. “É um festival tão especial, que tem tantos e tantos artistas de todo o mundo. E então, estou mesmo contente. Finalmente, vou lá com a minha nova banda. Estamos a tocar juntos há um ano e meio”.A cantora lançou o disco Tropical Glaciar em novembro do ano passado, depois do disco Desalmadamente, de 2019. As canções dos dois discos são da autoria de Pedro da Silva Martins (Deolinda). Antes de 2019, não gravava originais há alguns anos. Em 1992, lançou um disco para crianças, intitulado Ou isto ou aquilo. Em 2005, gravou um disco ao vivo no Hot Club, intitulado Sempre. Apesar de se encontrar longe do estúdio, nunca deixou o mundo da música. “Nunca deixei de cantar, nem que fosse num bar. Não parei nunca. O que eu não tinha eram originais”, refere Lena D’Àgua, recordando a morte do seu compositor, Luís Pedro Fonseca. “Fiquei sem compositor, porque eu nunca tive aquela ânsia de compor. Depois apareceu o Pedro da Silva Martins, a dizer-me: Ainda vou escrever para ti.E depois foi assim”. Para a artista, voltar ao estúdio foi fácil, referindo que é como andar de bicicleta. “Fiz estúdio durante muitos anos. Comecei a ir ao estúdio nos anos 70. Voltar ao estúdio é a mesma coisa que andar de bicicleta. Se aprendeste a andar de bicicleta aos 10, aos 20, aos 30, e depois estás não sei quantos anos sem andar de bicicleta, não é difícil voltar a andar de bicicleta.”Sobre as músicas que gravou no estúdio para estes dois discos mais recentes, a cantora diz que as canções são maravilhosas. “Para mim é maravilhoso e lindo voltar para o estúdio, por causa das canções que Pedro da Silva Martins fez para mim. O que importa mesmo é a qualidade e a profundidade e é aquilo que eu sinto com as canções que o Pedro escreveu para mim. Voltar ao estúdio é sempre muito fixe, sobretudo quando vais cantar canções incríveis escritas para ti”.Depois do disco Desalmadamente e de uma pandemia, surgiu o segundo disco. “Pedro Silva Martins apresentou-me vinte canções. Eu fiquei logo apaixonada por uma série delas. Depois, acertar quem é que vai gravar... Só começámos a gravar em 2022, até 2023. E depois o disco finalmente ficou pronto e saiu em 2024. É uma espera grande a saber o valor e a maravilha que são estas canções. O primeiro single foi O Que Fomos e O Que Somos”, acrescenta.Sobre a possibilidade de um terceiro disco com Pedro da Silva Martins, Lena d’Água refere que poderá acontecer. “Agora em Sines vou-lhe perguntar sobre essa possibilidade, mas há vontade de acontecer”. A cantora irá celebrar 50 anos de carreira no próximo ano. Lena D’Água estreou-se em palco no liceu de Sintra, em maio de 1976, com a banda Beatnicks. No início dos anos 1980, integrou também o grupo Salada de Frutas. Nestes 50 anos muito mudou no mundo da música. A artista menciona o desaparecimento dos discos. “Já se estava mesmo a ver que aquilo ia acontecer. Quando vem a internet e o Spotify, as pessoas começam a ouvir as músicas lá. A partir de uma certa altura, quem gosta mesmo do artista, quem curte mesmo ouvir e ter na mão, seja um CD, seja um vinil, vai comprar. Só mesmo quem te ama, quem adora as tuas canções é que vai comprar. O que mudou fortemente é que os discos já não se vendem, seja vinil ou seja CD”, diz a artista, acrescentando que se vende “muito pouco, é mesmo só para os fãs. Por isso é que nós, já há um tempo, começámos a vender os discos que não estão nas lojas, mas quando vamos fazer concertos. Temos sempre vinis e CD, porque nas lojas não vale a pena”. .Festival Músicas do Mundo instala-se em Sines para maratona de 39 concertos