James Cameron: O ambientalista construtivo

Depois de <em>Avatar</em>, mais <em>Avatar</em>. Entre o original e a sequela, que se estreia nos próximos dias, o realizador canadiano fez uma "especialização" em matéria ambiental.
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Treze anos sem um crédito de realização, e aí está... Avatar: O Caminho da Água marca o tão aguardado regresso de James Cameron ao lugar onde foi feliz em 2009, quando o primeiro Avatar bateu recordes de bilheteira. Porquê só agora? O que andou a fazer em pouco mais de uma década? Para responder a estas perguntas é preciso recuar ao contexto dessa estreia, quando a 20th Century Fox, muito entusiasmada com a hipótese de uma sequela imediata, esbarrou num Cameron cauteloso: "Não sei se quero seguir de novo este caminho. Temos de estar, literalmente, entre os cinco filmes de maior bilheteira da história para ter sucesso. É um objetivo ridículo". Assim recorda o realizador, numa entrevista recente à publicação The Hollywood Reporter, a sua atitude perante a extraordinária performance de Avatar.

Por essa altura, Cameron estava bem mais interessado em expandir conhecimentos e técnicas no âmbito da exploração oceânica e da sustentabilidade ambiental. Uma dessas paixões estabeleceu outro marco na sua vida: em 2012, justamente, o realizador de O Abismo, tornou-se a primeira pessoa a completar um mergulho no ponto mais profundo dos oceanos, a Fossa das Marianas, dentro de um submarino com um cockpit de 43 polegadas, por ele projetado em parceria com a National Geographic Society.

Nestas circunstâncias, será que queria mesmo voltar para trás das câmaras e, especialmente, fazer outro Avatar? Por enquanto, estava a divertir-se imenso; as aventuras do grande ecrã podiam esperar.

Como produtor, o contributo que deu ao cinema nestes últimos anos resume-se a um objeto cyberpunk de Robert Rodriguez, Alita: Anjo de Combate, e ao último Exterminador Implacável - Destino Sombrio, ambos de 2019.

A sua grande ocupação traduziu-se, definitivamente, em séries de temática ambiental, desde Years of Living Dangerously (2014-2016) a Secrets of the Whales (2021) e Supernatural Planet (2022), com um desvio em Story of Science Fiction (2018), esse género de eleição, aqui escrutinado também por Spielberg, Ridley Scott, George Lucas e outros ilustres praticantes.

Foi então este caminho que o levou de volta a Avatar, mais ou menos pelo seguinte raciocínio: se o filme de maior bilheteira é um filme que nos "pede para chorar por uma árvore", então o público de 2022 não só está mais consciente de um tema inevitável, como, por outro lado, se encontra mais absorvido num modo de vida urbano que o afastou do mundo natural.

Cameron chama-lhe "distúrbio de déficit de natureza", e acaba por ser a isso que O Caminho da Água vem dar resposta. Um filme que não tenciona fazer soar os alarmes sobre as alterações climáticas (nem é preciso), mas sim apresentar vias alternativas, sugerir escolhas construtivas.

Para o cineasta canadiano, passámos do oito para o oitenta: "Saltámos da negação completa [das alterações climáticas] para a aceitação fatalista, e perdemos o meio termo". Esse meio termo, que estará espelhado no filme, recusa um olhar sombrio - não contem com pessimismos por parte de James Cameron.

dnot@dn.pt

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