Depois de The Brave, exibido e humilhado em Cannes em 1997, Johnny Depp volta à realização, supostamente por intimação do amigo Al Pacino, também ele no elenco deste Modi - Three Days on the Wing of Madness, biopic sobre Amadeo Modigliani, génio da pintura que viveu uma vida de miséria em Paris sem nunca ter visto a sua obra reconhecida..O que se pode dizer é que agora desce ainda mais um degrau… Exibido fora-de-competição foi o filme que mais consenso negativo gerou entre os críticos presentes em S. Sebastián. Uma visão tosca e truculenta sobre a existência de penúria do pintor italiano em Paris depois de fugir à polícia quando partiu uma vitrine de um reputado café da cidade. Com bocados de cinema mudo a preto & branco (homenagem estúpida ao espírito chaplinesco) e abundância de uma visão estereotipada da Paris da Belle Époque, Depp apostou numa exaltação da aura boémia com um humor barroco sempre irritante, sotaques estrangeiros ingleses de nos colocar o cabelo em pé e um sentido de absurdo do mais infantil que se pode pensar. De pintura e arte fala-se e mostra-se pouco, apenas aquele cliché da personificação do “artista torturado”..Antes de ser arrasado pela crítica, Depp teve azar na ação promocional. Na manhã em que se ia encontrar com um grupo de jornalistas internacionais, atrasou-se e os seus representantes propuseram cortar o tempo das entrevistas, algo que desagradou aos jornalistas que, em ação de protesto, deixaram as instalações do Hotel Maria Cristina sem se encontraram com o realizador estrela. Horas depois, publicações internacionais enchiam as parangonas com títulos como “Johnny Depp abandonado pelos jornalistas”….Por acaso, o DN encontrava-se nesse grupo que tomou essa decisão em protesto pela forma como cada vez mais as estrelas americanas dão menos tempo de acesso à imprensa. Também por acaso, Depp, antes de se atrasar, cumprimentava-me simpaticamente e dizia “já volto, meu amigo”. Não voltou a tempo. .San Sebastián