"Juanito" foi Rei e Senhor na Moita do Ribatejo
Nas Feiras de Setembro já se sonha com as sementeiras que lá para a Primavera e Verão darão os seus frutos. São feiras que reúnem milhares de pessoas quando o Verão já barbeia as tábuas, mas setembro continua a ser o mês das feiras: das feiras taurinas, com a sementeira já delineada no horizonte. É um bom momento para semear. O ideal. E houve algumas sementeiras nesta Feira que virão a dar boa colheita no futuro ano.
No período que antecedeu a Feira da Moita, vários sonhos invadiram a mente de quem queria assistir às corridas programadas, foi pomposa e brilhante a cartelaria apresentada pela empresa Tauroleve. Com a maioria das corridas anunciadas como um evento, com interesse maior. Mas em setembro por vezes o São Pedro prega partidas e este ano uma tal de "Danielle" veio estragar os primeiros dias da Feira da Senhora da Boa Viagem. A empresa teve de ter uma reação atempada e minorar o que temporal iria causar em termos taurinos. De três corridas e uma novilhada de promoção aos novos valores, passamos a duas corridas quase e meia e a uma novilhada. Ou seja, das corridas de terça e quarta fez-se uma no sábado, com quase todo o elenco das outras duas, faltando só os matadores António Ferrera e Daniel Luque.
Enquanto se aguardava a saída primeiro toiro da noite no sábado, podemos verificar o ambiente formidável que a Daniel Nascimento apresentava: Uma grande entrada de público. Noite de verão. A expectativa era máxima!
O cartel era diferente mas de grande interesse. Duas ganadarias alentejanas de prestígio máximo, Murteira Grave para a lide a pé e Passanha para a lide a cavalo. João Salgueiro e João Ribeiro Telles. Joaquim Ribeiro Cuqui e João Silva Juanito. Forcados Amadores da Moita na despedida do seu cabo Pedro Raposo. Mas por vezes as expectativas não se realizam no seu todo. Foi uma má corrida, longe disso... Houve triunfos, sem dúvida, de Juanito e dos Amadores da Moita. E um Salgueiro a gosto e a fazer desfrutar os presentes com o perfume do seu toureio. Cuqui no seu segundo mostrou aos presentes as suas credenciais e João Ribeiro Telles bailou com a mais feia sem sorte no lote, ou melhor dizendo sem sorte no seu segundo para poder redondear a noite e a Feira.
Os públicos são, por definição, um colossal tumulto de opiniões, na maioria das vezes absolutamente antagónicas, mas quem paga manda e tem opinião, mesmo que por vezes sejam dessemelhantes. Na Moita no passado sábado assistiu-se a isso a quando da lide do sexto toiro... O Passanha saiu algo dormente das mãos... parecendo coxear, o diretor de corrida deu um toque de aviso para se "mexer no toiro" para ajuizar do seu estado físico. Entendeu a direção de corrida que o animal tinha condições para a lide... Assim não o entendeu o respeitável público que abroncou forte a sua presença na praça. João Ribeiro Telles deu-lhe a lide que entendeu dois compridos e dois curtos. Sempre debaixo de assobios que lhe eram alheios, entendo a sua breve lide, a culpa do toiro estar na arena não era sua. Foi pegado este exemplar pelos amadores da Moita, pois o diretor e bem deu a lide por realizada e uma ovação de luxo aos forcados surgiu das bancadas... Coisas antagónicas de públicos...
Como disse anteriormente foram lidados toiros de duas ganadarias. Os de Passanha corretos de apresentação, foram nobres, andaram pelo caminho deles sem incomodar cavaleiros, bandarilheiros e forcados. Para a lide a pé de Murteira Grave também corretos de apresentação, rematados de carnes. De comportamento variado: Sem fundo e muito a menos o que fez terceiro; encastado mas com pouca classe o quarto; Nobre e com som o quinto. Com raça o humilhado e bonito sexto.
João Salgueiro é a grandeza do improvável havendo uma ligação com a estética; do limite do impossível ao risco máximo, feito de forma simples, sem esforço aparente. Salgueiro e António Ribeiro Telles foram os grandes arquitetos dos anos 90 da arte de bem tourear a cavalo. Assim foi esta Feira, António na quinta e sábado com Salgueiro.
Não vou descrever as atuações do de Valada, foram lides onde uma conjunção de ritmos, o ato de templar as acometidas dos toiros com uma série de movimentos graciosos, capazes de cativar o próprio animal e, claro, quem o contempla foram um verdadeiro deleite... Cravando os ferros onde esteve sempre presente a sua marca.
