Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy), a princesa herdeira.
Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy), a princesa herdeira.

'House of the Dragon': a hora das mulheres e dos dragões

É o primeiro grande lançamento da rebatizada plataforma Max e vem com promessas de mais ação. Que é como quem diz: mais tempo de antena para os dragões. Depois da morte de um soberano, a segunda temporada de 'House of the Dragon' prepara-se para guerrear.
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Estamos sempre à procura de um novo sucesso gigantesco. É “inevitável”, como diz uma ou outra personagem da nova temporada de House of the Dragon em relação à guerra.  Estamos sempre focados num recorde, numa marca absoluta de grandeza. A mesma grandeza atingida pela série A Guerra dos Tronos, que positivamente lança a sua sombra sobre esta prequela também nascida do universo literário de George R.R. Martin, ou melhor, um spin-off que, entre a página e o ecrã, parece estar a ser treinado como um dragão... Em 2022, House of the Dragon arrancou bem. Na verdade, muito bem, renovando a crença no triunfo da fantasia épica como género televisivo capaz de agregar espectadores, no sentido de uma conversa coletiva. E, por isso, era inevitável: cá estamos para uma segunda dose (já sob o efeito do anúncio de uma terceira), a apontar para a meta da viciante grandeza.

Em estreia esta segunda-feira na Max, o novo capítulo da série criada por Ryan Condal e o próprio George R.R. Martin regressa ao mundo de Westeros com a intenção de apertar os laços de animosidade, agravar o enredo e levantar voo. Sente-se uma atmosfera de metal, um prenúncio de guerra, que aproveita todos os elementos de tensão, desde os erros graves nas jogadas de poder aos sinais preocupantes de que, um pouco por toda a parte, vingança e ambição andam de mãos dadas, e podem ser uma combinação explosiva. Dos quatro episódios disponibilizados à imprensa (são oito no total, menos dois do que a temporada anterior) retira-se um novo ritmo, muito marcado por decisões humanas impulsivas e ações precipitadas. Uma coisa é certa: vão rolar cabeças. O tempo de “uma réstia de dignidade” acabou.

Um trono a ferro e fogo

A primeira temporada de House of the Dragon foi claramente um percurso de contextualização, uma forma de colocar as peças no tabuleiro de xadrez e estabelecer a dinâmica das personagens, para depois as antagonizar ou provocar alianças. Começava-se com a problemática do herdeiro, a importância de nomear um sucessor para o rei Viserys I, da Casa Targaryen – este nomeou a filha Rhaenyra –, e terminava-se com a morte arrastada desse rei, cuja esposa dos últimos anos se convenceu do direito inequívoco do seu primogénito ao trono, usurpando o poder quando o corpo do defunto soberano ainda nem tinha arrefecido. Nessa altura jogava-se em casa, por assim dizer.

Ao contrário da segunda temporada, que se divide em dois polos, dois conselhos, acima de tudo, duas mulheres outrora confidentes, mas separadas pela natureza cruel dos esquemas palacianos.

Esta é, no fim de contas, a hora suprema de Emma D’Arcy e Olivia Cooke, respetivamente, a princesa Rhaenyra Targaryen e a rainha viúva Alicent Hightower, mãe do proclamado sucessor Aegon Targaryen. Duas frentes de uma iminente guerra civil, que levará ainda a um maior protagonismo dos dragões, essas criaturas que figuravam com parcimónia nos 10 primeiros episódios de House of the Dragon, tornando-se agora um ponto de convergência: é ver o que acontece no coração de um dos episódios da primeira metade (não se pode revelar qual), quando a dança violenta desses seres mitológicos se evidencia como um espetáculo de emoções contraditórias.

Dir-se-ia que esta é a temporada das mulheres e dos dragões. Por um lado, mostrando que as personagens femininas se reforçam como agentes de complexidade (nos termos da estratégia política mas também nas relações íntimas; longe ficou a frase da mãe de Rhaenyra: “O parto é o nosso campo de batalha”), por outro, procurando nos monstros fantásticos o vigor do escapismo que distingue as séries deste calibre de produção. Os dragões e o seu hálito de fogo, usados como arma de guerra, conferem uma qualidade de fábula a um mundo que, de outro modo, se cingiria à violência e tragédia shakespeariana. A grandeza, neste caso, tem muito que ver com a fantasia. E como escreve George R.R. Martin, “nem todos os homens foram feitos para dançar com os dragões”.

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