Quando olhamos para o cartaz de Landman, que nomes se encontram no topo? “Billy Bob Thornton, Demi Moore, Jon Hamm”. Já iremos ao caso do estupendo Thornton. Antes, fica a pergunta ingénua sobre o que justificará o destaque de Moore e Hamm quando, ao fim dos três primeiros episódios (de um total de 10) disponibilizados à imprensa, se contam literalmente pelos dedos as suas aparições no ecrã: Moore é vista ao longe a dar umas braçadas na piscina da sua mansão e a torcer pela filha numa competição de atletismo, em ambas as ocasiões mal pronunciando duas frases seguidas; enquanto Hamm, a lembrar os tempos da vida de escritório que o tornaram famoso em Madmen, tem pouco mais do que umas cenas ao telefone, a enervar-se com os negócios... Ah, e uma em que a esposa, interpretada por Moore, justamente, lhe diz que ele devia fazer mais exercício físico (curiosa dica)..A não ser que nos próximos episódios haja uma grande inversão da narrativa, da qual não existe pré-aviso, é quase desconcertante o tom de adereço a que se vota a presença da atriz, ainda há pouco regressada aos cinemas com aclamação, numa performance bombástica em A Substância. Enfim, veremos como evolui, mas a série não tem propriamente a seu favor uma sensibilidade específica para com as personagens femininas... É dar uma chance e esperar pela gota semanal dos episódios..Demi Moore e Jon Hamm, as “estrelas convidadas”..Sacudidas estas imprecisões irritantes da comunicação de um título de streaming, vamos ao que interessa: Landman, que acaba de chegar à SkyShowtime, lança o espectador de chofre nas paisagens secas do Texas para descrever, à boa maneira do seu criador, Taylor Sheridan (nome por detrás de Yellowstone, Mayor of Kingstown, Tulsa King...), um ambiente e um negócio que definem uma certa América conservadora, de talhe masculino, onde se pressentem os modelos do Velho Oeste. Baseando-se no podcast Boomtown, de Christian Wallace, cocriador, a série parte assim de uma experiência em primeira mão que valoriza, sem dúvida, todas as manobras laborais aqui representadas, dentro de um universo que não costuma ser visitado pelas câmaras..O cowboy dos sete ofícios .Falamos da indústria do petróleo, e do seu lugar num mundo, inclusive, marcado pela discussão das alterações climáticas. À cabeça deste cenário está Billy Bob Thornton: ele é Tommy Norris, o “faz-tudo” de uma empresa petrolífera independente liderada pelo milionário Monty Miller (Jon Hamm, pois claro), que recebe as más notícias por telefone do lado de cá da realidade urbana, deixando tudo às costas desse insuperável representante no terreno. .E más notícias é o que não falta no dia a dia de um trabalho cheio de perigos associados, com uma mão-de-obra altamente exposta - a verdade é que ninguém quereria estar na pele daquela personagem que lida com a polícia local no mesmo registo de desenvoltura com que se livrou de uma bala na cabeça diante do responsável de um cartel (com quem, aliás, assegurou um acordo de arrendamento de propriedade), antes ainda de ter uma advogada à perna devido às tragédias ocorridas nos últimos tempos..Sem freio nas palavras que lhe saem da boca, Thornton é o alicerce de Landman, em todos os sentidos. Um ator tão firme na sua atitude de sarcasmo com bom coração (um bocadinho Humphrey Bogart) que, mesmo nos momentos em que a série revela uma escrita mais desleixada, consegue repor o estilo necessário para nos manter sintonizados. .Isto acontece, sobretudo, quando aparecem em cena a ex-mulher e a filha de Norris, personagens que se contentam alegremente com o estereótipo da “loira boazona sem objetivos de vida para além de biquínis e selfies”... É um elemento cómico que se assimila com a passagem dos episódios, por vezes bastante efetivo, mas está muito dependente da interação com o cowboy de Thornton, que sabe navegar toda aquela futilidade com um divertido jogo de cintura e pinta de voz sábia..Quem segue as produções do império televisivo de Taylor Sheridan encontrará o que sempre se promete no seu argumentário: uma visão da América onde as histórias de enriquecimento rápido permitem uma leitura moderna e aguda da realidade, ao mesmo tempo que o gesto respeitoso de tirar o chapéu ecoa um tipo de ficção cada vez mais longínqua.