Porquê a escolha do nome Éter para o disco de estreia? Escolhi este título porque o disco tem um conceito específico, e tenta criar uma atmosfera sonora, muito virado para o mundo dos sonhos e das ideias. A palavra éter tinha dois significados: era um quinto elemento na área da ciência e, ao mesmo tempo, era também considerado uma atmosfera acima das estrelas e uma coisa subjetiva. O disco foca-se nesta dualidade do mundo das ideias e do mundo concreto, do mundo real. É muito em redor do sonho, da ilusão, da desilusão e dos sentidos.E porque essa decisão de “dualidade”? Sempre gostei muito de Filosofia, se eu não tivesse seguido Música provavelmente era a área que iria seguir. Queria um tema que fosse algo com o qual me identificasse e este álbum acaba por refletir muito um processo de mudança pessoal. A questão do sonho é muito real na minha vida e, por isso, inspirei-me em Platão, que fala dessa teoria das ideias. É ele que diz que nós criamos uma ideia de uma coisa na nossa mente e depois, através dos sentidos, podemos percebê-la e torná-la em algo concreto. Achei muito interessante essa ideia..O disco parece estar dividido em duas partes: uma mais alegre, pop, eletrónica; e outra mais melancólica. As músicas foram organizadas seguindo esta lógica?As primeiras seis músicas são sobre o sonho e a imaginação. O disco começa precisamente pela introdução, Éter, depois vai para o Cérebro, que é a segunda faixa. Esta foca-se nas ideias, como é que vai tudo parar ao meu cérebro e como é que eu depois consigo interagir com o mundo. A terceira música chama-se Impulso e fala sobre o corpo, ou seja, como nós cedemos aos estímulos. Tentei aprofundar essa temática o máximo possível. Depois, a partir do interlúdio as músicas focam-se nos meus sentidos e na parte dura da vida. .Como foi o processo criativo?Eu sabia o que queria. O objetivo era tentar encontrar uma sonoridade bastante diferente do que já tinha feito. Peguei no computador, tive as primeiras ideias e concretizei-as. Senti que tive muito mais controlo a idealizar tudo. Depois, entreguei a um produtor que colocou aquilo num nível mais profissional. .Cantora Inês Apenas.Créditos: Gerardo Santos.Ao longo do disco existem várias colaborações com artistas. De Milhanas a Irma, Malva e Left. Como é que surgiram?Durante muito tempo pensava que trabalhava melhor sozinha. Mas comecei a perceber, ao longo do tempo, com as colaborações que fazia, que conseguia partilhar a minha arte com outras pessoas que admiro. Por exemplo, a Milhanas é uma pessoa que tem uma voz incrível e, no álbum, senti que havia uma faixa específica - a Lágrimas Velhas - que só podia ser ela a cantar. As colaborações com a Malva e o Left surgiram naturalmente, porque são meus amigos. Aliás, o Left foi a primeira pessoa que conheci na indústria da música. Já com a Irma acabou por ser uma junção muito bonita e muito natural. Juntámos um bocadinho da nossa dor comum e fizemos uma canção muito especial - Se ao Menos. .Sobre o interlúdio de Requiem tem a participação do escritor João Tordo ...Foi um privilégio enorme a participação dele. O João Tordo já tinha ouvido a minha música e até foi ele que falou comigo pela primeira vez..., nem queria acreditar, porque sempre li os seus livros. Acabei por lhe dizer que precisava de um tema diferente. Ele gostou muito da ideia e acabou por escrever um texto unicamente para o disco, para esse tema [Requiem] e por dar voz, onde o acompanho ao piano. Foi muito especial e assim acabei também por juntar um bocadinho outras artes à música. .Estão programados concertos para dezembro e janeiro em Lisboa, Aveiro e Leiria. O vai acontecer nestes espetáculos?Como é um disco novo, obrigou-me a fazer um espetáculo novo. Vai ser muito bonito, vai ter muitas surpresas e as colaborações vão lá estar. .A música foi sempre uma paixão? Nasci em Paris, mas vim muito cedo para Portugal, com 3 anos. No entanto, lembro-me perfeitamente de ouvir no carro muitas músicas em francês e começar a cantar. Sempre que os meus pais desligavam a música pedia-lhes para colocarem novamente. Entre os 11 e os 12, comecei a tocar piano, mas fui um bocadinho obrigada, estava muito mais inclinada para a guitarra. Mas às tantas desbloqueei ali qualquer coisa e tocar piano passou a ser um “lugar seguro”. Depois acabei por ir para a universidade, no Porto, onde estudei música durante quatro anos.