João Ribeiro Telles na lide do segundo da noite esteve em grande plano! Bem a cravar os compridos de poder a poder, rematados em curto, com bonitos recortes toureiros. Nos curtos houve domínio, plasticidade, elegância suprema ou uma "facilidade difícil" quando executa as sortes. Entrou em terrenos de compromisso, pondo alguma chama à sua atuação, visto que o toiro vinha a menos, dentro da sua nobreza. O público gostou do acontecido na arena e aplaudiu.
Na lide a pé, Joaquim Ribeiro "Cuqui", recebeu o seu toiro com uma larga de joelhos, depois desenhou, com bonitos lances de capote. Cravou três pares de bandarilhas de boa nota. Na muleta pouco há que contar, apenas a disposição do toureiro diante de um Murteira que entregou la cuchara demasiado pronto.
No sétimo da noite bonitas foram as verónicas com que recebeu o seu oponente, rematando com uma larga à pés juntos. Novamente brilhou em bandarilhas. Na muleta tentou conduzir a nobre investida do animal com temple. Uma série de naturales, arremessando a bamba da muleta ao focinho e rematando com um de peito, sendo um dos momentos altos da faena. Também uma série em redondo, sólida e apertada, desatou os olés do público. Alguns muletazos soltos tiveram ritmo lento, de grande expressão e plasticidade. Lide de entrega muito acarinhada pelo público da Daniel Nascimento.
Juanito veio a por todas e levou o triunfo da noite! João foi a ligação com a estética, do limite do impossível com risco máximo, quando feito de forma simples, sem esforço aparente. Recebeu por verónicas, rematando com meia. Na muleta o bem tourear esteve presente, aqui e ali, com a direita e com aquela outra, em redondo ou ao natural, rematando com os de peito, ou por baixo. Todas as séries extremamente ligadas, carregando a sorte com a cintura, que como toda a vida se carregou a sorte nisto do toureio. Finalizou a faena por manoletinas que chegaram com força às bancadas. João Ferreira recebeu uma ovação, valendo-lhe agradecer, pelos dois bons pares de bandarilhas deixados a este toiro.
No oitavo da noite verónicas de luxo e meia de cartaz de toiros! Chegou o Murteira Grave temperamental à muleta, pedia mando e submissão. E foi precisamente essa a receita que o João lhe deu. Novamente a música envolveu o ambiente e uma grande faena, surgindo novamente o ambiente das grandes noites. O toiro não permitiu o menor descuido, os bravos têm destas coisas... Faena onde, misturou a suavidade e contundência nos muletazos. Deixou a muleta na distância certa, com toque preciso, sem violência, mas com firmeza. Em redondo houve temple e ligação, alcançando um elevado ponto emocional por parte dos presentes, havendo perfeita comunhão entre toiro e toureiro. Os naturais tiveram traço largo, rematados com passes de peito levando o toiro embarcado na muleta, desde baixo rematando de piton a rabo. Público de pé!
Noite grande para os Amadores da Moita, onde se despedia o seu cabo Pedro Raposo. Nas cortesias, a arena preenchida por dezenas de antigos elementos do grupo na noite do adeus do Pedro.
Pedro Raposo abriu praça pegando, com brilhantismo e garra, o primeiro Passanha, ao primeiro intento, muito bem ajudado pelo grupo. Depois da sua última pega Pedro Raposo despiu a jaqueta no centro da arena e passou o testemunho a seu irmão, João Raposo sendo levado em ombros na tradicional volta de despedida à arena. O novo cabo João Raposo à primeira tentativa, com o grupo a ajudar bem. Fábio Silva enfrentou duros derrotes para consumar a pega do quinto toiro à terceira tentativa. A quarta pega, ao sexto toiro, à primeira por David Solo, grupo a entrar a tempo sendo consumada a sorte.
Praça de Toiros Daniel do Nascimento (Moita), 17.09.2022
Dirigiu a corrida Ricardo Dias, sendo médico veterinário Carlos Santos.
Ganadarias: Quatro toiros da ganadaria Passanha (para a lide a cavalo) Correctos apresentação e nobres de comportamento. Quatro toiros de Murteira Grave (para a lide a pé) Bem apresentados. Terceiro nobre mas com pouco fundo, muito a menos. Quarto encastado mas com pouca classe. Sétimo nobre. Oitavo nobre e encastado, bom toiro.
Cavaleiros: João Salgueiro, Volta e Volta. João Ribeiro Telles, Volta e Silêncio.
Matadores: Joaquim Ribeiro "Cuqui", Volta e Volta; João Silva "Juanito", Volta e Volta.
Forcados: Amadores da Moita; Pedro Raposo, volta e volta a ombros na noite da sua despedida. João Raposo: Volta; Fábio Silva: Volta; David Solo: Volta.