“Estou aqui 25 anos depois porque o público me acarinha, me segue, me quer e porque aquilo que eu tenho feito continua a inspirar pessoas”, diz a fadista Katia Guerreiro ao falar sobre os 25 anos de carreira. Uma marca que a cantora portuguesa celebra hoje com um concerto especial no Centro Cultural de Belém. Durante o espetáculo a artista vai passar pelos 25 anos da sua história e vai apresentar alguns convidados. “Não revelo [quem são] porque acho que este concerto foi todo preparado para presentear o público que por estes 25 anos em que os tenho tido ao meu lado”, menciona a artista em conversa com o DN, acrescentando que “vai ser uma celebração dos poetas, das pessoas que são inspiração desde sempre na minha vida, até desde pequenina, inspiração nas minhas raízes e a celebração de amizades com pessoas que são altamente inspiradoras para aquilo que eu faço”. O reportório musical do concerto vai contar com músicas do seu primeiro disco lançado 2001, Fado Maior, até ao seu último single Capitães de Areia, que foi oferecido a Katia Guerreiro pelo Tóli César Machado e é num registo diferente. “É um bocadinho fora do Fado”. O inícioO Fado era para ser uma fase transitória na sua vida. Katia Guerreiro ainda estava a estudar medicina, quando foi convidada por João Braga para participar numa homenagem a Amália Rodrigues no Coliseu dos Recreios, em 2000. “Tinha os meus planos muito definidos na altura. Tive seis anos na faculdade a estudar, estava muito empenhada em começar a minha carreira médica e, portanto, eu iria seguir aquele caminho que eu tinha definido. Entretanto, o Fado virou a minha vida e acabei por não entrar para a especialidade porque queria aproveitar aquilo que o Fado me estava a trazer. Achei que seria importante aproveitar a oportunidade que me tinha sido dada”, explica a artista em conversa com o DN, acrescentando que foi querendo melhorar e foi sendo cada vez mais solicitada. “Aqui estou, surpreendentemente, 25 anos depois, a querer ficar aqui”. Desde pequena que o Fado lhe chamava a atenção. “Fazia-me parar quando estava a brincar porque ouvia uma guitarra portuguesa ou porque ouvia a voz da Amália. Ouvia Fado sozinha porque ninguém mais da minha geração ouvia”.Aos 15 anos foi vocalista de um rancho folclórico. Foi com essa mesma idade que teve a primeira experiência de ouvir fado ao vivo e aos 18 anos que começou a frequentar casas de fado. “Eu ouvia sempre de uma forma muito recatada. Foi quando eu comecei a frequentar algumas casas de Fado, vadio no Bairro Alto. Não ia para grandes casas profissionais, até porque como estudante não tinha dinheiro para isso, mas gostava muito de ir com alguns colegas que também gostavam, portanto encontrei essa afinidade com novos amigos que fui fazendo”, sublinha a fadista. Katia Guerreiro relembra em conversa com o DN o momento de quando foi descoberta. “Pegam-me pelo braço e perguntam: ‘o que é que estás a fazer?’. Ao que eu respondo: estou a acabar o curso de medicina. E dizem-me: ‘não, agora não vais ser médica’. Até que depois, entretanto, veio o convite do João Braga para ir ao Coliseu e tudo mudou”. Em outubro do ano 2000, atuou no concerto de homenagem a Amália Rodrigues. Um espetáculo, onde encantou a audiência e foi considerada a melhor atuação da noite.Ao longo destes 25 anos, Katia Guerreiro afirma que hoje os jovens prestam mais atenção ao Fado. “Com as novas sonoridades que se vão juntando ao Fado, as camadas mais jovens agarram-se. No entanto, hoje há também uma nova geração de ouvintes e de cantores que vão à procura, outra vez, do Fado tradicional. Portanto, vão sendo ciclos que se vão repetindo, no fundo, porque o Fado não tem tendência nenhuma a morrer, tem tendência a ir ganhando novos intérpretes e novos sabores”. Para as gerações mais novas de fadistas, a cantora deixa um conselho: serem verdadeiros e irem sem pressas. “Que sejam verdadeiros naquilo que se faz. Sem verdade não há Fado. Não tenham pressa, porque o caminho constrói-se passo a passo. A pressa às vezes leva a erros completamente desnecessários”. Os bilhetes para o concerto variam entre 12,50 e 25 euros. .Jeferson Tenório. “O discurso da extrema-direita é muito sedutor para o jovem da periferia"